Restaurada, Biblioteca Municipal deve ser reaberta no próximo mês

O secretário de Cultura, David Massena, recebeu a reportagem de A VOZ DA SERRA para prestar informações a respeito do andamento das obras na Biblioteca Municipal, e também explicar quais as mudanças que estão sendo implementadas. O resultado pode ser conferido no depoimento abaixo.

"Antes de mais nada, é muito importante deixar claro que a biblioteca só será reaberta ao público após passar pelo mais rigoroso processo de desinfecção e desfungisação, feito através de doação pela empresa Supply Brasil, do empresário friburguense Alessandro Donin. O procedimento utilizado é o mesmo aplicado a salas de cirurgias, e essa é uma questão muito importante, pois são várias as doenças que podem ser causadas por livros não higienizados, e nós temos vários casos de livros nessas condições. Quanto a essas obras, a maior parte do acervo contaminado está sendo incinerado, porque são obras sem maior importância. Outras, como livros esgotados, que contam a história de Friburgo ou foram doados na primeira metade do século XX por personagens de nossa história, estão sendo separadas, pois vão ser higienizadas e doadas ao Pró-Memória, uma vez que lá existe uma estrutura de climatização, que cuida da preservação deste material e evita nova contaminação.”

"O grande problema da biblioteca é que ela não é informatizada, e por isso não entra nos sistemas nacional e estadual de bibliotecas. Então este é um acervo que ao longo dos últimos anos tem sido manipulado sem a responsabilidade técnica de uma bibliotecária. Ao longo desse processo de higienização e verificação do acervo descobrimos uma série de erros, como livros que foram para as estantes sem a devida catalogação. Deste modo o exemplar não entrava para o patrimônio da biblioteca, mas estava lá, sendo utilizado sem o menor controle. Claro, nosso entendimento é de que o livro é um bem de consumo, mas é preciso ter um respeito em relação ao munícipe, pois isso aqui é um patrimônio público. Agora tudo isso está sendo revisto. Nós temos a Ângela Affonso, que é uma bibliotecária com trinta anos de experiência, e estamos em processo de verificação de um software, o Biblivre, que vai ser implantado aqui. Óbvio que é um processo demorado porque demanda a migração dos dados que nós temos em tabela de Excel, que é um numerário, não um editor de texto. Por isso não é possível migrar diretamente, mas nós vamos nos esforçar para concluir até julho essa informatização de todo o acervo. Isso vai facilitar inclusive a manipulação técnica do livro desde a doação até a prateleira, porque atualmente dependemos de um processamento técnico feito em papel, ficha e datilografia. Para que se tenha uma ideia, há livros para os quais é preciso datilografar dez fichas, às vezes até mais. Esse processo toma muito tempo e demanda a manutenção de um catálogo de fichas. Já com o sistema digital tudo isso é eliminado, tornando possível poupar espaço, tempo, e agilizar o acesso ao acervo. Sem mencionar que, como tudo vai ser feito no sistema, poderemos eliminar papel, e com isso também fungos, cupins, e traças.”

"Alguns livros estão sendo descartados por excesso de cópias – existem registros de livros com até 32 exemplares. Nestes casos nós estamos preservando as edições mais recentes, separando três ou quatro, que bastam para atender a demanda segundo as normas técnicas. Para os volumes restantes nós vamos criar a estante do livro livre, abrigando os exemplares que estão em bom estado, livros de referência, que temos em quantidade absurda. A pessoa que se interessar vai poder pegar e levar para casa, e essa é uma forma de fazer o livro circular, sem condená-lo à morte. Esses livros estão recebendo todos os reparos, como os que vão continuar a fazer parte do acervo, e logo estarão à disposição de quem quiser.”

"Nós temos registros de que já havia problemas sérios antes mesmo da biblioteca ser transferida para o endereço atual, em 2001. No endereço anterior, por exemplo, existia um problema sério com o telhado, que pingava muito e molhava os livros, ajudando à proliferação dos fungos. E quando ela veio para cá, veio também numa improvisação. As estantes eram todas amarradas, sem qualquer necessidade, pois apesar de ser antigo o mobiliário é da melhor qualidade. Basta respeitar as especificações delas. Por exemplo: todas as estantes têm que estar no mesmo nível, e quando Ângela chegou aqui elas pareciam um quebra-cabeça, estava tudo muito improvisado. Nós estamos agora montando de maneira definitiva, da forma como tem que ser montado. E importa lembrar ainda que nossos livros sofriam com um problema seríssimo, que era a incidência da luz. Para evitar isso a gente bloqueava as janelas, mas não era uma solução satisfatória. Agora os livros ficarão na parte central do espaço, longe das influências climáticas, e as mesas de estudo é que ficarão próximas às janelas, para que os alunos possam estudar com luz natural, melhorando a eficiência e a economia.”

"Nós temos uma série de projetos para a atualização do acervo, mas é sempre bom lembrar que livros didáticos não nos interessam. Muitas pessoas veem a biblioteca municipal como local de descarte de coisas que não servem mais em casa. Mas o que a gente busca são títulos atualizados. Não adianta chegar aqui com um livro rabiscado, que foi do filho, ou um livro do professor, que por lei somos proibidos de receber. Esses livros não nos interessam. Nós queremos, na verdade, renovar o acervo, e para isso já temos feito contato com várias editoras. Aliás elas ficam encantadas, porque é uma biblioteca que tem 74 anos de vida.”

"Em todo esse processo estamos entrando com mão de obra, e a maior parte do material é oriundo da secretaria de Obras, que tem sido uma grande parceira. Também tivemos o apoio da Wermar, mas a verdade é que conseguimos muitas parcerias. Uma delas é com a Gigalink, que já instalou um ponto de internet com wireless de alta frequência para todos que queiram pesquisar/estudar pelo notebook, tablet ou celular. Claro, um sistema bloqueado para uma série de coisas, porque é uma sala avançada de pesquisas.”

"Nós gostaríamos de reinaugurar na primeira semana de abril. Estamos correndo contra o tempo, e é preciso reconhecer que os funcionários são de uma dedicação extrema. Essa também é uma cobrança do prefeito Rogério Cabral, que ao longo de 2014 recebeu muitas denúncias de iluminação inadequada, de acervo contaminado, de desorganização de acervo e tudo mais. Então, na verdade, nossa resposta está sendo a tentativa de melhorar o espaço, mas toda essa reforma demanda muito tempo por envolver um acervo muito grande.”

"A biblioteca está concorrendo a um edital no instituto Melinda Gates, esposa do Bill Gates. Nós atendemos a todos os pré-requisitos, e temos a esperança de que possamos criar aqui um núcleo Bill Gates de pesquisa que ligará a biblioteca a toda a todas as principais bibliotecas do mundo. Se conseguirmos essa aprovação poderemos pensar ainda mais no avanço desse espaço, que já merecia essa atenção há muitos anos.” 

"Muitos usuários têm reclamado que a biblioteca está fechada, mas para fazer uma omelete é preciso quebrar os ovos. É preciso fechar para que se possa fazer as melhorias necessárias, não tem jeito. Não seria possível fazer todas essas alterações em meio ao movimento diário, então o usuário precisa ter um pouco de paciência e tolerância nesse momento.”