Andando pela cidade de Nova Friburgo ainda é possível ver as marcas que a tempestade — uma das mais arrasadores catástrofes climáticas do mundo — deixou. Lugares onde nenhum friburguense — tão acostumado com enchentes — poderia imaginar que algo aconteceria foram afetados de forma devastadora e até hoje estão ali, nos obrigando a relembrar aquele dia tão fatídico. É o caso do prédio residencial Monte Carlo, um edifício em pleno centro da cidade, localizado na Rua Juvenal Namen, que ainda se encontra em ruínas, e que se tornou um mórbido ponto de visitação de quem passa pelo município.
Fora do centro da cidade alguns bairros foram completamente devastados, enquanto outros, posteriormente, tiveram que receber mais moradias para abrigar os que haviam perdido tudo. Neste meio tempo, os desabrigados foram vivendo em casas de parentes, em improvisados abrigos espalhados pelo município ou alugando casas — muitas vezes superfaturadas pelos proprietários — com o dinheiro do aluguel social.
De lá para cá, algumas obras de contenção de encostas, drenagem de rios, reconstrução de pontes, demolição e reconstrução de casas e revitalização de pontos turísticos destruídos foram realizadas.
Considerada símbolo da catástrofe, a Capela de Santo Antônio foi escolhida pela Fundação Roberto Marinho e o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) para ser o primeiro imóvel histórico friburguense a ser totalmente restaurado. Ela havia sido atingida pela avalanche de lama que desceu do Morro da Cruz. Sua reinauguração chegou a reunir mais de três mil fiéis.
Na verdade, todo o complexo turístico e cultural da Praça do Suspiro — onde fica a Capela de Santo Antônio — foi bastante atingido. O teleférico, por exemplo, depois de estar envolto em diversas polêmicas que impediam a liberação do espaço, foi reinaugurado em meados de 2014, voltando a receber friburguenses e turistas. A Fonte do Suspiro e a Praça dos Trovadores, símbolos culturais do município, foram recuperadas graças à parceria firmada entre empresários, governo municipal e o Grupo de Arte Movimento e Ação (Gama), sendo reinauguradas no fim do ano passado. O Teatro Municipal Laercio Rangel Ventura funciona normalmente, recebendo artistas locais e de outras cidades. Já a Praça das Colônias, embora tenha recebido algumas obras, continua inativa.
Um pouco do que já foi feito
De acordo com informações da Subsecretaria Extraordinária da Região Serrana, através da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Nova Friburgo, até agora foram entregues 1.557 imóveis para os desabrigados de 2011, sendo 1.400 apartamentos no Condomínio Terra Nova, 96 apartamentos no Conjunto Habitacional Vista Bela III e 61 casas modulares no empreendimento Parque das Flores. Trezentos apartamentos aguardam para serem entregues e outros 480 estão em fase de conclusão.
Quanto ao Programa Morar Seguro - Aluguel Social, a Prefeitura informou que hoje ainda existem 408 beneficiários recebendo o benefício, enquanto em janeiro de 2013 esse número era de 2.736, já que muitos não apresentaram a documentação exigida. Também segundo o governo municipal, o atendimento psicossocial dado a comunidade ainda é realizado através dos Cras (Centro de Referência da Assistência Social), com atendimentos psicológicos, acompanhamento social, visitas, grupos de serviço de convivência e palestras.
Vale ressaltar que, além da conhecida burocracia brasileira, muitas soluções deixam de ser implantadas por diversos motivos, entre eles: a lentidão da Justiça e os constantes recursos apresentados por advogados das partes; projetos mal elaborados; estruturas falhas e, também, a falta de colaboração e consciência de parte da população. É só olhar a quantidade de lixo pelas ruas e rios e de construções que continuam a brotar nas encostas para notar que não adianta somente exigir das autoridades.
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