Thereza Freire Vieira (*)
Uma boa porcentagem dos aposentados acha que, tendo trabalhado trinta anos ou mais, está na hora, agora que aposentado, de não ter mais compromissos com os horários. É chegado o momento de apenas fazer o que gosta, o que tem vontade, quando quer, sem compromissos. Ele se esquece, porém, de que, se está aposentado, as pessoas que o cercam não estão e para eles tudo têm horário.
Há os que não saem da rua, param aqui e ali com os amigos, os conhecidos, os antigos colegas de trabalho, e se esquecem de que, se eles não têm compromisso com o relógio, os outros têm, e assim se aborrecem porque os amigos o estão evitando. E vão criando uma série de problemas. Com a família, porque nunca chega na hora em que estão reunidos para as refeições e outros encontros familiares, com os amigos, que muitas vezes passam a evita-la, pois os seus encontros se tornam indesejáveis. Até os que se aposentaram com ele não têm tempo livre, porque voltaram a trabalhar na própria firma ou em empregos que ele acha imorais e ridículos, porque eles aceitam fazer o papel de boys nas firmas, nos novos empregos que exercem para melhorar a renda familiar.
Há os que se enfurnam em casa, sem nenhuma atividade; então fumar passa a ser a sua distração, sem pensar nos prejuízos que está causando a si mesmo. Lê os jornais e assiste à TV, e sua vida vai se transformando num marasmo, sem interesse para ele próprio e quanto mais para os outros. As coisas que vão acontecendo na família e que ele não aceita vão transformá-la em uma ilha. A cada fato acontecido, mais vai aumentando o seu isolamento.
Se os que envelhecem procurassem outras atividades agradáveis, que poderiam causar-lhes alegria, como passeios e viagens, que aumentariam o seu entrosamento com outras pessoas, especialmente os de outras idades, isso seria bom para todos.
(*) Médica geriatra e escritora, colaboradora de jornais e revistas
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