Henrique Amorim
A constatação é dos próprios pneumologistas, e não só de Nova Friburgo, mas de todo o mundo. A cada dia aumenta nos consultórios médicos e hospitais a procura de pacientes com problemas respiratórios ocasionados pelo cigarro, porém, nem todos são fumantes. O tabagismo passivo (respiração da fumaça do cigarro de outras pessoas) já é o responsável pela morte de 2.655 não-fumantes no Brasil por ano, segundo uma pesquisa realizada ano passado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) e o Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A pesquisa se limitou somente aos ambientes domésticos e urbanos, sem considerar os espaços de trabalho em empresas, por isso, estima-se que a quantidade de vítimas do tabagismo passivo seja ainda maior.
Em todo o Brasil, o Ministério da Saúde já dá conta da existência de aproximadamente 33 milhões de fumantes. Atualmente o tabagismo é o responsável por pelo menos 200 mil mortes por ano provocadas por 55 doenças desenvolvidas pelo fumo, entre elas os cânceres de pulmão, mama e bexiga, já que as substâncias tóxicas do cigarro são descarregadas pelo organismo no aparelho urinário. Mesmo com uma série de campanhas de alerta sobre os riscos à saúde de quem fuma e quem convive com fumantes, ainda falta conscientização.
Em Nova Friburgo, por exemplo, desde o ano passado a Fundação Municipal de Saúde (FMS) difunde ações que colaboram com o esclarecimento à população sobre a importância de evitar-se fumar em ambientes fechados e, principalmente com grande circulação de pessoas, como espaços públicos, repartições e ônibus. Nesses locais foram afixados cartazes que indicam a proibição do fumo. O mesmo já acontece em bares, restaurantes e lanchonetes.
A pneumologista em Nova Friburgo Ana Acácia Dias Lima explica que o tabagismo é uma doença e deve ter acompanhamento médico e terapêutico. Portanto, ela destaca a não existência de ex-fumantes, já que todo tabagista, mesmo que tenha parado de fumar, continua sendo um dependente químico e deve sempre esforçar-se para abandonar o vício, evitando recaídas. “O primeiro passo para quem quer deixar de fumar é querer fazer isso e tentar manter a abstinência da nicotina todos os dias”, explica a médica, lembrando que estudos recentes comprovam que apenas 5% dos fumantes conseguem deixar o cigarro sozinhos, sem ajuda médica ou terapêutica.
Ana Acácia, que integra a coordenação de um grupo de apoio terapêutico a tabagistas no Hospital São Lucas, comenta ainda que a dependência química do tabagismo geralmente é hereditária (o fumante tem propensão genética a desenvolver o hábito de fumar), mas pode ser também comportamental. “Um jovem que tem nos pais, que são fumantes, seu exemplo de vida, certamente passará a fumar também, tornando-se um dependente químico da nicotina. Essa droga, que é uma das mais de 4.600 substâncias tóxicas presentes num só cigarro, é capaz de chegar ao cérebro em cinco segundos, fazendo-o liberar substâncias como a serotonina e a dopamina, que garantem a sensação de prazer e bem-estar momentâneos”, exemplifica a médica, ressaltando que quase a totalidade dos fumantes conhece os males que o cigarro causa e 86% deles desejariam largar o vício.
Tratamento médico e apoio terapêutico aumentam em até seis vezes as chances do fumante largar o cigarro
Nas reuniões quinzenais do grupo de apoio terapêutico de combate ao tabagismo e promoção de saúde no Hospital São Lucas, fumantes e aqueles que deixaram o cigarro se congregam na troca de experiências. Cada um revela para o companheiro que busca também o mesmo objetivo, como conseguiu deixar o cigarro e se mantém sem fumar, encorajando-o a ter força de vontade e a conscientizar-se sobre os inúmeros malefícios da manutenção do vício.
As reuniões no ano passado reuniram cerca de 40 participantes e 26% deles conseguiram abandonar o vício do cigarro, graças ao auxílio de palestras, atividades e, principalmente, incentivo dos demais participantes, todos inicialmente captados nas reuniões de apoio terapêutico (Ratera) promovidas pelo hospital para auxiliar não só tabagistas, mas também obesos, diabéticos e hipertensos a desenvolverem hábitos de vida saudável. A iniciativa pretende agora buscar mais resultados com a prevenção. Por isso serão incentivadas a partir deste ano palestras sobre os males do cigarro nas escolas.
“Queremos falar diretamente aos jovens, os mais propensos a desenvolverem o hábito de fumar por necessidade de autoafirmação e atitude comportamental”, destaca a pneumologista Ana Acácia, que conta nos encontros com a participação da psicóloga do Hospital São Lucas, Sílvia Deslandes. Nas reuniões elas destacam a necessidade do tabagista em processo de abandono do cigarro a manter o acompanhamento médico com remédios e a participar de grupos terapêuticos, para encorajamento e perseverança, a fim de vencer a vontade de fumar e as recaídas. A combinação, segundo Ana Acácia, é capaz de aumentar em até seis vezes a chance do tabagista deixar o cigarro.
Em primeiro lugar, a vontade
de querer largar o cigarro
Uma das integrantes do grupo de apoio aos tabagistas do Hospital São Lucas, por exemplo, hoje com 57 anos de idade e que fumou por mais de 35, está há um ano sem fumar. Ela conseguiu abandonar o cigarro com a ajuda das reuniões. A mulher chegou a planejar uma data para largar de vez o cigarro, mas foi uma pneumonia que acelerou a tomada da decisão.
“Joguei o maço de cigarros fora e cheguei a entrar em desespero com tanta vontade de fumar. O engraçado é que antes encontrava poucas pessoas que me incentivavam a largar o vício, mas consegui. Sempre me vem agora à lembrança a imagem do cigarro e não mais a vontade de fumar”, diz a ex-fumante, que foi encorajada pelos próprios ex-fumantes nas reuniões periódicas no hospital.
“Sempre me lembro das dicas ouvidas nas reuniões pelos participantes, como a sugestão de beber água sempre que dava vontade de acender um cigarro. Considero que também passei bons conselhos nas reuniões”, destacou.
Crianças são mais vulneráveis
aos riscos do fumo passivo
Recentemente, pesquisadores do hospital norte-americano Massachusetts General avaliaram o risco que crianças sofrem com a contaminação de substâncias maléficas do tabaco. O estudo publicado mês passado avaliou o comportamento de 1.500 adultos e apontou que 95,4% dos não fumantes sabiam que a exposição de crianças à fumaça traz prejuízos e doenças, enquanto 85,1% dos fumantes tinham consciência disso. “Quando alguém fuma, partículas tóxicas do tabaco penetram no cabelo e na roupa. Em contato com o bebê, o fumante, mesmo sem o cigarro naquele momento, transmite substâncias tóxicas à criança”, observou o responsável pelo estudo, Jonathan Winickoff.
Ele destaca na pesquisa que a fumaça do cigarro também permanece no ambiente, podendo causar diversos males, por isso, quem tem a mucosa sensível, ao entrar em ambiente em que alguém fumou, vai sentir impacto. Em São Paulo, alguns restaurantes proibiram fumar em qualquer ambiente, abolindo áreas reservadas para fumantes. A alegação é que os garçons, após atenderem a clientes da área reservada para fumantes, transportavam em suas roupas resquícios do tabaco, contaminando o ambiente destinado à área de não fumantes.
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