Resgate do FGTS estimula a economia em todo o país

Trabalhador prioriza pagamento de dívidas seguida de consumo e lazer
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
por Ana Borges
(Foto: Henrique Pinheiro)
(Foto: Henrique Pinheiro)
Fabiana Lopes, 22 anos, nem se lembrava, mas em 2013 ela pediu demissão e mudou de emprego. Ao fazer uma consulta pela internet, “sem muita expectativa”, descobriu, surpresa, que tem R$ 450 para sacar do FGTS. Já Célia Regina da Costa Xavier, 49 anos, não teve a mesma sorte, quer dizer, não no primeiro momento. Ela foi uma das centenas de pessoas que precisaram comparecer à agência da Caixa, no mutirão de sábado passado, 18, para tirar dúvidas, já que no site consta que ela não tem nada a receber. Acontece que, em 2003, ela foi demitida por justa causa, depois de cinco anos no emprego.

Saque de R$ 43 bi para um patrimônio líquido do FGTS estimado em R$ 130 bi
“Descobri que o problema estava no cadastro, com meu nome de solteira. Me mandaram trazer a certidão de casamento e a carteira de trabalho, para provar a alteração do nome e que fui dispensada. Daí vão atualizar esses dados e dizem que, depois de tudo comprovado, não vou ter nenhum problema para receber. Tomara que não, porque descobri que tenho quase cinco mil reais para receber. Com esse dinheiro vou zerar o cartão de crédito e acertar umas contas atrasadas. Se sobrar algum, ainda vou pensar no que fazer, mas de uma coisa eu tenho certeza: não vou gastar à toa. Com essa crise, aprendi muita coisa”, revelou Célia.

Já Fabiana, que faz aniversário em setembro e só vai poder sacar em junho, decidiu usar a grana extra para fazer um curso complementar e comprar produtos. Profissional da área de beleza, ela vai investir na carreira de maquiadora, iniciada ano passado. “Vou fazer um curso intensivo para buscar mais qualificação e me inteirar das novas técnicas. Vou dar uma olhada no mercado para conhecer os novos produtos que estão sendo lançados, e se der, comprar alguma coisa. Esse ramo é muito dinâmico, tem muita pesquisa, e os fabricantes estão sempre inventando novos produtos, descobrindo novas matérias-primas. A gente precisa estar sempre se atualizando”, argumentou a jovem, animada com a profissão que escolheu.

Alívio no curto prazo

A medida que viabilizou o saque do FGTS vai ajudar a destravar a economia de modo geral, mas não vai debelar a crise, segundo especialistas. “Sem dúvida vai dar uma aliviada na situação de milhões de trabalhadores, mas o prazo da duração dessa distensão é curto”, alertam os economistas. No entanto, neste primeiro momento, para esses milhões de brasileiros, pouco importa que seja apenas um “refresco” diante da crise que tem sufocado a população em todos os cantos do país. Segundo análise de colunistas do setor, o impacto destes recursos na economia são limitados, embora, reiteram, “positivos no curto prazo”.

Dados divulgados por consultorias atestam que “o consumo das famílias pode ter um crescimento de 0,4% este ano e de 0,3% no próximo, provocando um crescimento adicional do PIB de 0,25% em 2017 e de 0,15% em 2018. Em relação à redução do endividamento das famílias e do nível da inadimplência, o impacto também tende a ser limitado”.

Mas, para os milhares de José, Joaquim, Maria, Ana, João, Vera, Manoel, Antônia, etc, etc, etc, o sentimento é de alívio. “Há meses não consigo dormir por causa das contas atrasadas e não tinha nenhuma perspectiva de como resolver. Faço aniversário em janeiro e já sei que em 10 de março vou poder sacar uma quantia suficiente para botar minhas contas em dia, vou pagar tudo. E vai sobrar dinheiro para guardar. Não vou gastar um tostão que não seja para quitar dívida. Estou traumatizado, nunca me vi numa situação dessas e não quero passar por isso de novo. Dívidas, nunca mais!”, desabafou Joaquim, sem dar mais detalhes sobre sua identidade e vida particular. Assim como tantos outros na fila da agência da Caixa localizada na Avenida Alberto Braune.

Negócios e dívidas

O governo federal acredita que dos R$ 43 bi das contas inativas do FGTS, R$ 16 bi serão gastos no comércio por cerca de 30 milhões de trabalhadores que devem sacar esse montante. Cerca de sete milhões de trabalhadores cujos 200 mil empregadores não fizeram o depósito corretamente ainda terão que resolver pendências para ter direito ao resgate.   

Estimular negócios e pagamento de dívidas é o que espera a equipe econômica que conta com a medida para ajudar no reaquecimento da economia brasileira, depois de dois anos seguidos de recessão. Para a equipe econômica o saque desse montante não vai  prejudicar a saúde financeira do FGTS, que tem hoje um patrimônio líquido estimado em R$ 130 bilhões. Dos 30 milhões de trabalhadores, cerca de 10 milhões têm conta-corrente na Caixa.

Os saques serão liberados a partir de 10 de março e seguem até julho, dependendo do mês em que o titular da conta nasceu. Poderão ser feitos nas agências e caixas eletrônicos da Caixa, dependendo, por exemplo, do valor. Além disso, o cliente que não tem conta na Caixa poderá optar por transferir os recursos do FGTS, de qualquer valor, para uma conta corrente ou conta poupança de qualquer outro banco, sem custo. O prazo para os saques termina em 31 de julho.

Com cartão, sem cartão

O trabalhador poderá sacar o dinheiro nos caixas eletrônicos da Caixa, sem o Cartão Cidadão, caso o saldo de cada conta inativa seja de até R$ 1.500. Para isso, ele só precisa ter a senha do Cartão Cidadão.

Com o Cartão Cidadão, o limite de saque, no Caixa Eletrônico, é de R$ 3 mil por conta inativa. Em lotéricas e correspondentes ‘Caixa Aqui’ os saques podem ser feitos com o Cartão Cidadão para valores de até R$ 3 mil por conta inativa.

Para saques acima de R$ 3 mil e até R$ 10 mil, o trabalhador só precisa apresentar, na agência da Caixa, a carteira de identidade para fazer o saque ou a transferência para conta de outro banco, sem custo.

Para saques acima de R$ 10 mil, além da identidade, será preciso apresentar a carteira de trabalho ou o termo de rescisão de contrato de trabalho vinculado à conta inativa.

No caso de contas que aparecem ativas, se o trabalhador tem uma conta de FGTS vinculada a um emprego do qual se desligou até 31 de dezembro de 2015, mas que ainda aparece como ativa, terá que comprovar o fim do vínculo através da carteira de trabalho ou rescisão do contrato de trabalho. Quem não tiver a carteira de trabalho terá que providenciar uma cópia do termo de rescisão do contrato de trabalho vinculado à conta inativa, e levá-la no momento do saque.

De acordo com a Caixa Econômica, os trabalhadores que possuem conta poupança individual na Caixa terão o saldo creditado automaticamente no primeiro dia do calendário referente ao seu mês de nascimento. Caso o trabalhador tenha conta corrente ou poupança conjunta ele terá que autorizar o crédito no portal da Caixa ou pelo telefone 0800 726 2017.

Tabelinha

Nascidos em:                                Primeiro dia do saque:

Janeiro e fevereiro -                       10 de março

Março, abril e maio -                     10 de abril

Junho, julho e agosto -                  12 de maio

Setembro, outubro e novembro -     16 de junho

Dezembro -                                  14 de julho

 

Foto da galeria
Fabiana Lopes ficou surpresa em saber que tinha saldo inativo do FGTS
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TAGS: FGTS | CEF
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