A renovada nobreza dos jardins do Nova Friburgo Country Clube

Um novo olhar sobre a paisagem do precioso patrimônio instalado no coração da cidade
sexta-feira, 30 de setembro de 2016
por Ana Borges
Fotos da matéria: Regina Lo Bianco
Fotos da matéria: Regina Lo Bianco

O jardim do Nova Friburgo Country Clube, na verdade, são vários. Caminhar por suas alamedas é viajar num mar de sensações, impressões e flagrantes que nos levam a imaginar as mil vidas ali vividas, desde 1860. É um privilégio passear por uma história que ao longo de 150 anos vem sendo preservada, ainda que entre altos e baixos, graças a cidadãos abnegados que dispõem parte de seu tempo para cuidar desta propriedade. Estas pessoas estão no Conselho Deliberativo do clube, na sociedade civil, nas comunidades, entre os sócios (cerca de 730 hoje, contra os 1.850 sócios de 20 anos atrás). Difícil tarefa.

Desde janeiro, quando assumiu o cargo de presidente do Country, o advogado e diretor da Universidade Candido Mendes, Roosevelt Concy, vem dando continuidade à gestão de Júlio Cordeiro, “que por sua vez, prosseguiu o trabalho de resgate físico e financeiro promovido pelo seu antecessor, Antônio Baptista Filho, que implantou uma administração planejada para ser seguida com responsabilidade e eficiência”, lembra Roosevelt.

Em 2010, o então presidente Antônio Baptista escreveu na abertura da bela edição do livro Chácara do Chalet: pequena história de um sonho: “Segundo eles [Iphan], nossa propriedade apresenta características incomuns, raras mesmo, tanto no estilo da construção, quanto na estrutura do parque e dos lagos, com uma botânica especial”. Imbuído da responsabilidade de administrar um patrimônio de tamanha envergadura, Baptista não mediu esforços nesse sentido. E seus sucessores têm honrado a missão.

Equipe comprometida com o embelezamento do clube

Roosevelt Concy conta com uma reduzida mas apaixonada equipe de funcionários, como Nataniel da Silva, um dos mais antigos (31 anos de casa) que, juntamente com Joselena Duarte (dez anos) e Vanessa Melnixenco (cinco anos), nos guiaram, a mim e à fotógrafa Regina Lo Bianco, por um inesquecível passeio de uma hora e meia por esse espaço cheio de magia e recordações. Logo na entrada, Vanessa chama a atenção para a plantação de íris (lírios), também conhecida como flor de lis — símbolo do clube — nas duas margens da alameda, cujas flores estão se abrindo.

“Hoje, seguimos a linha traçada pelas gestões anteriores de enfatizar a joia desta nossa coroa que são os jardins. Campo de futebol, sauna, piscina, quadras esportivas, banho turco, são serviços e práticas disponíveis na maioria dos clubes. Nosso diferencial está em sua história, com registros da estada de Dom Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina, no chalé, por ocasião da inauguração da 2ª seção da Estrada de Ferro de Cantagalo, em 1883. As festas descritas em detalhes nas reportagens da época, listavam os convidados que por sua vez geravam notícias ao participar de eventos e inaugurações, como a da iluminação elétrica em Campos. Presença constante em alguns eventos, o imperador aproveitava a viagem para passar por aqui e desfrutar do chalé”, destacou Roosevelt.    

“É realmente uma principesca morada a vivenda de campo do sr. visconde; elegante, artisticamente distribuído e ricamente mobiliado, o chalet é todo circundado dum luxuriante jardim, alegrado de cascatas, lagos e ilhas, cortado de canais, que se prolonga em parque até as montanhas próximas. Como deve ser doce viver aqui!”, descreveu um jornalista para a Revista Ilustrada, em 1883.

O dourado do outono

Segundo Roosevelt, as intervenções atuais na paisagem resgatam o propósito de Glaziou (paisagista francês Auguste François Marie) quando desenhou os jardins, cuja arborização tem um papel fundamental em sua composição. “Não se trata de ‘gramados’. É preciso que as pessoas que frequentam ou simplesmente visitam o clube tenham noção do que este lugar significa. Este é o projeto de um dos mais importantes paisagistas europeus do século 19, convidado por Dom Pedro II para vir ao Brasil. De estilo romântico, toda a sua atmosfera é um convite irresistível para quem aprecia arte, beleza e cultura”, argumentou. 

Em abril deste ano, uma nova área foi revitalizada e incluída no roteiro de caminhadas. “Antes, as pessoas caminhavam em frente à entrada desse local e nem percebiam que por trás daquele matagal havia uma passagem. Resolvemos abrir, fazer canteiros, cortar as árvores que ameaçavam cair. Antes dessa intervenção, o lugar era escuro e úmido, o sol não penetrava na vegetação. Depois, tudo clareou, se expandiu. Das árvores cortadas aproveitamos as madeiras para fazer mesinhas, bancos, caramanchão, enfim, um recanto bem ao estilo de Glaziou. Demos o nome Canto do Jaburu, em memória desse importante agente das artes — Júlio Cezar Seabra Cavalcante, morto em abril — que foi nosso vice-presidente de cultura e sempre esteve à frente de eventos teatrais e musicais apresentados aqui. O Jaburu foi uma presença constante, um colaborador do clube, inesquecível. Suas cinzas foram depositadas aqui, junto com uma muda de ipê branco plantada no dia da inauguração”, lembrou Roosevelt. 

A historiadora Vanessa Melnixenco lembrou uma curiosidade típica do brasileiro: a mania de varrer. Varremos tudo, casa, calçadas, jardins, varremos o que encontrarmos pela frente que nos desagrade. E assim, de varrição em varrição acabamos por destruir o que a natureza tão caprichosa e generosamente nos oferece. O outono, por exemplo, deita um tapete de folhas secas ao redor das árvores. Fica tudo dourado, principalmente quando os raios de sol tingem as folhas secas. Não fica lindo? Pois bem, temos por hábito enxergar as folhas secas como entulho e tratamos de removê-lo. Numa calçada, meio fio e assemelhados, vá lá, justifica-se. Mas, nos gramados? “É simplesmente desnecessário. Não é negligência nem descuido. Neste caso, varrer nada tem a ver com conservação. Deixar como está é respeitar os ciclos da natureza”, argumentou Roosevelt.  

Argumento que Vanessa reforçou lembrando que não se deve esquecer que jardins têm vida própria, são feitos de elementos vivos. “Cada estação tem suas peculiaridades e a nós cabe, tão somente, acentuá-las. Devemos nos perguntar, para melhor entender, qual o significado de cada estação, quais as suas características? No inverno tem a neve, na primavera a flor, no outono o vento, no verão a chuva. A neve desliza, a flor desabrocha, a folha voa, a chuva cai. São os ciclos se sucedendo, ao longo do ano. Aqui estão, neste fim de inverno e começo de primavera, os jardins e os lagos ainda cobertos desse dourado típico de outono. Precisamos aprender a ver as paisagens com outro olhar”, defendeu a historiadora.

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