Ok, o ano está chegando ao final...
Uma mudança no calendário que, se a gente pensar direitinho, é mais simbólica que outra coisa; na verdade nunca senti qualquer diferença no meu estado de espírito—seja qual for—de meia-noite para meia-noite e um...
Mas o Ano-Novo—ou Ano-Bom—não deixa de ter todo um simbolismo e na verdade uma grande responsabilidade em cima de si: nem nasceu e já sente o peso de uma enorme cobrança, deverá ser muito melhor do que o antecessor; trazer com ele muito mais alegrias do que o mesquinho que está por ir embora e que teve a petulância de não atender nossos desejos tão intensos da virada do que o antecedeu...
Saúde! Paz! Amor! Prosperidade!
Sim! Porque ele foi muito mesquinho, uns podem dizer, nós pedimos Saúde e tivemos um ano com milhares de casos de dengue, hospitais lotados, falta de remédios e vagas na rede pública...
Pedimos Paz e ele nos trouxe um ano que começou com a maior tragédia climática do País, perdemos parentes, amigos, conhecidos e a cidade passou a ser palco de uma disputa acirrada por sua carcaça, fraudes, roubos, conchavos...
Pedimos Amor e ele nos trouxe decepções, falsidade, traições, inveja, competições, fofocas, maldades, armações, trapaças, calúnias e difamações...
Nós pedimos Prosperidade e ele nos trouxe desemprego, prejuízos, negócios fracassados, passadas de perna, apertos...
Mas será que foi assim mesmo que aconteceu, ou não teria aí certa visão distorcida da realidade?
O Ano já quase Velho, então, reagiria nos trazendo à lembrança que ele nos trouxe sim muita coisa boa, mas que não pode se responsabilizar pelos nossos atos...
Que culpa pode ter, o já ancião, se você foi cheirar flor com bicho e que mesmo você sabendo disso, já que só faltava estar com uma grande placa luminosa piscando onde se lia “CILADA” foi cheirar a tal flor? Porque foi você quem abriu a guarda, que falou mais do que devia, que mostrou suas fraquezas e confiou cegamente.
E o que tem ele a ver com a tecla verde que você apertou a alguns anos, confirmando o pleito dos atuais governantes e seus vices? E como responsabilizá-lo pelas intempéries da natureza que está nos devolvendo os muitos anos de maus-tratos?
O que pode ele fazer se você não se mobiliza para que a rede pública ofereça um atendimento digno aos pacientes, para que o ensino seja uma das prioridades do país, e os impostos cobrados ao micro e pequeno empresário, assim como os que são embutidos nos preços das mercadorias não abocanhem mais da metade do já tão parco lucro?
Como assim responsabilizar este senhor por suas escolhas erradas, por ter se envolvido com “vampiros” e se deixado levar por papinho furado? Como responsabilizá-lo pela porta que você mesmo abriu deixando entrar em sua vida os invejosos, os espertalhões, os maledicentes e até mesmo alguns psicopatazinhos?
E vamos combinar... que culpa tem ele se você faltou as aulas da faculdade ou do cursinho, se desistiu do curso no meio do caminho, se não se empenhou em aprender uma outra língua e em melhorar seu currículo?
E o que tem com isso se você não acaba com os focos de dengue que tem no seu quintal? Se fumou como uma caipora, não se alimentou como devia, mesmo tendo condições para isso? Se bebeu todas, dormiu pouco e se preocupou demais com o que não valia a pena?
E afinal, por que é que você não assume que cria expectativas irrealistas e que coloca no outro a responsabilidade por sua felicidade?
Dito isso, o Ano já quase Velho, vai se despedindo porque precisa arrumar suas coisas e deixar o lugar desocupado para o Ano Novo e toda a responsabilidade que já leva sobre seus ombros...
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