Mais um reconhecimento público, em nível nacional, para o trabalho da historiadora, pesquisadora e professora da Universidade Candido Mendes, Janaína Botelho, sobre a História de Nova Friburgo. Depois de ter seu livro O Cotidiano de Nova Friburgo no Final do Século XIX – Práticas e Representação Social premiado pela Academia Brasileira de Letras, a coluna História e Memória de Nova Friburgo, publicada semanalmente pela autora no jornal A Voz da Serra, é destaque em Brasília. A obra de Janaína foi elogiada pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, vinculada à Presidência da República.
Em carta enviada à historiadora, o secretário adjunto Eloi Ferreira de Araujo fez comentários elogiosos sobre dois artigos publicados em AVS nos dias 5 e 12 de novembro, que incluem uma série de cinco textos assinados por Janaína Botelho sobre a situação do negro na Região Serrana do Estado do Rio. E destaca a importância do trabalho, no sentido de relatar a contribuição dos negros e valorizar a identidade nacional e a autoestima de toda a população.
O secretário ressalta que “a construção de um ambiente de igualdade de oportunidades e de superação dos preconceitos e do racismo dependem de políticas públicas, mas elas não seriam nada se não houver pessoas com o seu compromisso com a história e com a verdade”.
A série de artigos foi uma maneira encontrada pela autora para destacar a data comemorativa da consciência negra. Enquanto o pau vai e vem, folgam-me as costas, A África Brasileira, Os Pretos do Libambo, A Flanerie da Preta Margarida, Onda Negra, Medo Branco” compõem a série que desmistifica o mito da Suíça Brasileira em Nova Friburgo, destacando a importância dos negros na cidade.
“Desde que nasci, só ouvimos falar de suíços e alemães na formação social de Nova Friburgo. De fato, houve um núcleo colonial destes imigrantes em Friburgo. Mas nos esquecemos das fazendas com plantel de escravos no município e de que, quando libertos, contribuíram com o crescimento de nossa cidade”, explica a historiadora.
Janaína conta que a ideia de fazer os artigos também surgiu a partir de um questionamento feito por um aluno, na disciplina História do Direito, que perguntou se houve escravos em Friburgo. “Estas indagações são sempre instigantes para um historiador”, destaca a professora, que afirmou ter ficado honrada com a correspondência enviada pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do governo federal.
No primeiro artigo da série, Enquanto o pau vai e vem, folgam-me as coisas, Janaína Botelho apresenta sua ideia de destacar o Dia Nacional da Consciência negra – 20 de novembro. O título do artigo é logo explicado: “Esta expressão surge na Friburgo do século XIX. Em que sentido foi empregada? Poder-se-ia afirmar que foi utilizada no sentido de que durante pouco tempo dava-se uma pausa, um refresco, numa determinada situação crítica. Mas o que mais importa e chama a atenção nesta expressão é de como o imaginário das pessoas estava impregnado de situações que remetiam ao cancro da escravidão”.
No artigo, Janaína Botelho revela que o poder público, através da Câmara Municipal, contava com uma estrutura voltada para a questão da escravidão, designando capitães do mato para cada distrito, inclusive com previsão orçamentária para a aquisição de equipamentos utilizados no aprisionamento dos escravos. “A Câmara adquiria correntes, colares, algemas, anjinhos, cadeados, toda uma parafernália de objetos para apresar os escravos, tudo previsto em orçamento”, explica a historiadora.
O segundo texto da série, A Africa Brasileira, apresenta números do censo demográfico realizado em Nova Friburgo em 1835 e em 1840, onde se pode constatar que a população escrava correspondia à quase metade dos habitantes do município. E a historiadora revela que, antes mesmo da chegada dos suíços, havia sesmarias na região, extensões de terras concedidas pelo governo imperial, em que era obrigatória a posse de escravos.
Segundo pesquisa realizada por Janaína, havia quilombos em Nova Friburgo, com o registro de prisão de escravos. Em 1886, houve registro de quilombo na localidade de Córrego Dantas. “Em 1885, três anos antes do fim da escravidão, Friburgo tinha 1.950 escravos, 1.273 em serviço rural e 234 deles em serviço urbano”.
Os Pretos do Libambo retoma a narração sobre a atuação dos capitães do mato, que eram mantidos justamente num lugar chamado libambo, que intitula o artigo. Ela explica que o libambo foi regulamentado no artigo 22 das primeiras posturas, com a finalidade de se utilizar os escravos fujões em obras públicas, enquanto não fossem resgatados por seus senhores. Cabia à Câmara a responsabilidade pelos escravos fugitivos, com previsão de ressarcimento das despesas feitas por sua captura e manutenção, se fossem reclamados por seus donos.
A Flanerie da Preta Margarida aborda a situação dos negros em Nova Friburgo após a escravidão. Como ocorreu em todo o país, o município também desconsiderou a necessidade de integrar os negros à sociedade, e o que se registrou foi a total marginalização desta população liberta. Segundo a historiadora, “os negros eram objeto das brincadeiras e escárnio por parte da população”.
A onda de insurreições de escravos na Bahia, nas três primeiras décadas do Século XIX, teve grande repercussão em Nova Friburgo. Este é, em linhas gerais, o assunto abordado no último artigo da série, Onda Negra, Medo Branco. Nele, Janaína conta sobre um boato de que haveria uma insurreição na região e o temor que isso gerou junto à população. O pânico também trouxe outras consequências: normas mais severas aos escravos.
Arte: UCAM
Íntegra da mensagem enviada a Janaína Botelho pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial: Prezada Dra. Janaína,
Li seus artigos publicados em A Voz da Serra, nos dias 05 e 12 de novembro deste ano, e faço questão de cumprimentá-la pelos textos.
Trazer a baila os relatos dos sofrimentos dos negros brasileiros, durante o longo período da escravidão é um imperativo para que se transmita às novas gerações a verdadeira história do Brasil. O fim da escravidão não incluiu os negros e negras na nova sociedade que surgiu naquele momento. Educação, saúde, trabalho, habitação, terra, enfim direitos imprescindíveis para sua emancipação foram negados aos ex-escravos. Nestes 121 anos avançou-se muito timidamente na inclusão de políticas públicas para os negros(as). Por isso o presidente Lula exige rapidez e precisão na implementação de políticas públicas de inclusão de negros e negras.
A contribuição do suor e do sangue dos negros e negras para a construção do Estado Brasileiro e formação da nossa nação, precisam ser ensinados nas escolas para valorização da identidade nacional e elevação da autoestima de nosso povo.
Por isso professora, penso que seus artigos ajudam a remover os recalcitrantes em face às políticas afirmativas. As cotas raciais nas universidades e o Prouni são exemplos de ações afirmativas, que têm levado pretos(as) e pardos(as) às universidades brasileiras como nunca antes na história deste país, sem perda de qualidade do ensino.
A construção de um ambiente de igualdade de oportunidades e de superação dos preconceitos e do racismo dependem de políticas públicas, mas elas não seriam nada se não houvesse pessoas com o seu compromisso com a história e com a verdade.
Um abraço,
Eloi Ferreira de Araujo - Secretário Adjunto
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República-SEPPIR/PR
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