Um passeio pelo o que Nova Friburgo tem de melhor: a natureza. A 9ª edição do Montanha Cup, realizada no último domingo, 13, proporcionou a aventura pelas trilhas do município aos quase 300 participantes, e terminou com a vitória de Wolfgang Soares Olsen, de Petrópolis. "Ele quase ganhou em 2010. Perdeu um pouco a direção, pedalou praticamente no aro e acabou não vencendo. Por isso estava querendo o título e teve muitos méritos. Ele está numa forma invejável”, avalia o organizador do evento Orlando Miele. O friburguense Damiano Militão faturou o título na categoria Master A2, enquanto Eduardo Dragueta foi o mais rápido na Turismo.
A prova foi dividida em dois percursos: o Pró, de 58 km, e o B, para os mais jovens, veteranos e participantes da categoria Turismo, com cerca de 40 km. Após a largada na Praça Dermeval Barbosa Moreira, os ciclistas seguiram pela antiga linha do trem e Mury, com destino ao trajeto principal em Macaé de Cima. "Essa foi a edição mais técnica. Mudei o trajeto e uma parte era totalmente nova. O Montanha Cup privilegia a parte física, mas a galera gostou muito da novidade”, conta.
Toda a sinalização é feita na véspera da prova e Orlando larga na frente dos participantes para conferir os detalhes. As orientações direcionam o percurso corretamente. A prova contou pontos para o ranking, algo que atraiu alguns atletas de alto rendimento. Entretanto, Orlando ressalta que o verdadeiro objetivo da competição é reunir ciclistas amadores para explorar todo o potencial de trilhas da cidade e a paixão pela bicicleta.
"É esse fato que faz a prova ser fantástica. Agradeço à Stam, Energisa, Race Tech, Secretarias de Esportes, Turismo, Saúde, Serviços Públicos, Comunicação, Defesa Civil, Toyoserra, Rede PC, Cruz Vermelha, Under Floor, Image Crie, Staff Adventure, RV4, grupo de radioamadores, Hotel Bucsky, Oficina da Cor, DBC e o Tiro de Guerra. Sem a soma de todas essas forças, não seria possível realizar o evento.”
Desta forma, o Montanha Cup tornou-se uma prova tradicional no calendário de ciclismo do estado. Em 2015, o evento completará dez anos e os organizadores planejam uma edição especial. "É uma edição diferente, e já estamos com algumas ideias. Vamos comemorar dez anos e terá que ser algo especial. Pretendemos fazer uma grande festa.”
Exemplo aos 81 anos
Ainda antes da largada, na Praça Dermeval Barbosa Moreira, um atleta vestindo uniforme amarelo era festejado pelos demais ciclistas. Parecia ter vencido a prova. De fato, aos 81 anos de idade, o aposentado Sergio da Cunha Fonseca pode ser considerado um vitorioso. "Eu já participo há dois anos, mas sempre andei de bicicleta aqui. Gosto de ciclismo e venho aqui para participar com essa galera bacana há muito tempo. Eu sou o mascote dessa turma”, brinca.
Sergio realizou o percurso apenas até a antiga linha do trem, próximo à Fábrica Ypu. O ciclista largou pouco antes do grupo, exatamente para esperá-los no local e saudá-los com um desejo de boa sorte. "Não tenho condições físicas de correr com eles, mas só de estar aqui já representa muito, me dá uma força grande. Não sei se eu dou energia a eles ou se são eles que me dão energia.”
Para o aposentado, o carro é apenas uma necessidade para as viagens de longa distância. A bicicleta é a sua companheira diária e com ela ele cumpre todas as obrigações. "Quando eu venho ao Centro para resolver algo, uso a bicicleta. Carro, pra mim, só para sair de Nova Friburgo. Eu aconselho a moçada a andar mais de bicicleta, e quem não gosta, que deixe o carro na garagem. A cidade não comporta todo esse movimento e não vejo muitas chances de melhora. Temos também que pedir e cobrar a construção de ciclovias.”
Alarico Moura, 69 anos, é atleta de mountain bike, mas não como outro qualquer. Por onde passa, torna-se o centro das atenções. Conhecido pelo Brasil inteiro, o carioca desperta a curiosidade entre as pessoas e vira exemplo para todos que conhecem a sua história de vida. Amante dos esportes radicais e do rock, "Ala Bikeman”, como é conhecido, participa regularmente do Montanha Cup, e esteve presente na edição do último domingo.
Há 30 anos, Ala perdeu a perna esquerda e mesmo assim enfrenta os diversos obstáculos da vida, inclusive os morros, com a bike. Com um equipamento adaptado e patrocinado por uma loja especializada do Rio de Janeiro, treina e participa de provas pelo país. "É o que eu gosto de fazer”, comenta.
Há cinco anos sofreu um grave acidente enquanto pedalava. Alarico derrapou, foi jogado contra a parede e caiu de uma altura de aproximadamente cinco metros. Quebrou alguns dentes e ficou com parte do lado direito do corpo paralisado — justamente o que possui a única perna. Poucos acreditavam que Ala pudesse voltar a pedalar, mas ele novamente mostrou na prática o significado da palavra superação. A recuperação do atleta de quase 70 anos surpreendeu até mesmo aos médicos e, aos poucos, ele retomou a vida radical.
O ciclismo ajudou Alarico a superar não só a deficiência, como também a dependência química. "Eu tinha uma vida completamente desregrada, e o esporte me deu a oportunidade de recomeçar. Após completar a Montanha Cup de 2011”, relata Bikeman euforicamente, "entrei no esporte e ganhei uma saúde fantástica. Com uma deficiência física eu não vejo nada diferente. Eu consigo correr nesse chão, olhando a terra, olhando a floresta, o ambiente, o que a gente tem que preservar do nosso planeta. Tudo isso me traz uma gratificação incomparável.”
Uma história comovente e cada vez mais conhecida. Ala desenvolve projetos sociais e realiza palestras por todo o país. Dentro deste roteiro, o ciclista visita as prisões nos últimos meses do ano. "Os presos prestam atenção e gostam do meu jeito. Eles riem do meu modo de falar, adoram! Dizem muitas vezes que são poucos que fazem o que eu faço pela sociedade e me agradecem”, ressalta.
No esporte, Alarico Moura encontrou uma maneira de superar as próprias limitações físicas
CLASSIFICAÇÃO POR CATEGORIA - OPEN:
ELITE MASCULINO
1º — Wolfgang Soares Olsen - Petropólis/RJ
2º — Mauro Henrique Almeida Aguiar - Bom Jardim/RJ
3º — João Lomba Xavier - Rio de Janeiro/RJ
FEMININO
1º — Carla Lavigne - Rio de Janeiro/RJ
2º — Monica Espirito Santo Bernardes - Rio de Janeiro/RJ
3º — Adelia Rosina de Freitas - Barra de São João/RJ
SUB-23
1º — Breno Esteves da Costa - Petropólis/RJ
2º — Filipe da Silva Coelho - Casimiro de Abreu/RJ
3º — Rogerio Macedo Pereira - Nova Friburgo/RJ
SUB-30
1º — Glauber da Cunha - Paracambi/RJ
2º — Carlos Vinicius Vasconcelos Santos - Campos/RJ
3º — Alex Barboza Gomes - Nova Friburgo/RJ
MASTER A1
1º — Albert Guinter Erich Morgen Junior - Petropólis/RJ
2º — Otávio Fontes Pessanha Leite - Nova Friburgo/RJ
3º — Ramon Machado Junqueira - Nova Friburgo/RJ
MASTER A2
1º — Damiano da Silva Militão - Nova Friburgo/RJ
2º — Amarildo Ferreira - Rio de Janeiro/RJ
3º — Henrique Mangia Claussen - Teresópolis/RJ
ENDURO
1º — Eduardo Cirio Rocha - Rio de Janeiro/RJ
2º — Gustavo Affonso Perrout Ribeiro de Castro - Campos/RJ
3º — Gustavo Del Carlo Fernandes - Niterói/RJ
DUPLAS
1º — Marcelo da Silva Mouzer (Três Rios) e Everson de Almeida Mendonça (Rio de Janeiro)
MASTER C1
1º — Carlos Salvini Junior - Petrópolis/RJ
MASTER C2
1º — Raul Campos Gecler - Cordeiro/RJ
INFANTO-JUVENIL
1º — João Gabriel Amorim da Rosa - Teresópolis/RJ
JUVENIL
1º — Gregory dos Santos Melo Junior - Teresópolis/RJ
JUNIOR
1º — Kleydson Aberto Costa Bento - Casemiro de Abreu/RJ
VETERANO
1º — Niedson Pastor de Albuquerque - Duque de Caxias/RJ
PARADESPORTIVO
1º — José Wellington Vasconselos - Rio de Janeiro/RJ
TURISMO
1º — Eduardo Dragueta - Nova Friburgo/RJ
O Montanha Cup reuniu atletas amadores em sua maioria, mas também contou pontos para o ranking
Sem limites
Através do ciclismo, Alarico Moura vence alcoolismo e supera limitações
*Colaboração: Mathews Puga
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