Raio X do Turismo: Teleférico tem problemas e promessas de solução

Apesar da beleza do lugar, usuários se queixam de banheiros, infiltrações na parte interna do complexo e aspecto de abandono
sexta-feira, 01 de setembro de 2017
por Guilherme Alt
O aspecto de abandono é uma das reclamações dos turistas (Fotos: Henrique Pinheiro)
O aspecto de abandono é uma das reclamações dos turistas (Fotos: Henrique Pinheiro)

Há mais de 40 anos, o Teleférico de Nova Friburgo é um dos principais pontos turísticos da cidade. Localizado no coração do município, é a atração de mais fácil acesso. O romantismo que envolve o passeio pelo Teleférico é uma antítese ao medo e tensão de sentar-se em uma cadeira suspensa por um cabo de aço, que leva a pessoa a mais de 50 metros do chão.

Ao chegarmos ao local com a visão de um turista visitando pela primeira vez, nossa equipe percebeu alguns problemas estruturais. Conversamos com Rodolfo Acri, proprietário do complexo de entretenimento que fica na primeira estação do Teleférico.

“Aqui ainda temos alguns problemas, mas estamos resolvendo todos eles. Nos banheiros fazemos limpezas diárias, mas precisamos que o usuário tenha respeito e senso de higiene. Eu troquei o papel que a pessoa seca a mão por um aparelho de ar quente. As pessoas usavam o papel e jogavam no chão”, reclama.

Ainda sobre o banheiro, nossa equipe percebeu que, mesmo higienizado, a aparência é de que não há cuidado com o local. O piso é velho, o azulejo parece mal cuidado, o teto apresenta manchas e o mictório, ferrugem. “O que vocês observaram é importante, porque me deu um estalo de que realmente eu preciso modernizar os banheiros. Colocar um piso diferente, melhorar a iluminação. Essas mudanças irão acontecer”, promete Acri.

Observamos também a falta de pintura, reboco e infiltração na parte interna do complexo. Segundo Acri, esses problemas têm data de validade. “Tudo isso vai ser resolvido. Estamos solucionando esses problemas aos poucos. Sabemos que fica feio o turista encontrar o local assim, mas não vamos deixar pra sempre”, pontua.

Ao ouvirmos alguns turistas e friburguenses que estavam no local, as opiniões se dividiam entre elogios e “puxões de orelha”. “Como é a primeira vez que venho aqui, fiquei um pouco nervosa quando subi o teleférico e no trajeto, vendo a encosta com aspecto de abandono, fiquei preocupada. Aqui em cima está tudo funcionando e tem uma vista maravilhosa. Mas como porta de entrada para o turista, essa chegada aqui em cima precisa de um tratamento, melhor”, diz a comerciante Patrícia Ribeiro, que veio do Rio de Janeiro com a família para passar um fim de semana na cidade.

Morador de Olaria, Luiz Otávio Tardin costuma frequentar o complexo e diz que os banheiros precisam ser modificados “Eu não costumo reparar nessas coisas, mas o banheiro poderia ser mais bem sinalizado. Ele fica em um canto escuro, e não dá pra saber direito onde é o masculino ou o feminino”, reclama.

A namorada de Luiz Otávio, Juliana Vaz, moradora do Centro, também faz ressalvas quanto ao banheiro. “Nós mesmas temos que cuidar do espaço. Ele precisa de uma melhoria? Precisa! Mas ao mesmo tempo temos que cuidar do patrimônio. Como mulher eu posso dizer que o banheiro feminino é muito mais sujo que o do masculino. Então, a gente tem parcela de culpa, quando um local como esse apresenta problemas de higiene”, pondera.

Repaginação

Durante o percurso da subida do Teleférico, notamos que a área devastada pela tragédia divide-se em lama e mato. Para dar cara nova ao local e tornar o caminho mais agradável, o empresário vai plantar sementes de árvores durante o trajeto. “Vou plantar dentro de alguns dias sementes de maracá, que é aquela árvore com flores lilás, quando a pessoa embarca da Praça do Suspiro”, projeta.

As obras já começaram. A nova atração do complexo, que está sendo montada na parte de trás, tem gerado muito entulho e acúmulo de lixo proveniente das obras. Porém, esse entulho vai sair do prédio em questão de dias, segundo Rodolfo. “Como ainda não terminamos as obras da Mega Rampa, os entulhos ainda estão aqui em cima, mas como a inauguração é em poucos dias, terminando a obra nós vamos fazer uma grande limpeza e a chegada do Teleférico vai ficar limpa e mais organizada. Esses transtornos são temporários”, afirma Acri, otimista.

As cadeirinhas devem ser trocadas por modelos mais modernos e ainda mais seguros. Rodolfo planeja substituir as cadeiras atuais por cadeiras fechadas na parte de trás e nas laterais. “Quero modernizar a estação, deixá-la fechada, colocando blindex, fazer um banheiro na estação. Se deixarem quero colocar a pista de patinação ali na Praça do Suspiro”, almeja.

Licitação

Rodolfo há 22 anos venceu a licitação para administrar o Teleférico. Essa licitação tem validade de 20 anos. Por conta da tragédia de 2011, a estação baseada na Praça do Suspiro foi fechada por três anos e reaberta em 2014. Por conta disso, os anos excedentes são equivalentes ao tempo em que o local ficou fechado. Uma nova licitação deve ser feita ainda esse ano, já que a concessão termina em dezembro de 2017.

“Eu quero continuar como administrador do Teleférico. Até porque o final do primeiro estágio termina em uma propriedade minha, mas se outra pessoa ficar responsável, a gente conversa e chega a um acordo. Eu já mandei mensagem para o prefeito pra agilizarmos isso, mas até agora não tive resposta”, lamenta.

Perguntado se fará algo para os 200 anos da cidade, Rodolfo afirma que o projeto e ideias ele tem, mas que depende da confirmação da continuidade da concessão. “Se eu continuar vou poder colocar em prática as ideias para o bicentenário da cidade, mas por enquanto estou engessado com essa questão. Não posso fazer nada até ter a certeza que continuarei no Teleférico”, conta.

Tragédia de 2011

A tragédia de 2011 foi um divisor na cidade e para o complexo do Teleférico foi um capítulo bastante complicado. A imagem do deslizamento de terra que destruiu boa parte da região da Praça do Suspiro rodou o mundo. Segundo Rodolfo Acri, o laudo do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) que causou a interdição do Teleférico foi um exagero. O empresário garantiu que o local estava seguro. “Eles afirmaram que o morro estava rachando. Se isso fosse verdade, teria que ter evacuado toda a região. O governo do estado fez as obras necessárias, engenheiros e peritos indicados por um juiz atestaram que o morro não apresentava problemas. Por conta do laudo do Inea o segundo estágio do Teleférico está parado há seis anos, e por três anos e meio o primeiro estágio ficou fechado. Foi um prejuízo pra cidade e pra mim”, indigna-se.

“Nesses últimos seis anos, pegando dinheiro emprestado e investindo do meu bolso, foram cerca de R$1 milhão de reais que eu gastei”, revela o empresário. Acri já apresentou todos os documentos necessários para que o segundo estágio do Teleférico entre em funcionamento. “Agora só estou esperando eles me autorizarem. Já está tudo certo. Todos os alvarás e autorizações foram concedidos. Espero que saia o mais rápido possível”, deseja.

Atrações

“Eu não gosto de fazer nada mal feito”, afirma Rodolfo. O complexo tem diversas atrações de entretenimento. O mais conhecido é o boliche, que por sinal, é comumente chamado todo o local. Que friburguense, quando se refere ao prédio, não diz “Vamos ao Boliche”? O lugar é muito mais que as seis pistas. Repleto de máquinas de videogames com variados jogos, desde corrida de carro à máquina de pegar bichos de pelúcia.

Pensado para divertir diversas pessoas, Acri investe cada vez mais em atrações para o local. “Temos a Boneca Eva, por exemplo, com 33 metros de comprimento. O turista pode entrar na boneca e fazer uma viagem pelo corpo humano. Temos um escorrega muito grande em forma de dinossauro. A criança escorrega pelo interior dele. Temos uma pista de patinação que vamos reabrir toda reformada. É uma variedade de brinquedos que atendem às pessoas de diferentes idades”, orgulha-se.

A mais nova atração que deve ser inaugurada no final de julho veio do Rio de Janeiro: é a Mega Rampa. Com oito metros de altura, mais oito metros de largura e 34 metros de comprimento, a Mega Rampa vai possibilitar que mais de 15 pessoas escorreguem “ladeira abaixo”, em cima de uma boia. É mais um investimento “megalomaníaco” do empresário que não costuma ter medo de ousar.  

 

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