Juliana Scarini
Na manhã de ontem, 12, quando se completou um ano da maior catástrofe climática do país, a Rádio Globo do Rio de Janeiro trouxe para a Praça Dermeval Barbosa Moreira o seu estúdio móvel. A equipe, com Roberto Canazio e Alexandre Ferreira, já havia estado em Nova Friburgo 90 dias após a tragédia para fazer a cobertura e perguntar à população o que estava sendo feito pelo governo e quais as prioridades naquele momento. Na ocasião, prometeram voltar quando completasse um ano da tragédia.
O programa “Manhã da Globo” ao vivo, com Roberto Canazio, das 10h às 13h, começou com entrevista exclusiva com o prefeito Sérgio Xavier, que foi questionado sobre o estado emocional da cidade. “Após a catástrofe climática nós passamos pela catástrofe política, com mudança de prefeito e outros problemas. A baixa autoestima do friburguense tem preocupado a todos nós”, atestou. “Esta é uma data muito triste, onde a gente lembra das cicatrizes, lembra dos que partiram, mas, nós temos a esperança de que 2012 será muito melhor”, frisou o prefeito.
Com relação às promessas para este ano, Sérgio Xavier afirmou para Roberto Canazio que sem os recursos do governo federal é impossível reconstruir a cidade e ainda lembrou que o objetivo da Prefeitura é tirar as pessoas dos abrigos e do aluguel social assim que as casas populares ficarem prontas.
Vários moradores aproveitaram a oportunidade para reclamar o que ainda não foi feito, como é o caso de José Élcio de Gouveia, morador da Rua Júlio Zamith, no Centro, onde uma casa caiu e até agora a Prefeitura não tomou providências. Segundo José Élcio, entre os escombros estão proliferando ratos e baratas, prejudicando os outros moradores da rua.
Outro morador revoltado era Francisco de Oliveira, do Parque Maria Teresa. Sua casa foi totalmente destruída. Ele chegou a quebrar a perna na tragédia de 12 de janeiro. “Eu não tive nenhuma assistência do governo, fiz dois cadastros no aluguel social e não obtive resposta. Eu quero ir embora dessa cidade. Tenho arrependimento quando, em 1949, meu pai veio para Nova Friburgo”, desabafou Francisco.
Durante toda a apresentação do programa, muitos eram os relatos de moradores. A população viu, através da Rádio Globo, uma oportunidade de desabafar e falar dos seus problemas. “Eu perdi a história da minha vida, as fotos dos meus filhos, os meus documentos, tudo. Minha vida parou”, declarou emocionada Matilde Maria Silvestre, moradora de Córrego Dantas, que perdeu a casa com a queda de uma barreira. Ao contrário da maioria dos friburguenses que ainda precisam, ela conseguiu o aluguel social e hoje mora na subida do Catarcione.
Já Maria Eliana Delgado teve sua casa, no Catarcione, atingida por uma barreira que caiu de Vargem Alta. Ela perdeu o pai e a mãe e também não consegue receber o aluguel social. “Minha casa está interditada pela Defesa Civil, mas eu continuo morando na metade da casa que sobrou. Não tenho para onde ir com meus três filhos”, declarou Maria Eliana, contando que vai embora de Nova Friburgo. “Não sou eu que estou deixando a cidade. A cidade é que me abandonou e me ignorou”, contou entristecida.
Roberto Canazio também falou sobre a missão da mídia neste momento. “A cidade está viva e nossa missão é motivar o turismo. A cidade é linda e a Suíça Brasileira que muitos escutam falar ainda está aqui. Hoje estamos aqui a serviço de Nova Friburgo”, frisou. Em seguida, o apresentador da Rádio Globo recebeu o padre Antônio Leão, pároco da Capela de Santo Antônio, na Praça do Suspiro. Ele falou sobre a fase inicial de recuperação da estrutura da capela, feita pela Fundação Roberto Marinho. Segundo padre Leão, ainda falta 90% da obra para ser concluída. “Eu acompanhei de perto esse momento da cidade e vejo que a população ainda está com medo”, afirmou padre Leão, referindo-se à chuva do último dia 31 de dezembro, que assustou todos os moradores. Após a entrevista, ele proferiu bênção à população.
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