A motivação de muitos pacientes é perder alguns quilos, emagrecer para uma festa, ou entrar em forma um mês antes do verão, para poder colocar o biquíni e se sentir confortável. Ok, estes motivos são legítimos: todo mundo tem o direito de se sentir bem para vestir qualquer tipo de roupa e ir para qualquer lugar. Mas, mais importante do que isso é a nossa saúde. De nada adianta emagrecer às custas de dietas malucas e ficar infeliz, vivendo de privações e cheio de culpa ao comer.
Se você marca uma consulta com o único objetivo de perder peso rápido, pode se frustrar. Agora, se pretende melhorar a sua saúde como um todo, rever a qualidade da sua alimentação e restabelecer sua conexão com seu corpo, acredito que terá um belo caminho de descobertas pela frente. Tudo acontecerá de forma gradual e sem sofrimento.
Sendo assim, a resposta para a pergunta “quando procurar um nutricionista” deve ter como foco principal aquilo que é primordial para a nossa existência: a nossa saúde. Peso não é sinônimo de saúde, e sim, uma consequência dela. Se está buscando um corpo mais saudável, faça isso por você, e não para entrar em um padrão imposto pela sociedade.
Separando o joio do trigo
Em uma era em que qualquer informação está a um clique de distância, o papel do nutricionista é fundamental para filtrar todas essas notícias e separar o que é mito, e o que é verdade. O que é ciência e o que é sensacionalismo.
Em primeiro lugar, não acredite em tudo o que você vê na Internet. Isso pode causar mais confusão sobre o que “é certo” e o que “é errado” na alimentação. Se você se sente perdido sobre o que comer, talvez essa seja a melhor hora para procurar um nutricionista. Ele vai te ajudar a rever suas crenças, e, juntos, vocês podem chegar às possibilidades mais adequadas ao seu estilo de vida.
E tão importante quanto saber quando procurar um nutricionista é saber por que você quer consultar um. O foco principal deve ser a saúde. Manter um peso saudável será o resultado disso.
Corpo são, mente sã
Acredito no poder dos comportamentos, afinal, não nos alimentamos somente de nutrientes, mas também de sentimentos. Então, é importante estar aberto para mudar hábitos quando procurar um nutricionista. Tentar deixar de lado algumas “verdades absolutas” que ouvimos a vida toda a respeito de nutrição.
O mito das dietas restritivas talvez seja o maior deles; por anos e anos ouvimos que a única forma de emagrecer e manter o peso é fechando a boca. Aí eu pergunto: se isso estivesse dando certo, estaríamos vivendo esta crise mundial de obesidade?
Então, vamos deixar um pouco de lado todos estes mitos e pensar no poder do alimento e do comportamento. Tenho uma lista de coisas importantes que você pode discutir com seu nutricionista para começar a reconstruir sua relação com a comida:
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Noções de fome e saciedade – Sabe reconhecer os sinais da sua fome? E, uma vez que está comendo, sabe a hora de parar de comer?
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Fome ou o quê? – Costuma comer por motivos emocionais, como estresse, desânimo,cansaço, irritabilidade, mau humor, tristeza?
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Sente culpa quando está comendo? – Costuma pensar muito sobre alimentação, calorias, e geralmente se sente culpado quando come algo calórico ou rico em gordura, ou quando come em excesso?
Essas são boas questões para nortear seu caminho junto ao nutricionista.
O poder do alimento
Gostaria de finalizar este artigo reforçando que o nutricionista é a pessoa mais qualificada para fornecer informações sobre saúde e alimentação. Busque um profissional sério, alguém que não faça terrorismo nutricional. De preferência, alguém que incentive o consumo de comida de verdade.
Se você vive pulando de dieta em dieta, sofrendo com o efeito sanfona, precisa rever sua relação com a comida. Uma reeducação alimentar traz efeitos a médio e longo prazo: mais disposição, qualidade de vida, menor risco de se desenvolver doenças ligadas à obesidade. E o que, para mim, é o maior ganho de todos: chegar a um peso saudável e sustentável e não precisar fazer dieta nunca mais.
* Sophie Deram é nutricionista franco-brasileira, doutora pelo departamento de Endocrinologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e autora do livro best-seller “O peso das dietas”. Também ativista contra as dietas restritivas e defensora do prazer de comer e do comer consciente (mindful eating).
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