Henrique Amorim
A confeccionista Giselle Barroso sempre gostou de ler e escrever, mas jamais imaginava que a edição de seu primeiro livro, o infantil O diário de Luna, fosse inspirado a partir da rotina de trabalho de sua confecção de roupas de dormir, a Encanto de La Luna. Giselle se incomodava com a perda de 30% dos tecidos usados na fabricação mensal de aproximadamente quatro mil pijamas e camisolas para crianças e adultos. “As sobras iam para o lixo e isso me deixava irritada, pois o tecido descartado polui e agride o meio ambiente”, observa a confeccionista, que decidiu aproveitar os recortes sem utilidade na confecção dos bonecos de pano que hoje acompanham a linha infantil de produtos da empresa. Atualmente, 80% das sobras são aproveitadas na fabricação de sete personagens do Clubinho da Luna.
A iniciativa rendeu à confecção o terceiro prêmio de responsabilidade social – Destaque da Moda, oferecido pelo Sebrae, Federação das Indústrias do estado (Firjan) e Conselho da Moda, e ainda um troféu especial pela criação do livro O diário de Luna, que aborda a consciência ecológica e o combate aos preconceitos sociais. A obra, inclusive, já é adotada como material pedagógico de quatro escolas particulares de Nova Friburgo e uma de Brasília, que até traduziu-a para versão em braile, específica para deficientes visuais. O diário de Luna conta ainda com prefácio da professora friburguense Marizete Canto.
Gisele conta que sua ideia inicial foi criar uma boneca de pano com sobras de tecido para auxiliar a terapia ocupacional da irmã especial de seu ex-marido e sócio na confecção. Nascia, então, a boneca Luna, em homenagem ao nome da confecção. A empolgação foi tanta, que a confeccionista resolveu dar ainda mais vida à boneca com seu primeiro livro, que tem Luna como personagem principal. A obra, que destaca a importância da reciclagem e inclusão social, desperta a curiosidade das crianças, estimulando a interatividade com os personagens, que ganharam vida na história de combate aos preconceitos no O diário de Luna, encontrado em Nova Friburgo na Papelaria Arabesco.
Na obra, de 30 páginas, Luna é uma menina de São Paulo, que se muda com a família da capital para o Amazonas, já que seu pai é engenheiro químico e é transferido para pesquisar ervas medicinais utilizadas por índios na Floresta Amazônica. No interior do Brasil Luna passa a conviver com muitas diferenças sociais e aprende com elas. A família de Luna é composta pelos bonecos Vivi, que sofre preconceitos por causa da obesidade; Kadu, que tem síndrome de Down e amarga a discriminação; Malu, que é negra e sofre preconceito racial; o índio Apoena; Zeca, que é vítima do trabalho infantil; e o mascote Sapo João. Os bonecos são vendidos na confecção de Giselle e em diversas lojas que comercializam sua linha de roupas para dormir. Os personagens da família de bonecos saem entre R$ 13,90 e R$ 17 cada e ainda vem acompanhados de bolsas plásticas para praia, com material 100% reciclado. “Infelizmente, não pude ter filhos, mas hoje me divirto com meus sete filhinhos imaginários”, brinca Giselle.
Produção chega a quatro mil bonecos por mês
Giselle Barroso se sente realizada com o sucesso de sua iniciativa, que já soma cerca de quatro mil bonecos fabricados por mês pelos dez funcionários de sua confecção, no Bairro Ypu, no projeto Transformando lixo em sonhos. Além da reciclagem e conscientização ambiental, a confeccionista e escritora se preocupa em estimular nas crianças o raciocínio e a conscientização. “Luna era preconceituosa e se abriu para as diferenças”, observa Giselle, que chama a atenção para a pouca procura pelo boneco Kadu, que tem síndrome de Down. O personagem amarga apenas 1% do total de vendas do Clubinho da Luna.
O projeto de Giselle não para por aí. Ela aproveita a insônia para escrever e outros cinco livros da turma da Luna estão prontos para ser editados. A intenção de Giselle é apresentar o projeto à Secretaria Municipal de Educação, para adoção de O diário de Luna e sua proposta pedagógica nas escolas da rede pública. A partir de fevereiro o Clubinho da Luna estará mais perto da garotada, através da internet, com games, link para impressão de páginas, para pintura e muita interatividade, no endereço eletrônico www.encantodelaluna. com.br.
Outra intenção de Giselle é ampliar a turma de bonecos, com a criação do vovô boneco, um deficiente físico que, para se locomover, terá que utilizar uma cadeira de rodas fabricada a partir dos rolos de elástico da confecção; e ainda uma nova linha de bonecos, réplicas de animais em extinção. “Tudo isso serve para despertar nas crianças a necessidade de valorização do espírito solidário e participativo”, diz Giselle. Pelo jeito, vem mais prêmio por aí.
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