Quando começa a velhice

Por Thereza Freire Vieira (*)
sexta-feira, 22 de julho de 2011
por Jornal A Voz da Serra

A maioria das pessoas não sente que está envelhecendo. Às vezes essa noção surge quando começam a controlar as suas atividades. “Não faça isso, mãe, você não tem idade para essas coisas ...”

Lembro-me de uma paciente que tinha uma vida normal. Morava em uma chácara e era ela quem plantava as verduras e os legumes, cuidava dos canteiros de flores e era com alegria que exibia as suas plantas, chamando todos para ver o colorido das flores.

Um dia, porém, ouviram de um médico que essas atividades poderiam ser prejudiciais a ela, pois a osteoporose era evidente e, numa daquelas descidas para a chácara, a fim de exercer as suas atividades, podia cair e sofrer uma fratura, o que limitaria ainda mais as suas atividades.

A idosa foi ficando cada vez mais triste. Foram receitados antidepressivos e medicamentos para o tratamento da osteoporose. Ela não melhorava.

Fui visitá-la e, logo que entrei no quarto, ela sentou-se no leito e disse:

— Doutora, eu tenho 87 anos, por que deixar de fazer as coisas de que gosto e que fiz durante toda a minha vida?

— Estão preocupados com a senhora e temem que uma queda, por menor que seja, lhe traga como consequência uma fratura, e assim dificilmente voltará a andar.

— Já vivi muito, não gostaria de continuar vivendo se não fosse para fazer as coisas de que gosto. Continuar vivendo como uma inválida? Prefiro morrer.

Conversando com a família, resolveram colocar na rampa no lugar da escada. Ela compreendeu que precisava tomar cuidado para descer apenas pela rampa e apoiar no corrimão. Passou a viver a vida como ela queria. Os familiares compreenderam que precisavam ter cuidados com ela, mas não restringir as suas atividades. A vida é prolongada para ser vivida com muito amor e com liberdade.

Não importa o tempo que se vive e sim como se vive. É importante sentir-se feliz com a vida que se leva. E muitas vezes o excesso de proteção prejudica muito mais. O idoso sente que é um trapo, que fazem com ele o que bem entendem e a sua vida vai ficando vazia e sem sentido.

(*) – Médica geriatra e escritora

colaboradora de jornais e revistas.

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