Quando a sociedade tem o dever de agir

quarta-feira, 24 de junho de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Max Wolosker Neto

Eu prometi a mim mesmo que fugiria, nos meus artigos, da mesmice geral que é usar como inspiração os escândalos diários produzidos por nossos políticos. Porém, a falcatrua do senado, mais uma, com a assinatura de 300 atos secretos, que podem chegar a 500, muda o enfoque e abre campo para uma discussão mais ampla em que até o MP pode ser acionado.

Investidos do sentimento de impunidade, nossos políticos perderam a vergonha completamente e, pouco se lixando para a opinião pública, já que nossas eleições são um grande balcão de negócios e os votos descaradamente trocados por favores ou pelo vil metal, aplicam aqui e ali golpes que deixam Al Capone e Arsène Lupin, parecerem amadores.

No entanto, a população pode, se quiser, dar sua contribuição para moralizar o legislativo e alavancar, democraticamente, uma mudança de postura do status quo vigente. Se recorrermos à Carta Magna do país, veremos que o seu artigo 37 diz textualmente: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;”

Esses atos: contratação de apadrinhados, criação de cargos, pagamentos de horas extras de servidores, a permissão para que servidores em viagem ao exterior recebessem diárias além dos dias estipulados, aumentos dos subsídios e etc, foram feitos na surdina, sem o conhecimento da sociedade, sem a transparência que deveriam ter. Portanto, dão margem a uma ação pública contra o presidente e o diretor do senado e aos senadores de modo geral, pois feriram dispositivos constitucionais, infringiram a lei e enganaram os eleitores de um modo geral. Seria importante que os sindicatos, as associações de classe, os representantes comunitários, com o auxílio de um bom advogado, abrissem uma ação cível contra essa corja e forçassem o judiciário a cumprir o seu papel. O jogo começaria a ser mudado e os políticos compreenderiam, pelo menos uma vez, que numa democracia o que conta é justamente a opinião pública, que deveria ser respeitada e levada em consideração

Gostaria de acreditar que existem senadores honestos, e seria de primordial importância que os jornalistas que cobrem o senado escrevessem a reportagem que ainda não foi escrita: apontar aqueles que não participam de maracutaias, entrevistá-los e ouvir deles o que pensam disso tudo, que tipo de estrago esses atos causam na reputação de todos e nas bases da república, em particular.

Aliás, quando do escândalo da farra das passagens aéreas patrocinado pelos deputados federais, essa reportagem já deveria ter sido feita. São todos os que se utilizaram desse expediente fraudulento e aí só nos resta rezar ou existem, ainda, os que por questões éticas e morais não se deixam contaminar pela podridão do planalto? Nesse caso devemos saber quem são, pois eles merecem o respeito, a consideração e os votos de todos.

Max Wolosker Neto, jornalista e médico

Email: woloskerm@gigalink.com.br

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