Quando a Mãe é Pai também

sexta-feira, 08 de agosto de 2014
por Jornal A Voz da Serra
Quando a Mãe  é Pai também
Quando a Mãe é Pai também

Ana Borges

Márcia já tinha dois filhos — Ana (12) e Daniel (7) —, em 1995, quando soube da nova gravidez. Os tempos eram difíceis, segundo ela, devido ao acidente sofrido pelo marido, o que desestruturou o ambiente doméstico. No entanto, apesar da difícil situação vivida pela família, a chegada do caçula foi comemorada. O bebê nasceu com 3.220 quilos e foi batizado Julio Cesar.

Como qualquer criança, Julio cresceu e se desenvolveu normalmente. Aos 11 meses, um choro incontido e forte avançou madrugada adentro acompanhado de um piscar de olhos incontrolável. A ida até o hospital mais próximo foi inevitável. Após diversos exames e 12 horas de observação, o diagnóstico: otite. Medicado, Julio recebeu alta. Com um ano e três meses, Julio caiu no chão, seu corpo enrijeceu e teve uma convulsão. O neurologista apontou epilepsia e receitou anticonvulsivantes. 

Inicialmente, as crises foram controladas, mas em pouco tempo, se agravaram. Passaram a ser cada vez mais constantes, frequentes, quase incontroláveis. Aos dois anos, andava e falava. Mais quatro meses e ele começou a ter choques anafiláticos e até duas paradas cardíacas. Apesar de toda assistência médica, não havia um diagnóstico. As consultas e tratamentos se estenderam para o Rio, mas sua condição só regredia. 

Foi perdendo peso, parou de andar, perdeu os movimentos do lado esquerdo e chegou a ter 120 convulsões por dia. "Era desnorteante vê-lo apagando-se a cada dia. Mesmo sem condições financeiras, eu buscava, desesperadamente, a cura, ou pelo menos o nome daquela doença, uma explicação que fosse. Eu precisava saber para poder cuidar do meu filho, salvá-lo. Suspeitava-se que Julio sofresse de uma doença degenerativa progressiva. Mas qual? Enquanto isso, os médicos acreditavam que ele não completaria quatro anos”.

Finalmente, o especialista que diagnosticou o caso dele foi encontrado através do filme "O óleo de Lorenzo”, cujo consultório ficava em São Paulo. 

Então, essa mãe/pai, essa criatura chamada Márcia Curty, que pouco tempo depois estaria divorciada, deu início à sua via-crúcis particular. Em dezembro de 1998, quando Julio Cesar estava com pouco mais de três anos, tiveram um primeiro encontro com o médico paulista. Inteirado da situação, o especialista foi direto. Deixou claro que seria muito difícil "trazer” o Julio de volta. "Mas, disse que se eu estivesse disposta a tentar, ele também estaria”. E ela estava, sempre esteve, e continua estando até hoje. 

Após sete anos de intensa pesquisa e incansável investigação, aliados aos constantes exames e tratamentos, a doença foi devidamente diagnosticada: Síndrome de Lennox-Gastaut. 

Domingo passado, dia 3 de agosto, Julio Cesar completou 19 anos. Essa história foi contada e publicada ano passado, sob o título ‘Quando o amor supera a dor’. É comovente e inspiradora. Leia a seguir o que a própria Marcia tem a dizer.    

"Neste domingo comemoramos o Dia dos Pais. E nesta data eu tenho a honra de receber de meus filhos o carinho e respeito que dedicariam ao pai deles. Ao longo de nossa caminhada tentei ser a melhor mãe e o melhor pai que pude ser. 

Procurei passar aos meus filhos conceitos morais, cívicos e, acima de tudo, respeito ao próximo. Que eles vejam seus semelhantes como se veem através de um espelho. Que procurem sempre fazer o melhor para si e os outros, para que as pessoas possam enxergar em cada um deles a sua verdadeira essência.

Hoje festejamos um dia dedicado aos pais, com a alegria de uma trajetória de superação, de união e, principalmente, de respeito mútuo e muito amor. Criar e educar três seres humanos distintos em seus anseios, seus desejos, suas visões de vida, respeitando suas diferenças, exige sensibilidade e serenidade. É um aprendizado constante para o qual devemos estar sempre dispostos e atentos.

Cabe-me orientar meus filhos, ajudá-los quando necessário, mostrar que é possível aceitar os ‘nãos’ que recebemos vida afora, sem perder o rumo, o foco. Não tenho dúvidas de que o amanhã é sempre melhor que hoje. E que para tudo existe um tempo determinado.

Ser mãe e ter me tornado pai fez de mim o que sou hoje. Fortaleceu-me e me fez chegar aonde cheguei. Quantas conquistas, quantas vitórias! Como mãe, sinto-me totalmente realizada; como pai, recompensada. Para finalizar, ressalvo: a única herança verdadeira que deixarei sobre esta terra serão meus filhos. A vocês três, Ana Paula, Daniel e Julio César, obrigada!” 

 

Onde encontrar o livro Quando o amor supera a dor:

Banca de jornal Central (Iracema)

Banca de jornal Paissandu (Marinho)

Cucco Fotos Olaria (Selma)

Farma-Fácil (Rua São João / Centro)

Contatos com a autora: marciaccurty@gmail.com

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