Psicólogos alertam: depois da tragédia, cuidado com o transtorno pós-traumático

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Henrique Amorim

É inegável que as tristes e marcantes imagens da terrível madrugada do último dia 12 dificilmente sairão das mentes de quem vivenciou momentos dramáticos: soterramentos, deslizamentos de encostas, enchentes, gritos por socorro e destruição por todos os lados. Mesmo quem não foi atingido diretamente pela catástrofe, chocou-se com a dor sofrida por familiares, amigos e vizinhos. Muitos, no intuito de tentar esquecer o pesadelo ou até mesmo punir-se por não ter sido atingido, dedicam-se além do necessário e da própria capacidade física a ajudar as vítimas. É o fenômeno denominado na psicologia “culpa do sobrevivente”. Há pessoas que reagem de forma contrária, ficam apáticas. São vítimas do chamado “transtorno dissociativo”.

O psicólogo Othon Vieira Neto, do Instituto Karumã, de São Paulo, que até esta semana, junto com outros 15 voluntários da entidade paulista, prestou orientação psicológica às vítimas nos abrigos e por todo o município, alerta que é melhor sentir a dor da perda de familiares e bens pessoais e materiais aos poucos. “Aquele que tenta fugir da realidade, tentando se sentir útil ao extremo, tomando a linha de frente na ajuda a quem precisa, quando, daqui a pouco parar, seja por sua ajuda já não ser mais tão necessária, ou por total esgotamento físico, sofrerá, então, o choque do trauma”, diz Othon, que dá atendimento a vítimas pós-catástrofes há 13 anos, no Brasil e exterior.

Ele destaca ainda que em muitos casos o trauma do desastre desencadeia o transtorno do estresse pós-traumático, que gera a sucessão das imagens impactantes na mente durante todo o tempo, o medo exagerado de que uma nova tragédia, de proporção ainda maior à já ocorrida, volte a acontecer, reações neuróticas e tomada de decisões impulsivas e precipitadas, como a mudança de casa, o descarte de móveis e objetos que tragam lembranças do episódio, costumam se estender, em média, por até um mês após a tragédia. “Se depois disso os sintomas continuarem, e alguns deles, até mesmo, acentuados, deve-se procurar ajuda psicológica e, caso necessário, psiquiátrica, com intervenção de medicamentos”, observa o psicólogo paulista.

Outros sintomas muito comuns àqueles psicologicamente abalados com grandes desastres são dificuldade de concentração, lapsos de memória, irritabilidade, sustos constantes, hipervigilância dos locais afetados, busca excessiva pelo consumo de bebidas alcóolicas e chocolates, para reduzir a adrenalina. Os psicólogos do Instituto Karumã, cujo nome de origem indígena significa “aquele que alivia a dor”, observam ainda que as chuvas em Nova Friburgo dizimaram comunidades, destruíram casas, igrejas e prédios públicos, mas não inibiram a capacidade dos sobreviventes de trabalhar, seus conhecimentos adquiridos e as experiências de vida, nem tampouco a capacidade de amar a si próprio e aqueles a quem se gosta. “Nas horas de desespero é importante que se lembre da importância de sua vida e daqueles de quem se mais gosta”, reitera Othon Neto.

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