Isso, com certeza, representa um marco para os surdos e deficientes auditivos que se comunicam pela língua de sinais.
Acostumada a viajar e conferir variadas atrações, a psicóloga Luciana Dantas Ruiz, que é deficiente auditiva, ainda não teve a chance de assistir a uma peça traduzida em Libras. Por causa disso, está na expectativa para ver a montagem, que trata de questões polêmicas ao abordar a surdez de maneira literal e metafórica: as pessoas que não conseguem ficar “caladas” por tempo suficiente para entender uma realidade diferente da sua e também sobre os surdos que são fisicamente incapazes de receber estímulos sonoros. E coloca em questão temas que despertam uma curiosidade reflexiva na plateia através da reflexão: “Somos mais um na multidão”, “O mundo é surdo”, “Existe surdez maior que o preconceito, que o orgulho, que a ignorância e que a falta de amor?”
A VOZ DA SERRA: Qual sua expectativa em relação a peça? Luciana Dantas Ruiz
Luciana Dantas Ruiz: Minha expectativa é a melhor possível e estou pensando em formar um grupo de surdos e deficientes para assistirmos. Acho que muitos irão pela primeira vez ao teatro. Já existem peças específicas para surdos mas acho que essa é a primeira encenada por um grande ator como o Antônio Fagundes. Isso, com certeza, representa um marco para os surdos e deficientes auditivos que se comunicam pela língua de sinais. Não faz parte da nossa rotina ir ao teatro e essa peça é o primeiro passo para mudar essa realidade. Na sua opinião, a montagem contribui para a inclusão dessa parcela da população?
O teatro ainda é um tipo de lazer que o surdo fica totalmente excluído. Esta peça do Fagundes é uma exceção que poderia se tornar regra. Pelo menos algumas sessões deveriam oferecer um intérprete, como já vemos nas propagandas políticas e anúncios institucionais. A TV aberta também já dispõe de legendas em sua programação. Essa é a única alternativa para os surdos frequentarem o teatro. Já quem é deficiente auditivo pode contar com os recursos das novas tecnologias. Já existe um equipamento no formato de uma caneta que os atores podem usar pendurada no pescoço e o deficiente escuta através de um aparelho auditivo. Outro dia o programa da Fátima Bernardes mostrou que o Marcos Veras usou isso em um espetáculo, a pedido do pai de um deficiente. A peça também fala da diferença, da não aceitação e de intolerância. Apesar de ter uma vida normal, você já sofreu algum tipo de preconceito?
A única coisa que me incomoda é que as pessoas ainda têm o hábito de chamar os surdos de mudo, mudinho, o que é um equívoco. Minhas cordas vocais funcionam perfeitamente e minha filha costuma brincar que falo até demais. Sou surda de nascença porque minha mãe teve rubéola na gravidez. Isso não me impediu de ter uma vida normal. Estudei, me formei, casei, tive filhos e trabalho como qualquer pessoa. Sou psicóloga especializada em educação inclusiva e atendo a pessoas surdas que façam uso da linguagem de sinais. Também sou professora de Libras, atuando na Candido Mendes, na Secretaria Municipal de Educação de Duas Barras e como tutora na Fundação Cecierj. Paralelamente às atividades profissionais, costumo sempre ser voluntária nas iniciativas em prol da inclusão e da eliminação das barreiras comunicacionais.
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