EM ENTREVISTA a jornal de grande circulação nacional publicada neste fim de semana, a ex-juíza e deputada europeia Eva Joly, responsável por desbaratar julgando e prendendo a cúpula da petrolífera francesa Elf nos anos 90, em escândalo semelhante ao da Petrobras, irrigando o sistema político do país, "só existe uma resposta diante da corrupção: levar os responsáveis aos tribunais e puni-los, seja quem for”. Na época, o caso foi chamado de "o maior escândalo de desvio de dinheiro do mundo ocidental”.
NO RASTRO DAS APURAÇÕES da Operação Lava Jato da Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República decidiu investigar a origem de dinheiro destinado a campanhas e registrados na Justiça Eleitoral. A suspeita é de que parte do dinheiro usado para bancar candidatos do PMDB, do PT, do PSDB e de mais de uma dezena de políticos constituía-se, na verdade, de propina.
O QUE LEVARIA uma empresa privada a bancar campanhas de candidatos de diferentes partidos políticos senão o interesse direto em auferir vantagens mais à frente? Por mais que políticos às voltas com dinheiro suspeito tenham o direito de se defender, é difícil para a população aceitar que não saibam disso. Ou, como alegou o ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa, que se trata de um "empréstimo disfarçado”.
POLÍTICOS ENVOLVIDOS argumentam com uma suposta criminalização das doações, que teriam sido avalizadas pela Justiça Eleitoral. Ainda assim, como alegou o mesmo ex-diretor em sua delação premiada, essa é a maior balela que existe no país.
TEM FICADO cada vez mais evidente que, à medida que as investigações da Lava Jato avançam, trata-se de uma atuação sistemática de empresas do setor privado para auferir ganhos na esfera pública. Algumas delas chegam a atuar sob a forma de verdadeiros consórcios. O objetivo, claro, é garantir contratos favoráveis, por meio de licitações direcionadas, num esquema em que servidores, políticos e empresários se beneficiam, prejudicando todos os brasileiros.
A PRÁTICA adotada no âmbito nacional também pode ser verificada nos planos estaduais e municipais. Eis aí mais um motivo pelo qual o financiamento de campanhas precisa ser repensado e melhor regulamentado. O país não pode mais continuar convivendo com essa farsa impune em que doação, de fato, é propina disfarçada.
Deixe o seu comentário