Vinicius Gastin
O Suspiro e Nova Friburgo. Desde que a praça foi projetada pelo prefeito Ernesto Brasílio, no início do século passado, a localidade, até então cercada de bambuzais, tornou-se um dos principais pontos turísticos da cidade. Entretanto, ao longo do tempo muitas transformações aconteceram, seja por conta de obras, como a reforma feita por Feliciano Costa no fim da década de 50, ou pela força da natureza. Algumas feridas da tragédia de 2011 ainda estão abertas e os projetos para tentar cicatrizá-las existem. Ao menos, um suspiro de esperança.
Problemas pontuais
O caráter turístico e a localização central favorecem a boa qualidade na prestação de serviços. Os moradores não encontram dificuldades com o abastecimento de água, luz e coleta de lixo. As rondas policiais são constantes, e a proximidade da rodoviária urbana ameniza os possíveis transtornos com o transporte público.
A exceção, talvez, seja a Avenida Barucke. As calçadas mal conservadas provocam pequenos acidentes com pedestres, e o profundo buraco no início da rua denuncia o problema mais grave: as inundações provocadas pelos transbordamentos do Córrego do Relógio. Ao final da Rua Adelino Pereira Valente, na esquina, parte da calçada cedeu e o pequeno rio corre a céu aberto. "Quando chove, a água entra em nossas casas. E não precisa chover muito para o bueiro ceder, transbordar e o esgoto se juntar ao lixo da cooperativa. É sempre uma situação muito complicada para nós”, denuncia o aposentado Carlos Roberto, morador do local há 30 anos.
A avenida, inclusive, é utilizada como um dos acessos ao Posto de Saúde Sylvio Henrique Braune, alvo de críticas pela demora no atendimento. "Eu já peguei fichas algumas vezes, passaram dois ou três meses e não fui atendido. Acabei desistindo e procurei outros meios para resolver o meu problema”, conta Carlos.
Outra reivindicação constante dos moradores, a situação dos cavalos de passeio aparentemente melhorou. As denúncias sobre o maltrato com os animais, exposição a condições precárias, mau cheiro e o flagrante de crianças trabalhando parecem ter surtido algum efeito, e pelo menos durante a semana, tornou-se mais raro encontrar os cavalos no entorno da praça.
Na Rua Adelino Pereira Valente, a calçada cedeu e o Córrego
do Relógio corre a céu aberto: inundações são um perigo constante
Um enorme buraco na Avenida Barucke já provocou alguns acidentes com pedestres
Amor, Ciúme, e principalmente Saudade...
As chuvas de 2011 descaracterizaram algumas das principais atrações da Praça. A Fonte do Suspiro, símbolo do amor, saudade e ciúme desde 1865, é um exemplo. De acordo com Edson Lisboa, chefe do Escritório de Gerenciamento de Projetos da Prefeitura, o ponto passará por um processo de restauração. No governo passado houve a tentativa de captação da água em um local mais distante, mas o Inea não autorizou.
"Na época do ex-prefeito Paulo Azevedo ela funcionava com uma cisterna, e a bomba jogava a água, que voltava numa espécie de ciclo. Tentaremos encontrar um local para captar a água que seja aprovado pelo Inea”, afirmou.
Segundo os historiadores, a inauguração das três bicas acelerou a urbanização da área e contribuiu para a construção da igrejinha de Santo Antônio. Construída em 1884 e tombada pelo Patrimônio Histórico do Estado, a Igreja ficou desfigurada ao ser atingida pela queda de encostas e teve que ser recuperada.
No entanto, as enormes barreiras ainda preocupam, e o governo municipal garante que as obras de contenção começam em breve. A empresa Geomecânica venceu a licitação, e aguarda a conclusão do processo administrativo para iniciar a obra. "O estado já conseguiu, através do Ministério das Cidades, os recursos para executar essa obra. Tudo isso inclui o processo de drenagem da Praça do Suspiro, que está em andamento.”
Abandonada, a Praça dos Trovadores aguarda reformas e é utilizada como estacionamento
E a feirinha?
Dentre tantos eventos realizados na Praça do Suspiro, a feirinha talvez seja o mais tradicional. Entretanto, a estrutura pouco mudou ao longo dos anos e os feirantes cobram alguma atitude. "Precisamos de mudanças. Essa feira já teve um movimento bem melhor, pois não evoluiu com o tempo. Nós pedimos um pouco mais de atenção do poder público”, declarou uma feirante que preferiu não se identificar.
Ao menos o poder público reconhece a precariedade da feirinha. Edson Lisboa revelou a intenção de criar um complexo de lazer integrando o Suspiro e o Bom Pastor, a partir da cobertura do Córrego do Relógio, implantação de uma ciclovia e urbanização do entorno.
"Dentro de um planejamento urbano, a feira passará a se integrar àquela área do Bom Pastor. Ela está antiga, e até certo ponto abandonada. Ainda não conversamos com os feirantes, mas fizemos um levantamento e um projeto. Em qualquer cidade há um mercado que é um ponto turístico, um espaço gourmet. Existem aulas de gastronomia e outras atividades. A nossa ideia é incentivar exatamente essa parte.”
A captação dos recursos depende do projeto, que ainda está em fase de elaboração. A ideia é interligar o espaço do mercado à feira, e para tanto, o comércio atacadista da cooperativa será extinto. "Ali é um centro varejista. Para o atacado já tem o Ceasa, até porque não há condições de descarregar caminhões ali. As peixarias continuam funcionando, o que não queremos é aquela quantidade de caixas e veículos. O trânsito é intenso, a sujeira é grande e isso tem que acabar.”
Praça das Colônias: abandono à espera de soluções
Desde janeiro de 2011 pouca coisa mudou na Praça das Colônias. O espaço passou apenas por um processo de limpeza, incapaz de esconder a realidade exposta pelos banheiros em estado deplorável e pela cobertura da antiga cantina ainda destruída. As arquibancadas do anfiteatro estão abandonadas, e o mato toma conta de boa parte do espaço onde as apresentações encantavam o público.
Lisboa garante que a emenda para a recuperação da Praça das Colônias já foi aprovada. O valor — algo em torno de 500 mil reais — será utilizado pela Secretaria de Cultura para a reforma do espaço, e vai abranger também o Anfiteatro. "Falta concluir os últimos detalhes, e as obras necessárias serão feitas pela Secretaria de Cultura”, garante.
O anfiteatro será contemplado pela emenda destinada à recuperação da Praça das Colônias
Terreno deve receber espaço turístico
Há algum tempo o terreno localizado na esquina entre a praça e a Rua General Osório, ao lado da sede do Tiro de Guerra, chama a atenção pelo abandono. Recentemente, a prefeitura vetou a compra do espaço por uma rede de supermercados. Lisboa não revelou exatamente o que será feito, mas a ideia é aproveitar o local como um novo espaço turístico. "O terreno será desapropriado pela prefeitura, e nós estamos trabalhando com um projeto ligado à educação e tecnologia, que tem a ver com turismo e ciência.”
A Praça dos Trovadores, tomada por carros e com o acesso repleto de irregularidades, deverá passar por reformas, custeadas por um grupo particular. As ruas que dão acesso ao parque do Teleférico também sofrem com a má conservação.
Prefeitura pretende desapropriar terreno na esquina com a Rua General Osório, e investir em um novo espaço turístico
Teleférico aguarda decisão da Justiça
Inaugurado em 1971, o Teleférico da Praça do Suspiro tornou-se um dos maiores símbolos de Nova Friburgo. Entretanto, o empreendimento de 33 metros de cumprimento também sofreu danos na tragédia de 2011, quando teve uma das torres superiores afetada por um escorregamento de terra, e desde então não voltou a funcionar.
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