Projeto Mosartes terá livro lançado amanhã

sexta-feira, 20 de novembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Por Nai Frossard

“Ouvi falar antes que arte é cultura... agora eu sei”. Esta foi a afirmação do jovem Adam Amorim, de 16 anos, depois de participar do projeto Mosartes - Mosaico de Artes&Gente, realizado entre os meses de março e junho deste ano, na Oficina Escola de Artes de Nova Friburgo (Pontão de Cultura da Serra do Rio), que agora lança um  livro sobre o trabalho. O projeto, coordenado pelo músico Gui Mallon, foi patrocinado pela Funarte, através Prêmio Interações Estéticas.

Assim como Adam, outras dezenas de estudantes de escolas públicas de Nova Friburgo mergulharam no processo artístico intenso durante três meses. O resultado de tantas descobertas neste exercício da criatividade em diversas formas de arte, realizado por mais de cem pessoas, será exposto na Oficina Escola neste sábado, 21, das 15h às 18h, com mostra dos trabalhos, lançamento do livro Mosartes e DVD que documenta e ilustra a experiência do projeto. “É um marco tanto na literatura quanto na música e nas artes plásticas: produto único, feito por 212 mãos - um experimento não só de criatividade coletiva, mas estéticossocial”, comentou Gui Mallon, empolgado com o envolvimento dos participantes em seu projeto.

Mosartes é um método de criação coletiva desenvolvido pelo artista brasileiro quando participava do projeto Genklang, realizado durante dois anos (2007-2008) na Suécia (na cidade de Vara). Nos dois trabalhos o foco é mais no processo, nas atividades desenvolvidas, do que no resultado em si. O projeto inclui um método de decisão aberto a todos, onde os participantes têm liberdade de propor e eleger propostas do trabalho. E foi assim que aconteceu na Oficina Escola de Artes de Nova Friburgo.

As atividades foram organizadas em sessões de uma a duas horas semanais, envolvendo aproximadamente 120 pessoas, e os grupos fizeram composições coletivas de teatro, pintura, música, fotografia, vídeo, pequenos textos e poesias. O objetivo final era compor um livro e CD de arte com o material coletado, sem que os participantes se inteirassem completamente disso, porque o mais importante estava nas práticas artísticas.

O diferencial do projeto Mosartes foi o de buscar a maior heterogeneidade possível na composição dos grupos de trabalho, envolvendo os alunos da Oficina Escola de Artes (jovens de 10 a 17 anos, na sua maioria moradores da periferia da cidade e da rede pública de ensino), alunos especiais, jovens de escolas particulares, usuários do Centro Municipal de Assistência Psicossocial (Caps), adultos voluntários – profissionais de diversos ramos de atividade, professores e artistas profissionais. Uma das metas era comparar e discutir contrastes, buscando novas perspectivas e formulações estéticas. Outro era a busca de inserção social.

Os alunos criaram um painel composto de 36 peças de folhas A4 pintadas (cerca de dois metros) e foram responsáveis por um ‘mural musical’, uma composição coletiva para orquestra de cordas e cinco solistas (além do operador de som). Eles também produziram outras peças artísticas, como desenhos abstratos, em preto e branco, que foram chamados de Arte Telefônica (inspirados nos desenhos ‘distraídos’). Também fizeram desenhos coloridos (acompanhados de textos individuais sobre algum tema) e mandalas. A fotografia também foi incluída na programação, e os participantes documentaram o meio ambiente físico e humano em alguns locais da cidade.

“O inusitado desta experiência coletiva pode, muito bem, afetar a vida do indivíduo, levar seus destinos para rumos inesperados, quem sabe até mesmo despertar chamas existenciais, causar ‘clics’.  Foi primordial a participação mediadora do coordenador Gui Mallon, para que o projeto tivesse uma qualidade estética superior, uma direção”, contou o artista plástico Raimundo Peres, um dos participantes do Mosartes.

Para Gui Mallon, o projeto foi importante em dois aspectos: linguagem e estrutura. “O espaço de criação coletiva demonstrou-se um excelente tubo de ensaio para calibrar a mensagem dentro de uma linguagem forjada no campo de ação. Para mim, esse reencontro com as sutilezas e rituais de expressão das novas gerações brasileiras foi de valor inestimável para os meus próprios processos criativos. Neste projeto, foi muito útil para mim ver que, mesmo quando a obra não surge de um plano, de uma estrutura pré-estabelecida ou tema, ainda assim a estrutura pode se revelar a posteriori – através da análise”, disse.

O projeto foi comemorado tanto pelos alunos quanto pelos professores e teve até quem fizesse declarações inusitadas. “Muito positivo o resultado do Mosartes em nossa escola, a única coisa lamentável foi eu não ter tido tempo de participar! O mais interessante foi que o projeto apareceu sem uma forma definida, foi ‘esculpido’ pelos participantes de maneira democrática”, declarou o diretor administrativo da Oficina Escola de Artes, Mário Bastos Jorge.

Entre os profissionais de arte e mídia que participaram ativamente destes grupos estavam a diretora da Oficina Escola de Artes (Ponto de Cultura),  Rose Mary de Aguiar Borges; o professor de teatro Gero Band, a professora de dança Vanessa Tozetto e Diego Sayheb, professor de mídias digitais. Mas houve outras colaborações: Erlinto Pinheiro, locutor de rádio, a professora de história Erika Marquet, a poetisa Joana Dar’c da Veiga e o artista plástico Raimundo Peres. Para conhecer mais o projeto, iniciado pelo Prêmio Interações Estéticas/Funarte, acesse o site www.mosartes.org.

O Mosartes por seu criador

Desde o advento da era cibernética e, depois, com a internet, a criação artística tem aprofundado em velocidade vertiginosa sua expansão por outras fronteiras e mídias.

O projeto Mosartes - Mosaico de Artes&Gente é uma vertente friburguense deste fenômeno que se observa mundialmente. Nele, os 73 participantes da Oficina Escola de Artes de Nova Friburgo, juntamente com outros 43 participantes da comunidade, se jogaram em uma aventura criativa que incluiu textos (poesia, crônicas, micropeças teatrais, textos filosóficos etc), imagem (vídeo, fotografia, desenho, pintura), som e internet.

O método, classificado pelo artista plástico Raimundo Peres como “tempestade cerebral”, resultou em diversas obras coletivas e individuais de grande relevância, destacando-se o Painel Mosartes, pintado por “216 mãos ou mais”, subintitulado Democracia, com aproximadamente três metros quadrados de área. Já o livro/DVD documenta o processo criativo e registra muitas das inúmeras obras resultantes, que serão gradualmente disponibilizadas no site www.mosartes.org.

Como dispositivo de pensamento e de percepção sociopolítica, o Mosartes interrogou e às vezes atribuiu novos significados às coisas que nos cercam e que povoam nossa realidade. Imagens, sons, ideias se fundiram em contextos criativos surgidos durante os trabalhos coletivos, alguns completamente únicos. Desse modo, podemos afirmar que o livro Mosartes - Mosaico de Artes&Gente é um marco histórico na produção artística de Nova Friburgo.

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