Projeto Dentista do Bem beneficiará crianças e jovens de comunidades pobres

sexta-feira, 04 de dezembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

“Favela é o espaço físico onde pessoas vivem em extrema desvantagem social, independente de ser quilombola, indígena ou comunidade popular. As variações de nomenclatura servem para desviar o foco e diminuir a tensão e a cobrança. Não adianta chamar a favela de comunidade se não resolvem seus problemas fundamentais. Se for pra ter um nome bonito, sugiro chamar de Ateliê. Mesmo que as pessoas continuem passando fome, sem saneamento básico, teremos um nome bonitinho. Resolve? A pior forma de mudar uma dura realidade á fugindo dela. Não se muda o nome, mudamos os fatos.”

As palavras de Celso Athayde, coautor do livro Falcão – Meninos do Tráfico, em parceria com MV Bill, não só justificam o fato de a Central Única das Favelas (Cufa) levar a palavra favela em seu nome, mas também aquecem a memória das pessoas quanto a uma realidade muitas vezes preterida, destituída de crueza e veracidade para a maioria das pessoas, que não chegam a fingir sua inexistência – o que ocorre é que uma realidade social diferente, mais brutalizada e brutalizadora, só consegue parecer verossímil quando observada pela tevê, ou, em último caso, quando tal desdém pelos outros atinge o limite do insuportável e o que antes era limitado às regiões marginais de repente invade a segurança da realidade pré-programada e encerra, sem muitas picuinhas, o que se tomava como certo até então. A Cufa existe e trabalha na intenção de encerrar com esta problemática, mas não pela intimidação ou pela opressão, como os aparelhos de segurança da sociedade costumam agir.

É com a intenção de coordenar os moradores da periferia, ou seja, de bairros pobres, com pouco acesso à cultura, que a Cufa promove atividades diversas para valorizar e reconhecer a existência de uma cultura que, por sua vez, já não é tão à parte e toma conta do mercado: um olhar atento sobre as opções culturais produzidas a partir dos guetos revela que, embora atrativos esportivos e culturais, como rodas e batizados de capoeira, dança e basquete de rua, hip-hop e até o funk já não pertencem mais à marginalidade, foram absorvidos por toda a sociedade. Mas apenas a cultura no aspecto de sua lógica e movimento foi absorvida, porque os indivíduos da periferia e dos centros urbanos continuam separados, salvo um ou outro breve contato de mercado (empregatício, tráfico de drogas, coleguismo profissional ou outros), principalmente no que tange às estruturas de atendimentos básicos à população.

Desta vez, a Cufa, em parceria com a Turma do Bem, traz a Nova Friburgo o projeto Dentista do Bem, que oferecerá tratamento dentário gratuito para quase dois mil jovens. Com a missão de mudar a percepção da sociedade na questão da saúde bucal e da classe odontológica em relação ao impacto de sua atividade na sociedade, o projeto Dentista do Bem conta com o trabalho voluntário de cirurgiões-dentistas que atendem a crianças e adolescentes de baixa renda, fornecendo tratamento gratuito até a idade de 18 anos.

Os selecionados pertencerão a duas escolas públicas de Nova Friburgo, uma em Conselheiro Paulino e outra no bairro do Cordoeira. O tratamento é realizado no consultório do próprio dentista voluntário (são mais de 3.100 em todo o país), tendo caráter curativo, preventivo e educativo, com uma seleção realizada através da aplicação de um índice de prioridade que beneficie crianças com problemas bucais mais graves, as mais pobres e as mais próximas do primeiro emprego.

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