Foto: Bertha do Valle: “É preciso valorizar sempre os professores”
O Ministério da Educação irá implantar a partir de 2011 um novo Plano Nacional de Educação que deverá vigorar por pelo menos uma década. O órgão pretende implantar um novo e moderno gerenciamento da educação básica no país. Para elaborá-lo, porém, levará em conta as propostas encaminhadas por quem mais deve entender do assunto: os educadores. As sugestões dos profissionais de todo o Brasil serão discutidas e definidas na Conferência Nacional de Educação, que acontecerá ano que vem, em Brasília, com representantes de todos os 27 estados da federação.
As propostas dos educadores fluminenses para reger o novo Plano Nacional serão debatidas e escolhidas daqui a três meses, no Rio de Janeiro, na Conferência Estadual de Educação. Para compô-la já vêm sendo realizadas conferências intermunicipais, a fim de escolher as propostas locais. Uma delas será realizada em setembro, em Nova Friburgo, no ginásio esportivo do Colégio Nossa Senhora das Dores, no Centro, com educadores de 15 municípios das regiões Serrana e Centro-Norte do estado.
A professora de Políticas Públicas, Gestão Participativa e Metodologia de Pesquisas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Faculdade Santa Dorotéia e integrante do Conselho Municipal de Educação de Nova Friburgo, a educadora com 50 anos de magistério, Bertha de Borja Reis do Valle, está confiante que as propostas escolhidas nas 11 conferências intermunicipais de educação do Rio de Janeiro irão resultar na implementação de melhorias significativas, principalmente no ensino público brasileiro. Uma delas deverá ser a aprovação do projeto de educação continuada para a formação de novos professores.
A intenção de muitos educadores é que a habilitação dos professores do ensino fundamental não se dê somente com o curso de formação no ensino médio (antigo normal), mas com a especialização superior. “Atualmente há uma crise latente na formação dos futuros professores. Antigamente os alunos tinham aulas de francês, latim, desenho, música e canto. É preciso preparar bem os futuros educadores que precisam ainda de atualização permanente e uma visão maior do contexto educacional que se obtém com o nível superior”, defende Bertha do Valle.
A polêmica aprovação automática
novamente no centro dos debates
Outra proposta que deverá ser alvo de debates na conferência em setembro e também nas próximas é a polêmica proposta do sistema de aprovação automática no primeiro segmento (1º ao 5º ano) do ensino fundamental. Bertha é contrária à reprovação nesta fase da vida escolar dos alunos. “Reter o aluno na mesma série não leva a nada. Será que a falta de rendimento dessa criança ao longo de um ano inteiro não seria, em parte, culpa do professor que não conseguiu transmitir todo o conteúdo pedagógico? Cabe aos professores também fazer uma autoavaliação de seu trabalho. Se ao final do bimestre a maioria da turma teve média vermelha não seria sinal de alguma falha do professor?”, questiona Bertha.
A educadora, que escolheu Nova Friburgo para morar há 20 anos, lembra ainda que caberá ao governo facilitar a atualização dos profissionais de educação. Ela observa também que as últimas avaliações do Ministério da Educação revelaram a deficiência na aprendizagem dos alunos dos ensinos fundamental e médio. “Falta aos estudantes o conhecimento básico e cabe aos professores rever isso através de um processo pedagógico a ser implementado nas escolas. Mais do que nunca é preciso investir mais, e sempre, na educação”, sustenta Bertha.
Ela aposta no bom resultado que pode ser obtido com a implantação gradual do horário integral nas escolas de ensino fundamental, com complementação das aulas regulares com cursos de música, coral, artes, esportes, bandas e capoeira, por exemplo. Se não houver espaço físico na escola para essas atividades podem-se utilizar espaços afins nas comunidades, como quadras públicas, igrejas e praças. Na opinião de Bertha, tal artifício colabora ainda para maior interação das comunidades com a educação. “Quem sabe até alguns moradores possam se capacitar tecnicamente para ajudar aos professores nessas atividades complementares com os alunos. Pode até ser uma maneira de atrair mais candidatos ao magistério, uma carreira que infelizmente hoje já não desperta o interesse de tanta gente”, avalia Bertha do Valle, que já integrou também o Conselho Municipal de Educação do Rio de Janeiro.
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