Comemorado neste sábado, 15, o Dia do Professor motiva uma reflexão sobre os desafios e conquistas desse profissional tão importante para a formação do cidadão. Apesar de ser peça fundamental no desenvolvimento de uma nação, o professor tem sido cada vez mais desvalorizado no Brasil. Baixos salários, más condições de trabalho e desrespeito dos alunos são alguns dos problemas que a classe vem enfrentando nas salas de aula brasileiras. Diante de tantas dificuldades para lecionar, a equipe de A VOZ DA SERRA foi conferir com alguns professores da cidade se a data deste sábado merece ser comemorada. Confira os depoimentos:
“Infelizmente vivemos em um país em que a educação nunca foi uma prioridade para o nosso ‘querido’ governo. Mesmo assim, eu me sinto cada vez mais realizado com a minha profissão. O fato é que nós, professores, temos o prazer de ver nossos alunos se transformando em cidadãos conscientes. Quando pensamos em educação não podemos deixar de mencionar Paulo Freire, um brasileiro considerado um dos maiores educadores do mundo. Segundo ele, a educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. E pessoas transformam o mundo.
Neste ano letivo, promovi algumas atividades culturais na escola em que trabalho, tendo como principal objetivo proporcionar aos alunos novas experiências educacionais. Esse curto período foi suficiente para que eu percebesse o importante papel que desempenhei nesses momentos. Sendo assim, termino este depoimento enfatizando o papel ‘transformador’ do professor, pois este tem todas as ferramentas necessárias para colocar nosso país no rumo certo.”
Jonathan Lima Angelo, professor de música
“‘Ser professor é como ter o prazer de cheirar uma rosa e se ferir no espinho’. Era o que dizia um querido mestre que me deu aulas no antigo científico. Achei que ele estava ficando demente por causa da idade avançada e continuei perseguindo meu sonho: ser professora. Mas, quando se é jovem não se pensa em dificuldades. Hoje, vejo que ele tinha razão. De qualquer forma, não me arrependo de ter realizado o meu sonho. Colocando na balança o bom aroma das rosas que colhi e dos espinhos que me feriram, sinto-me realizada.
Ser professora me possibilitou sonhar, contribuir na formação de pessoas melhores para um mundo melhor. Graças à minha profissão pude ajudar pessoas com dificuldades no aprendizado da matemática e auxiliá-las através da contabilidade, a gerir seus negócios e as contas domésticas.
Ressalto que fiz ‘tudo isso’ ao longo de ‘vinte e quatro anos de profissão’ e quando olho para trás sinto-me frustrada por não ter tido um futuro um melhor. Devido aos longos anos de estudo e dedicação ao trabalho, tenho certeza que merecia estar com a situação financeira mais equilibrada.
Não me agrada chorar as pitangas, mas dar aulas, principalmente em colégios com pouca ou nenhuma infraestrutura, sobrecarrega o professor e o leva a um estado de estresse muito grande. E isso não apenas no horário em que está no trabalho controlando trinta, quarenta ‘anjinhos’ que os pais não aguentam em casa. É extremamente difícil ir para casa e ter que continuar a jornada em meio a provas e aulas para preparar... Sem falar que temos que trabalhar em dois, três colégios para ter um salário um pouquinho melhor. Por conta disso, e também da falta de respeito da sociedade e consequentemente do aluno, a categoria está cada vez mais desmotivada.
Vejo muitos colegas desistirem da carreira por falta de reconhecimento. Na rede estadual nunca tantos professores pediram exoneração. Os profissionais de educação que estão se formando, não querem se sacrificar tanto por tão pouco. Em Nova Friburgo, o número de professores estaduais em greve foi expressivo no último movimento da categoria. Foi a cidade que registrou o maior número de adesões percentual no estado. As escolas estão com professores e profissionais de apoio de menos e com tecnologia deficiente, obsoleta e de má qualidade.
A situação é crítica, mas ainda tenho a esperança de que no futuro essa situação mude e os alunos tenham um pouco mais de respeito das autoridades, para que se sintam mais seguros, confortáveis e respeitados. Sei que a mudança de mentalidade é lenta, mas continuo lutando pela educação de excelência para construir um Brasil melhor.”
Rita de Cássia de Azevedo, orientadora tecnológica da Escola Estadual Marcílio Dias
“O professor tem que comemorar em primeiro lugar a certeza da sua escolha como profissional da educação. Como qualquer profissão, ser professor é ser apaixonado pela vida, pelas nuances que compõem o ser humano. Tenho certeza de que os professores são e continuarão a ser a base de uma educação fundamentada na ética e na honestidade. Tenho muito respeito pela profissão que escolhi. A todos os professores, que esta data seja sempre comemorada com muita alegria e determinação.”
Mônica Monnerat, professora e pedagoga no Centro Educacional Monnerat (Pontinha do Sol) e coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Candido Mendes
“Este ano, o feriado escolar do Dia dos Professores cai num sábado; isso quer dizer que nós, professores, perdemos a única razão para comemorarmos esta data, pois, afinal, seria um dia a mais de descanso. É lastimável que pessoas cuja profissão é considerada tão nobre, tenham que recorrer a um artifício tão mesquinho para ter o que comemorar. Ao longo dos anos, as razões para festejar foram sendo esmagadas pelo descaso dos governos, cujas autoridades vivem de enganar a sociedade com falsas promessas eleitoreiras; enganam inclusive a nós, professores, que passamos a nos satisfazer com a ilusão de que ‘agora vai ser diferente’. Quem vive de ilusão, morre de decepção. Quem sabe, no próximo ano, poderemos comemorar o despertar de nossas consciências? Já sei qual vai ser minha causa mortis.”
Noélia Mamede, professora de língua portuguesa
“Eu acho que os professores não têm muito o quê comemorar, como qualquer trabalhador neste país, porque a voz corrente é a retirada de nossos direitos. Cada vez mais os nossos salários estão sendo achatados e isso não nos dá condição de nos atualizar, comprar livros, fazer uma pós-graduação. E mesmo que consiga fazer não existe um plano de carreira que o professor possa ser galgado a um salário melhor. E não é só a questão financeira, mas também a questão do ambiente de trabalho, pois as condições pioram cada vez mais. E tem a questão da meritocracia—agora a promoção é por mérito—e isto provoca uma guerra entre os profissionais. Vamos pegar o estado como exemplo, onde determinadas pessoas ganham determinadas quantias a mais por produtividade. Isto está nos levando a um problema muito sério dentro da categoria. É esse tipo de sistema que está sendo implantado, principalmente no estado. Não é um ambiente propício à categoria. Eu acho que o professor deveria ser mais valorizado, até porque quem faz a escola é o professor. Ele tinha que ter um plano de carreira, tanto da rede estadual quanto da particular, para que possa se atualizar, fazer determinadas graduações, pós-graduação, mestrado e doutorado e assim poder receber um salário melhor. Hoje, para sobreviver, um professor tem que dar aula em três, quatro, cinco colégios.”
Francisco Perez Levy, professor aposentado e diretor do Sindicato dos Professores de Nova Friburgo
“Temos a comemorar o fato de estarmos sendo úteis e incentivando a apreensão do conhecimento. Agora, eu acho que, em termos de valorização profissional, não temos o quê comemorar. O professor tem prazer pelo que faz, pois se não tivesse contentamento na realização do seu ofício provavelmente não estaria neste ramo de trabalho. Mas profissionalmente, o professor poderia ser mais valorizado. Tanto na escola pública quanto na particular. Eu penso que poderia haver um incentivo maior, plano de carreira, até para que os jovens se interessem também pelo mercado de trabalho como professor. Se a gente observar hoje, nas universidades há um número cada vez menor de pessoas que têm a intenção de atuar como professor. A gente pode também diagnosticar essa carência no estado, onde não se encontram muitos professores de determinadas áreas, como de exatas, por exemplo. Uma pessoa não vai se formar, estudar quatro ou cinco anos na faculdade para ganhar o que a iniciativa, tanto pública quanto privada, está pagando. Realmente é pouco. Muitos que entram não seguem na profissão. A gente pode observar que no próprio estado, na Seeduc [Secretaria Estadual de Educação], entram muitos professores, mas ao mesmo tempo muitos abandonam o magistério. A rotatividade parece simples, mas na realidade não é. Lidar com jovens, de variadas formações familiares e ideias, estabelecimentos de ensino com uma série de concepções e regras, faz com que o professor reflita se vale a pena ter 300 a 400 alunos. Quando ele põe tudo isto na balança vê que é uma responsabilidade muito grande. São vidas que estão sob nossa responsabilidade.”
Gleicy Vasconcellos, professora do Instituto de Educação de Nova Friburgo (Ienf)
“O dia dos professores é uma data que causa emoções ambivalentes, principalmente no Brasil: por um lado, vivemos numa sociedade que não valoriza o saber; valorizamos mais os glúteos do que o cérebro; pouco nos importamos com os multiplicadores do conhecimento, os professores; por outro lado, é com orgulho que os verdadeiramente vocacionados celebram não somente o dia de um certo tipo de profissional, mas a celebração da própria tradição da irradiação do saber; comemoramos hoje o próprio conhecimento, encarnado na figura do mestre, daquele que conduz e cria as condições de possibilidade das infinitas aventuras do conhecimento. Aproximar-se de um saber, seja ele qual for, implica, antes de tudo, aproximar-se de alguém que já se encontra nesta infinita corrente de transmissão. O professor, antes de tudo, faz uma aposta, uma aposta pelo futuro. O professor é antes de mais nada uma ponte, um otimista, pois está convencido, mesmo que inconscientemente, da possibilidade do aperfeiçoamento humano através do cuidado, do cultivo das infinitas potencialidades de toda e qualquer natureza humana. Celebremos, portanto, o saber e os seus guardiães.”
Clodomir Andrade, professor de Filosofia
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