Primeiro semestre teve quase 200 acidentes com motos em Friburgo

Motociclistas pedem aos motoristas mais atenção nas ruas da cidade
sábado, 14 de julho de 2018
por Guilherme Alt
Motos no trânsito de Friburgo (Fotos: Henrique Cordeiro)
Motos no trânsito de Friburgo (Fotos: Henrique Cordeiro)

25 de janeiro de 2018: “Acidentes deixam dois mortos, na RJ-116 e na RJ-130. Colisões envolveram carro, moto e carreta, em Banquete e no Córrego Dantas”.

12 de março de 2018: “Jovem de moto morre após acidente na Curva do J.J”.

10 de abril de 2018: “Caminhão atropela e mata motociclista no Jardim Ouro Preto”.

Têm sido recorrentes, infelizmente, os acidentes envolvendo motocicletas em Nova Friburgo. De acordo com dados divulgados pelo Corpo de Bombeiros, comparando os primeiros semestres dos três últimos anos, foram 119 ocorrências em 2016; 240 em 2017; e 194 este ano.

As estatísticas revelam que esse tipo de acidente ocorre mais nos meses de fevereiro, março e abril. Talvez por causa de feriados como o carnaval e das chuvas do final de verão. 

Ter uma moto, no entanto, é um combo de vantagens: IPVA mais barato, baixo custo de manutenção e de combustível e pouquíssima perda de tempo em congestionamentos. Mas o barato pode sair caro. Como disse Jô Soares, sobre dirigir uma moto: “É como uma pessoa que fuma: sabe que está lutando contra a própria vida”.  E após sofrer um traumático acidente de moto, Jô atestou: “Veículo de duas rodas foi feito para cair”. Muitos motociclistas, entretanto, discordam.

O contraste das vantagens com a falta de segurança evita que muitos optem pela motocicleta, mas é inegável que, com o aumento do número de motociclistas no trânsito, aumentam os acidentes. Acidentes acontecem em qualquer lugar e com qualquer meio de transporte, mas é inegável, também, que a moto, entre os meios de transporte, é a que oferece menos segurança.

No ano passado, bombeiros registraram 465 acidentes com motos

Os dados do Corpo de Bombeiros mostram que o número de acidentes envolvendo motocicletas aumentou 165,40% em um ano (2016-2017), pulando de 263 para 465. Um deles foi o que sofreu Leocádio Moraes, de 28 anos. O rapaz dirige desde os 18 e já se envolveu em três acidentes. O mais grave ocorreu quando o motorista de um carro resolveu mudar de faixa sem sinalizar, como determina a lei de trânsito, pegando-o de surpresa. “Tive lesão no tornozelo, fratura no dedo e um ombro deslocado. Fiquei cerca de oito dias no hospital, esperando pela cirurgia. Acredito que se eu não tivesse cobrado de forma insistente, teria ficado mais tempo para ser atendido. Demorei um mês para recuperar o tornozelo; a fratura no dedo demorou seis meses para melhorar e o ombro ainda não está recuperado”, conta ele.

Matheus Vieira, de 23 anos, resume bem o aumento da estatística relacionado às condições climáticas. Os dois acidentes em que se envolveu, foram em dias de chuva. “O primeiro foi na estrada de Lumiar. Eu já sabia que a estrada não estava boa, cheia de buracos e perigosa. Um animal atravessou na minha frente. Tentei desviar, mas a moto acabou derrapando e eu caí. A segunda vez, foi no Cascatinha. Ao fazer uma curva, a moto derrapou na pista molhada e caí. Dos dois acidentes, somente no segundo sofri uma lesão  e fiquei com um dos pés engessado. Ainda bem que não foi nada tão grave”, diz o motociclista.

Já a estudante Dani Mello, de 22 anos, se envolveu em um acidente quando dirigia seu carro pelo bairro Duas Pedras. “Estava parada no cruzamento, na altura da Serrana. Era um dia de chuva forte, e a visibilidade muito ruim. Quando acelerei não vi a moto que vinha do lado oposto e acabei colidindo com ela. Prestei toda a ajuda necessária, desde os primeiros socorros, até o acompanhamento médico na hora e posteriormente. Felizmente, nada de mais grave aconteceu e a pessoa não precisou ser operada e hoje ela está bem. Paguei os custos da moto e um celular pois o da vítima quebrou, com a queda. Até hoje eu tenho trauma desse dia. Minha atenção mais do que dobrou, quando dirijo”.

Afinal, de quem é a culpa?

As ocorrências e os exemplos desta reportagem mostram que são poucos os motoqueiros que se acidentam sozinhos. Existe sempre um fator extra que provoca os graves acidentes. Mas, sem querer apontar o dedo e colocar a culpa em X ou Y, o importante é que haja a consciência de todos os lados, do motorista, do pedestre, do ciclista e quem mais estiver envolvido no trânsito, garantem as autoridades de trânsito.

Assim pensa Rosimery Machado, proprietária da Flash Boys, empresa de delivery. Sob sua tutela estão atualmente 15 motoboys. De acordo com Rosimery, a orientação é sempre ter cautela. “Queremos que o profissional dirija para ele e para os outros. Dos nossos registros, cerca de 90% dos acidentes que aconteceram com nossos funcionários, a culpa foi do motorista do carro. Eu ando de moto, também. Sei que, em muitos casos, somos imprensados e jogados de lado. É preciso que haja um respeito de todos. Aqui eu falo para todos que a vida de ninguém vale mais do que chegar mais rápido para realizar a entrega”, sustenta a empresária.

Ainda de acordo com Rosimery, existe muito desrespeito com os motoboys. “Outro dia, um funcionário estava realizando uma entrega, quando um homem chegou ao lado dele e falou: ‘Odeio essa raça’. Como se o problema fosse das motos. Nós executamos uma tarefa que facilita e agiliza a vida de muita gente e o retorno é esse? Garanto que essa pessoa agradece por existir “essa raça” na hora em que ele está com preguiça de sair de casa e pedir uma pizza ou um remédio na farmácia”, acredita Rosimery. E, de fato, ela tem razão. Não adianta propagar o ódio e nem desfilar a culpa no outro. Todos temos responsabilidades.

Roger Corrêa (foto), de 22 anos, por exemplo, sofreu um grave acidente em uma das principais avenidas da cidade e só voltou a ficar 100% ou quase isso, após um ano. “Foi  na Avenida Conselheiro Julius Arp, em frente a casa onde funcionou o Colégio São João Baptista. Nesse dia havia uma obra ali por perto e por isso um caminhão estava estacionado no local. Eu vinha a mais ou menos 80 quilômetros por hora. Um carro que estava à minha frente, parou ao lado do caminhão e não tive tempo de frear. Para não bater na traseira do carro tentei jogar a moto no corredor, mas minha moto não cabia ali. Fiquei preso entre o caminhão e o carro. Minha perna direita bateu no caminhão e quebrei a tíbia”, conta o jovem que ficou internado por um mês no Hiospital Raul Sertã. No total, foram 48 dias no leito até a cirurgia. “Agora, tenho uma placa de ferro e seis parafusos na tíbia direita. Após a operação fiquei mais oito meses em casa em recuperação, fazendo muita fisioterapia e repouso. Somente depois de um ano após o acidente que eu fui liberado da fisioterapia”, disse.

Apesar dos acidentes e de admitirem que as motos não oferecem segurança, muitos continuam a pilotar motos e garantem que as vantagens compensam. Eles, contudo, fazem um alerta: “A segurança deve ser uma preocupação de todos. As motos não são perigosas. O trânsito e as pessoas é que não respeitam as leis e andam desatentas pelas ruas. Eu não abdicaria de andar de moto, como não abdiquei, mas gostaria de ter um carro também, principalmente pelo conforto de não ter que me molhar em dias chuvosos. Como não tenho condições de ter um carro e o transporte público é ruim, ando de moto. Não digo que sou motorista modelo, que não erra nunca, mas há muito desrespeito nas ruas”, atesta Leocádio Moraes (foto).

“Eu continuo andando de moto, sei que tem menos segurança em relação a um carro, mas financeiramente vale a pena. Acidentes ocorrem tanto com moto, como com carros. O que importa mesmo é a consciência do motorista. Hoje em dia eu ando com muito mais cautela”, finaliza Roger Corrêa.

Acidentes com motos em Nova Friburgo:

2016:

  • Janeiro - 18
  • Fevereiro - 14
  • Março - 18
  • Abril - 26
  • Maio - 19
  • Junho - 24
  • Julho - 33
  • Agosto - 25
  • Setembro - 28
  • Outubro - 19
  • Novembro - 19
  • Dezembro - 20

Total - 263

 

2017:

  • Janeiro - 30
  • Fevereiro - 37
  • Março - 42
  • Abril - 57
  • Maio - 35
  • Junho - 39
  • Julho - 36
  • Agosto - 30
  • Setembro - 31
  • Outubro - 38
  • Novembro - 25
  • Dezembro - 35

Total - 435

 

2018:

  • Janeiro - 29
  • Fevereiro - 25
  • Março - 42
  • Abril - 41
  • Maio - 28
  • Junho - 29

Total - 194

Fonte: 6º Grupamento do Corpo de Bombeiros

 

 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: acidente
Publicidade