No dia 30 de abril o MPF – Movimento de Preservação Ferroviária comemorou no Rio de Janeiro os 156 anos da Estrada de Ferro Mauá, assim conhecida devido ao título nobiliárquico do seu criador, Irineu Evangelista de Souza, Barão e posteriormente Visconde de Mauá.
No distante ano de 1854, Irineu, o primeiro empresário do império e empreendedor focado no progresso tecnológico, revolucionou o conceito de transporte no Brasil interligando três modais para agilizar a viagem entre o Rio de Janeiro e Petrópolis. O primeiro percurso ligava de barco a vapor o Porto da Prainha (hoje Praça Mauá) ao porto da localidade de Estrela (atual Magé) no fundo da baía de Guanabara. Os 14,5 km do segundo trecho ligava de trem Estrela à Raiz da Serra de Petrópolis. Naquela histórica viagem a composição formada por três carros de passageiros e o exclusivo carro imperial era puxada pela locomotiva batizada com o nome de Baronesa, em homenagem à Dona Maria Joaquina Machado de Souza, esposa do homem que trazia para o Brasil a extraordinária invenção da época. De carruagens os passageiros subiram do pé da serra até Petrópolis, completando o último trecho.
Em depoimento exclusivo para A Voz da Serra o presidente do MPF, Victor José Ferreira, escreve sobre o nascimento da ferrovia, dos descasos posteriores com ela, das instituições hoje voltadas para a preservação da memória ferroviária e do lançamento do livro em comemoração ao Dia dos Ferroviários.
“30 de abril de 1854. O imperador Pedro II e uma comitiva da Corte chegaram de barca a Guia de Pacobaíba, no município de Magé, e foram recebidos no cais por Irineu Evangelista de Souza, o barão, depois visconde de Mauá, e muita gente que lá estava para festejar a inauguração da primeira estrada de ferro do Brasil.
Foi uma semente que germinou e cresceu. Rapidamente os trilhos foram se estendendo por todo o país, levando o progresso, conduzindo pessoas, transportando cargas. A partir daí e até meados de 1940 a ferrovia exerceu um papel fundamental para a construção da história e do desenvolvimento do Brasil. Foi quando um conluio perverso envolvendo autoridades corruptas, empreiteiros gananciosos, a indústria automobilística e as multinacionais do petróleo, fez com que o país literalmente saísse dos trilhos. Linhas foram desativadas, os trens de passageiros erradicados, estações abandonadas. Um crime contra o patrimônio público e a nação. Nova Friburgo e a região serrana não escaparam desse descalabro; nossos trens deixaram de circular, o riquíssimo patrimônio histórico e cultural ferroviário deixou de ser cuidado, locomotivas, carros e vagões foram canibalizados, o leito das linhas invadidos e ocupados irregularmente.
Há luzes no fim do túnel, porém. Entidades como o MPF – Movimento de Preservação Ferroviária e o GFPF – Grupo Fluminense de Preservação Ferroviária abraçaram como causa a preservação da cultura das estradas de ferro e a revitalização do transporte sobre trilhos no país. Estações vêm sendo restauradas e transformadas em espaços culturais; museus ferroviários estão sendo implantados; novos projetos de trens turísticos e culturais são viabilizados. É o Brasil que quer voltar aos trilhos, de onde nunca devia ter saído.
Para comemorar os 156 anos da Estrada de Ferro Mauá e o Dia do Ferroviário, o MPF – Movimento de Preservação Ferroviária lançou no dia 30 de abril um novo livro: Trilhos & Letras – Uma Antologia do Trem. Tive o grande prazer e a honra de organizar a obra que se divide em três partes: Trem dá Prosa, Trem dá Verso e Trem dá Música. Nela participam nomes consagrados, como Adélia Prado, Arnaldo Niskier, Affonso Romano de Sant’Anna, Fernando Brant, Ferreira Gullar, Ivan Lins, Martha Medeiros, Paulo Coelho e Rubem Alves. Nova Friburgo está presente no livro, com um texto de Ordilei Alves, diretor de Cultura da Fundação Raphael Jaccoud, e um poema de Aécio Alves da Costa, presidente da Academia Friburguense de Letras.
Dois eventos foram promovidos no dia 30 para lançamento do livro: às 10 h na estação Guia de Pacobaíba, primeira estação ferroviária do Brasil, em Mauá - distrito de Magé, e às 17 h no Rio de Janeiro, na estação Barão de Mauá, sede da antiga e saudosa Estrada de Ferro Leopoldina, tão importante para a história do povo de Nova Friburgo e região”.
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