Só dá Papai Noel!
Dalva Ventura
Ao que parece, Papai Noel tomou mesmo conta do Natal. Se alguém ainda tem dúvidas é só observar as vitrines das lojas, que ostentam, entre os muitos enfeites natalinos, papais noéis de todos os tipos e tamanhos. Enquanto isso, experimente encontrar uma imagem de Jesus ou um presépio para comprar. Certamente vai ter uma surpresa.
Nas lojas mais populares que vendem estes enfeites, alguns presepinhos toscos e sem graça ficam quase escondidos, nos últimos corredores. Nas papelarias mais sofisticadas e algumas lojas de decoração, a variedade é um pouco maior. Em compensação, o preço é bem mais salgado. E, se comparados com a variedade de árvores de Natal, pisca-piscas, bolas e outros enfeites, não passam de um grão de areia no meio do oceano.
O fenômeno não começou agora, é verdade, mas vem chamando a atenção não só de pessoas religiosas e que cultivam as tradições do Natal, como de quem não é lá muito chegado a essas coisas. Afinal, queiramos ou não, Natal é Natal, e o consumismo não deveria chegar a ponto de fazer com que a população se esqueça de seu real significado.
Os presépios, uma tradição tão cara aos friburguenses, hoje só é cultivada por algumas igrejas e algumas poucas famílias, que em vez de se renderem ao consumismo do Natal não deixam passar em branco o verdadeiro significado da data, que é festejar o nascimento de Jesus. Mas são poucas, se comparadas a outros tempos, quando ter um presépio em casa era algo tão obrigatório quanto as árvores de Natal de hoje em dia.
Presépio: o verdadeiro significado do Natal
Hoje em dia, todas as famílias capricham na decoração de Natal, principalmente as que têm crianças em casa. Árvores e bolas de todos os tipos e tamanhos, luzes nas fachadas, imagens e imagens de Papai Noel de todo tipo de material, renas, bolas coloridas, enfeites e mais enfeites. Ao contrário de antigamente, porém, poucas se lembram de colocar um presepinho ao pé da árvore. Algo impensável há algumas décadas. Ter um presépio em casa era algo tão obrigatório quanto espalhar papais noéis por todo o canto da sala.
Além de algumas poucas famílias, apenas as igrejas católicas e alguns locais públicos (estes, em sua maioria, com imagens envelhecidas e até quebradas) montam presépios. Vale destacar, porém, o da Paróquia São Francisco de Assis, que todos os anos apresenta aos fiéis um presépio mais bacana. Mas por que um presépio?
Na verdade, ele é uma das representações mais singelas do nascimento de Jesus Cristo. Procura resgatar a importância e a magnitude daquele momento.
Segundo o dicionário, presépio significa “um lugar onde se recolhe o gado, curral, estábulo”. Contudo, esta é, principalmente, a designação dada à representação artística do nascimento do Menino Jesus num estábulo, acompanhado pela Virgem Maria e São José, tendo por testemunhas os pastores e os animais, recebendo a visita dos Reis Magos, guiados à gruta pela estrela de Belém, que simbolizaria a grandeza e a onipotência de Deus, através da fragilidade de uma criança.
A representação teatral foi criada por São Francisco de Assis em 1223, numa gruta da floresta na região de Greccio, Itália. Na época já havia 16 anos que a igreja tinha proibido a realização de dramas litúrgicos nas igrejas, mas São Francisco pediu a dispensa da proibição e a obteve. São Francisco morreu dois após, mas os frades franciscanos continuaram a representar o presépio utilizando imagens.
No Brasil, a cena do presépio foi apresentada pela primeira vez aos índios e colonos portugueses em 1552, por iniciativa do jesuíta José de Anchieta.
Uma tradição a ser preservada
Uma dessas pessoas é Leyla Lopes Mello, que monta seu presépio desde 1945, quando sua tia lhe presenteou com algumas peças: a cabana, a Sagrada Família, um burrinho, um boi. A cada ano Leyla foi aumentando seu presépio com uma fonte, um poço, um castelo.
No começo ela montava o presépio em cima de um móvel da sala. Alguns anos depois, seu pai, o médico Salim Lopes, encomendou a um carpinteiro uma armação para Leyla poder montá-lo num canto da sala, como um cenário, e que contava, inclusive, com painéis de fundo, refletores e cortinas. Com o falecimento do doutor Salim, ela passou a montar seu presépio numa sala de sua casa, na Rua Fernando Bizzotto, onde ficava o consultório do pai e que até hoje é muito visitado.
Os mais velhos se recordam dos presépios de antigamente, montados em locais públicos e residências com um cuidado e um capricho impressionantes. O mais lembrado certamente é o que o doutor Julio Zamith preparava, com todo cuidado, na sala de sua casa, que ficava na Avenida Alberto Braune, onde atualmente se localiza uma agência do Banco Itaú. Crianças e adultos aguardavam com ansiedade a noite em que o doutor Zamith abria as portas de sua casa para que todos pudessem admirar aquela maravilha.
O presépio do Dr. Zamith deslumbrava as pessoas. Tinha nascentes, pontes e luzes iluminando o caminho dos reis magos até a manjedoura. Inesquecível! Assim como o presépio que antigamente era montado na Praça Getúlio Vargas. Eram imagens eternamente associadas ao Natal e muito mais intensas que a do Papai Noel, que pode até ser muito bonitinho e simpático, mas, convenhamos, não tem nada a ver com os trópicos nem com o espírito do Natal.
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