Texto e foto: Márcio Madeira
Fartos recursos do governo estadual, financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), destinados a modificar três praças de Lumiar e uma de São Pedro da Serra. Uma boa notícia certamente, que só não é melhor porque a participação dos moradores na elaboração do projeto do Programa de Desenvolvimento do Turismo do Estado do Rio (Prodetur) foi completamente ignorada até poucos dias atrás.
Agora, às vésperas da visita técnica e da licitação, moradores, comerciantes e agricultores buscam o apoio da Prefeitura para que as obras ocorram sim, mas em harmonia com os interesses de quem habita e agita a região. Parâmetros como a largura das calçadas ameaçam causar transtornos, inclusive com o estreitamento da Rua Rodrigues Alves, a principal de São Pedro da Serra.
Para discutir a situação, incluindo na pauta das obras outras reivindicações históricas de moradores e comerciantes, presidentes das associações se reuniram na manhã de quinta-feira, 31 de outubro, com o secretário do Escritório de Gerenciamento de Projetos de Nova Friburgo (EGP), Edson Lisboa. Ao término do encontro os envolvidos falaram com A VOZ DA SERRA.
A VOZ DA SERRA: De que maneira a associação de moradores vem atuando diante dos pontos controversos no projeto do Prodetur?
Marjô Mendes Gaspary, presidente da Associação de Moradores e Amigos de São Pedro da Serra (Amasps): A associação de moradores está contribuindo justamente através dessas intervenções, promovendo reuniões comunitárias e entre as demais associações da localidade com a coordenação da administração regional de São Pedro da Serra e da própria Prefeitura. Nós estamos tentando justamente fazer essa articulação para que o governo municipal tome conhecimento das nossas demandas, e para que esse projeto do Prodetur venha a atender nossas necessidades locais.
AVS: Que são...
Marjô Mendes Gaspary: Que são relativas à qualidade de vida de nossa população. Manter a nossa região um lugar aprazível de se viver, respeitando a vontade dos moradores.
AVS: Qual a posição dos moradores de São Pedro da Serra diante do projeto que vem sendo trabalhado pelo governo estadual e que está em vias de ser licitado? O que a associação gostaria de ver alterado neste plano?
Marjô Mendes Gaspary: A principal questão, e nisso estamos todos de acordo, é que a Rua Rodrigues Alves é o centro, a via mestra, a coluna vertebral da nossa região. Sua largura precisa ser preservada, e é preciso discutir a possibilidade de uma segunda via de acesso a São Pedro. Outra questão importante diz respeito às outras obras que virão. Porque entre o processo da licitação que está sendo feito agora em novembro e a parte jurídica da criação do contrato com a empreiteira devem se passar alguns meses. As obras provavelmente vão começar em fevereiro, em pleno verão. Ao mesmo tempo, nós temos duas obras que já estão em andamento. Uma delas é a do posto de saúde, que também funciona na mesma via, e futuramente teremos a obra ao longo dos cinco quilômetros da estrada. Então, quer dizer, se as três forem tocadas ao mesmo tempo, olha o transtorno que isso vai ser. Mas é claro que nós, da comunidade, estamos muito felizes com a preocupação do governo municipal em ajudar a nossa comunidade com essas obras. É importante deixar claro para a comunidade que todos nós, das diversas associações e do Escritório de Gerenciamento de Projetos, estamos unidos para a melhoria da qualidade de vida da população de São Pedro.
Marjô Mendes Gaspary: "A largura da Rua Rodrigues Alves precisa ser preservada
e é preciso discutir a possibilidade de uma segunda via de acesso a São Pedro”
AVS: Qual a posição dos comerciantes neste debate?
Carlos Pinho, presidente da Associação de Comércio e Indústria de São Pedro da Serra (Acisps): A preocupação da gente não se limita à obra que vai ser feita, mas sim, como essa obra vai ser realizada. Porque a maior parte da atividade econômica de São Pedro da Serra está concentrada nesse trecho que vai ser mexido, e os comerciantes estão ávidos por saber como vai ser essa sobrevivência durante os dez meses em que a obra deve ocorrer. O que vai ser feito, como é que vai ser feita a interdição, qual a via de acesso que será utilizada, o que vai ser alterado no dia a dia, essa é a nossa grande preocupação. Além da preocupação a respeito do trânsito e o escoamento da área produtiva de São Pedro da Serra.
AVS: Os comerciantes estão trabalhando com uma perspectiva de queda nos negócios durante os meses da obra?
Carlos Pinho: Não temos nem dúvida quanto a isso.
João Carlos Leal, dono de pousada em São Pedro da Serra: As pessoas costumam dizer que os turistas têm paixão pela nossa região e que eles virão de qualquer maneira para o nosso destino. Isso não é verdade. Ninguém vai visitar um lugar totalmente revirado em obras. Depois de dois anos amargando, a gente está no primeiro ano de recuperação econômica. Este foi o melhor ano que a gente teve desde 2010. E, por depender da movimentação em minha pousada, eu temo que não consiga pagar minhas contas em 2014. Vai ser bem complicado a gente conseguir atrair alguém para visitar São Pedro da Serra.
Carlos Pinho: Uma etapa futura que vai ser fundamental para isso, depois da licitação realizada, é poder sentar com a empreiteira, a prefeitura e todo o poder público para ver de que forma essa obra vai ser realizada. Onde vai parar maquinário, onde os funcionários vão se alojar, onde o entulho será colocado e posteriormente descartado, que tipo de obstrução vai haver, se no fim de semana o nosso turista vai poder transitar, e por onde, de que forma. Mas nós sabemos de antemão que vai haver uma queda.
Carlos Pinho: "Os comerciantes estão ávidos por saber como vai
ser a sobrevivência durante os dez meses em que a obra deve ocorrer”
AVS: As associações procuraram o Escritório de Gerenciamento de Projetos de Nova Friburgo justamente para pedir o apoio da Prefeitura e ver de que forma o governo municipal pode ajudar para que a obra respeite pontos sensíveis. De que maneira o governo municipal pode atuar nesse sentido?
Edson Lisboa, secretário do Escritório de Gerenciamento de Projetos de Nova Friburgo (EGP): Em primeiro lugar é importante deixar claro que a Prefeitura tem batalhado para que essa obra saia. A gente tem trabalhado muito lá na Secretaria de Obras do Estado, junto ao vice-governador do Estado, ao governador, ao secretário de Obras e principalmente à Subsecretaria de Urbanismo. O projeto talvez ainda não esteja adequado às necessidades que os moradores estão apontando, e a gente pretende tratar disso da melhor maneira possível até iniciar a obra. A Prefeitura é a responsável por qualquer obra que aconteça no município, não vamos nos eximir de nenhuma parcela, não vamos transferir essa responsabilidade. Então a gente quer que essa obra seja realizada, mas que seja adequada às necessidades dos moradores de Lumiar e São Pedro da Serra. E não somente a essas localidades, mas aos nossos interesses turísticos em geral.
AVS: Está marcada para o próximo dia 6 a visita técnica das empreiteiras interessadas na licitação. A Prefeitura estará presente?
Edson Lisboa: Eu vou participar da visita técnica junto aos empreiteiros, e nessa ocasião nós já vamos informar a todos os candidatos que essa obra tem que ser executada no prazo mais curto possível. Além do fiscal do Estado, nós vamos nomear um fiscal do município também para acompanhar a obra. E vamos também ver um plano de ação para a empreiteira vencedora, de modo a causar o menor impacto possível para as atividades econômicas e sociais dos moradores de São Pedro e Lumiar. Eu também vou acompanhar a licitação no dia 13 e vamos trabalhar para reduzir ao máximo o impacto. Embora seja impossível você fazer uma omelete sem quebrar os ovos.
AVS: A maior parte da atuação, portanto, será junto às empreiteiras. Com relação ao governo estadual existe alguma margem de alteração do projeto?
Edson Lisboa: Pelo que eu estou vendo aqui, pode ser feito sim. Porque a reivindicação dos moradores não é para fazer algo a mais, e sim, para diminuição de metas. Então tudo isso é possível. Podemos fazer uma rerratificação do projeto, o governo do Estado está aberto ao diálogo, e nós também. Esse caminho envolve mais burocracia, mas nós temos executado esse tipo de procedimento aqui no EGP com muito sucesso.
AVS: O senhor explicou durante a reunião que a Prefeitura, para trabalhar com projetos desse porte, depende de muitos recursos externos. Por isso essa disponibilidade de recursos torna-se uma oportunidade rara e que precisa ser aproveitada. Não seria, portanto, o caso de tentar vincular a essas obras o máximo de soluções possíveis para problemas que há muito afligem a região, como, por exemplo, a melhoria de uma rota alternativa de acesso a São Pedro da Serra? O próprio comprometimento da rota principal durante as obras já seria uma justificativa para isso...
Edson Lisboa: Nós vamos estudar o memorial descritivo nos próximos dias para que não restem dúvidas sobre o que exatamente está sendo licitado pelo Estado. O projeto para a melhoria da estrada Lumiar-São Pedro da Serra nós temos pronto. Está orçado em torno de R$ 12 milhões, e estamos buscando recursos para executar essa obra. São Pedro precisa de uma via alternativa, essa é uma questão que precisará ser resolvida em algum momento no futuro. E que não seja dentro de São Pedro, porque acredito que a vila precisa preservar suas características coloniais. A partir de janeiro a Prefeitura vai estar muito melhor estruturada e equipada para poder executar obras grandes, como uma grande empresa. Nós já conseguimos liberar o recurso do BNDES para financiamento dos maquinários, e já foi aberto processo de licitação para a compra de equipamento. Então a Prefeitura está comprando uma quantidade de máquinas muito grande, e por isso terá a capacidade de realizar obras como uma grande empreiteira. A partir do ano que vem nós vamos estar em condições de executar muitas obras, então mesmo que a segunda via não esteja orçada no projeto estadual, nós estamos trabalhando para que a própria Prefeitura tenha em breve condições de executar essa obra. Claro que não posso dar essa garantia sem ter um projeto em mãos, com a avaliação de engenheiros e arquitetos que encontrem tecnicamente a viabilidade disso. Mas minha função é captar recursos e trabalhar para que tenhamos condições de fazer essas obras.
AVS: Mesmo sem a garantia, a união entre as associações e a Prefeitura pode ser encarada como uma boa notícia para quem está num momento bastante aflito?
Edson Lisboa: Com certeza. A grande facilidade é que nós estamos trabalhando junto com as associações, falando a mesma linguagem. A gente tem que discutir o que pode ser feito e o que não pode. O que é viável e o que não é. O que vale sacrificar agora, para render bons frutos no futuro. Precisamos continuar captando recursos. A captação para esse projeto, por exemplo, foi feita em gestões anteriores, e nós estamos dando toda a continuidade a isso. Não podemos perder recursos. São Pedro precisa dessa obra, Lumiar precisa dessa obra. A única coisa é que a gente tem que cuidar para que a obra seja adequada às necessidades. Não pode ser um presente de grego.
João Carlos Leal: "Ninguém vai visitar um lugar totalmente revirado em obras”
Edson Lisboa: "São Pedro precisa dessa obra, mas ela não pode ser um presente de grego”
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