O prefeito Dermeval carregou nas tintas para enfatizar seu entusiasmo e esperança pela reconstrução de Nova Friburgo. Em entrevista, muito bem-disposto e gesticulando todo o tempo, o chefe do executivo falou da disposição para o trabalho e fez um balanço dos seis meses à frente da prefeitura.
Sem se esquivar de qualquer assunto, falou abertamente das críticas direcionadas a ele e deu explicações sobre a lentidão do processo burocrático para liberação dos recursos destinados à recuperação do município. “É tudo muito moroso, às vezes parece que não anda. Isso me deixa nervoso. Eu quero ação, solução”, avaliou. Sobre a cobrança pela ampliação do aluguel social às famílias e liberação do crédito aos empresários pelo BNDES, afirmou que é uma “questão de honra e justiça”.
Dermeval, entre outros assuntos, fez questão de lembrar que em sua administração os friburguenses sempre encontraram a porta do seu gabinete “escancarada”. “Eu estou aqui pronto para receber e ouvir. Não sou prefeito, sou Nova Friburgo. Quem me ataca, ataca a cidade e enfraquece o nome do município no momento de busca por verbas. Podem falar diretamente comigo e não pelos cantos”.
Ele conta que diante da tragédia, ao sair de casa e testemunhar a amplitude da destruição, chegou a temer pelo pior. Mas logo que pisou na prefeitura e teve o decisivo encontro com o vice-governador, Luiz Fernando Pezão, o surpreendendo com a pergunta: “O que posso fazer para te ajudar, Pezão?”. Começou ali o processo de renascimento da cidade. O entrosamento imediato fez o vice-governador permanecer na cidade e continuar parceiro na busca por soluções rápidas que atendam à população friburguense.
Prefeito, daqui a poucos dias o senhor vai anunciar a construção do primeiro lote de moradias à população que ainda está em abrigos. Como funcionará?
Dermeval – Haverá a desapropriação de um terreno em local que está sendo avaliado pelos técnicos da Secretaria de Meio Ambiente para a construção de 50 casas com o objetivo de diminuir ao máximo a população em abrigos.
Quando isso irá acontecer e como são as moradias?
Dermeval – Os trâmites jurídicos e técnicos, dos quais infelizmente não podemos fugir, estão em andamento e após a sua conclusão iniciaremos as obras. As 50 unidades estarão prontas, após o início dos trabalhos, em 45 dias e terão 2 quartos, sala, cozinha, banheiro e quintal.
E o aluguel social?
Dermeval – As famílias que já recebem continuarão com o benefício por um ano. Estamos buscando ampliar o programa a todos que ainda não podem obter o valor de R$ 500,00 mensais. Isto é uma questão de honra e justiça para mim. Não podemos deixar essas pessoas, que tanto sofreram, desamparadas. Já acionei o deputado Glauber Braga para interceder junto à presidência neste sentido.
Como está a liberação de recursos às empresas pelo BNDES?
O secretário de Planejamento Olney Botelho está empenhado, com a ajuda do senador Lindberg Farias, em desburocratizar o acesso ao crédito e agilizar o aporte destes recursos. Precisamos que a economia continue caminhando e gerando empregos. Disso eu não abro mão.
Voltando ao dia 12 de janeiro, qual o período mais crítico pós-catástrofe e como funcionou a articulação do início das ações emergenciais?
No amanhecer, quando me deparei com toda a tragédia, passei por horas de muito medo e incredulidade. ‘O que vou fazer agora?, pensei’. Mas logo que me reuni com Pezão pudemos traçar uma estratégia dinâmica, onde ele cuidava das grandes demandas e eu tratava de guiá-lo, junto com a minha equipe, sobre as necessidades prioritárias. Nós nos entendemos bem: ele com sua força política nacional e eu com a visão e o sentido do que era mais importante naquele momento.
O que já foi feito de fato?
Tudo o que foi feito ainda contempla obras emergenciais. As máquinas do Estado, as empresas contratadas ainda estão aí trabalhando diariamente na retirada de lama, entulhos, recuperação de vias, estradas, rios, pontes, remoção de moradores das áreas de risco, demolições de casas. E era o que podíamos fazer nesse período antes da estiagem. Com chuva, é inútil construir. Precisamos preparar o terreno.
E como anda a preparação para o processo de reconstrução? A população reclama muito da demora para o início das obras.
Todos têm que entender que depois da limpeza das áreas atingidas, os técnicos de diversas especialidades precisam analisar minuciosamente as intervenções que devem ser feitas nas encostas. Isso leva tempo. Queremos projetos que solucionem de uma vez por todas o problema e não um paliativo que dure até a próxima chuva.
E as obras, prefeito?
Depois dessa análise técnica detalhada e extremamente fundamental, precisamos prestar conta dos R$ 10 milhões recebidos do Governo Federal — esse foi o valor exato depositado nos cofres públicos e não demais cifras fantasiosas — o que também depende da morosidade do sistema jurídico, para então contar com o Estado para captação de recursos. Tudo será feito em ordem de prioridade.
Quanto tempo levará?
Não será do dia para noite. A catástrofe está posicionada entre as oito maiores de todos os tempos. Nem o Japão, um país e não uma cidade, extremamente desenvolvido, estava preparado. Para fazer direito, precisamos ser cuidadosos. Mas garanto que com os projetos que já estão em minhas mãos, Nova Friburgo vai renascer ainda mais grandiosa e repleta de motivos para crescer e deixar os traumas no passado.
A prefeitura é capaz de reerguer sozinha a cidade?
Não. A máquina pública municipal carece de mão de obra, equipamentos, infraestrutura e de um sistema de trâmite de processos mais otimizado. Estamos parados no tempo.
Por isso a união com outras esferas? Tocando neste assunto, como o senhor conseguiu agregar adversários políticos e uni-los em um objetivo comum?
Não foi muito difícil. A tragédia, por si só, uniu a todos. Eu apenas os juntei e os direcionei a um caminho compartilhado. Não pode haver adversários diante de um desastre de proporções como essa. Fui a todos eles e abri meu coração, como fiz com Pezão e fui atendido. Imagine, até a presidenta da República nos visitou! Dizem que sou emotivo demais e sou mesmo, por isso que consigo as coisas (disse, sorrindo).
O senhor teme as críticas?
De maneira alguma. São todas bem-vindas. Evidente quando vêm de maneira construtiva e sem rancores ou violências. O diálogo sempre foi meu forte.
Então há luz no fim do túnel?
No fim não, no início do túnel. O futuro está aqui, nas nossas mãos. Temos que nos unir e trabalhar. Chega de andar para trás e achar que o poder público abandonou a todos. Pelo contrário. É a primeira vez que uma prefeitura tem seu gabinete aberto. Recebi Associações de Moradores, instituições, ONGs, sindicatos e quem quis expor sua demanda. O muro entre nós caiu junto com a catástrofe e a sociedade agora anda junto com o poder.
Qual o balanço que o senhor faz dos seis meses à frente do executivo?
Principalmente o respeito ao cidadão friburguense. Conseguimos instituir um canal de diálogo aberto e sincero com as comunidades. Sensibilizamos os governos estadual e federal, tanto que o vice-governador montou sua base na nossa cidade, a secretaria de Reconstrução, gerida pelo Affonso Monneratt, está aqui, o Hospital do Câncer virá para o município, que também terá um polo universitário na antiga Fábrica Ypu.
Saneamos as pendências da Saúde, que teve a cozinha reformada e a alimentação melhorada. Reformas amplas no hospital, com parceiros da iniciativa privada, foram realizadas. O hemocentro será finalmente aberto. O Raul Sertã também poderá ganhar novas ampliações, com a desapropriação do Novacór. Todos os setores estratégicos já estão normalizados.
Hoje Nova Friburgo tem visibilidade e credibilidade nacional. Todos nos conhecem em Brasília e no Estado e somos recebidos de portas abertas. Podem ter certeza que com a integração de forças de todas as esferas, principalmente com a colaboração e paciência do povo friburguense, seremos ainda maiores. Temos que pensar grande, porque somos grandes.
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