No “dia do solteiro”, a comoção nas redes sociais não é tão grande quanto no dia dos namorados, é verdade. Talvez por haver uma cobrança social, algumas vezes velada, e em outras declarada sobre pessoas que não estão em um relacionamento romântico. Condiciona- se a felicidade e o sucesso pessoal a “ter alguém”. E com o avançar dos anos, chegando a idade adulta, essa cobrança aumenta e vem com especulações das mais hilárias e absurdas sobre o motivo de uma pessoa adulta não ter um amor para chamar de seu. Existem pessoas que estão sozinhas e felizes, satisfeitas. Muitas vezes seus motivos para ter feito essa escolha passam pela não tolerância a cobranças, peso, o famoso “quem namora ou casa tem que...”. Então, preferem estar sozinhas a “ter que” tantas coisas que muitas vezes cerceiam suas personalidades e desejos.
Por outro lado, existem os solteiros que não estão felizes. Aqueles que dizem não conseguir encontrar a pessoa certa, a pessoa que vale a pena, aquela que irá arrebatar seu coração e se encaixar perfeitamente em suas idealizações.
Não se pretende aqui traçar perfis generalistas sobre os solteiros felizes e sobre quem sofre por amor. Mas talvez seja importante refletir sobre as possíveis razões que levam pessoas a estar em uma condição ou em outra.
Todas as nossas relações são, em alguma medida, amorosas. Sejam elas com nossa carreira, com nossos amigos, com familiares, com nossos animais de estimação... Todo investimento que fazemos na vida é amoroso. Caso contrário não nos empenharíamos tanto em executar nossas funções, sejam elas quais forem, com excelência. Esperamos reconhecimento, retorno das mais variadas naturezas. Todas as nossas demandas são demandas de amor e esse amor pode nos vir por diferentes vias.
A questão é que nosso desenvolvimento afetivo e o quanto conseguimos nos responsabilizar por nossas escolhas e por nossa condição é o que vai determinar como e em que coisas (ou pessoas) investiremos nossa energia amorosa. Não ter consciência de nossas motivações, de qual lugar queremos ocupar na vida do outro e qual lugar queremos que o outro ocupe em nossas vidas, acaba por gerar conflitos internos e conflitos dentro dos relacionamentos.
Ainda que saibamos que o que determina nosso comportamento é nosso inconsciente, e justamente por isso o autoconhecimento pleno seja algo impossível de ser alcançado, é importante alcançar o mínimo de conhecimento a respeito daquilo que buscamos, tanto quando entramos num relacionamento, quanto quando decidimos estar sozinhos.
Antes de enveredarmos pelo caminho de estar com alguém, antes de desejarmos algo de alguém, ou mesmo antes de assumirmos o lugar de “solteiro convicto”, precisamos nos relacionar minimamente com nosso próprio desejo. Quando isso não acontece, somos acometidos por desilusões amorosas ou simplesmente passamos a achar que não devemos estar em um relacionamento amoroso.
Não há como afirmar que solteiros convictos são plenamente felizes, que solteiros infelizes são fracassados ou que pessoas em um relacionamento estão aprisionadas. O que aprisiona é o não saber sobre nosso próprio desejo. Isso nos aprisiona em padrões de repetição que geram angústia e sofrimento, dentro ou fora de relacionamentos.
Buscar conhecer nosso próprio desejo nos ajuda a nos posicionar no mundo, nos posicionar na vida e, se assim quisermos, nos posicionar em um relacionamento. Talvez a grande questão seja essa. Talvez precisemos estar sozinhos, a sós com nossos próprios desejos, para então decidirmos se investiremos nossa energia amorosa em um relacionamento romântico ou se o investiremos em outras possibilidades de satisfação.
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