Nesta terça-feira, 7, a Secretaria de Serviços Públicos e seu Horto Municipal darão sequência ao projeto “Nova Friburgo + Verde”, que pretende plantar 200 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica, como preparativo para as comemorações pelos 200 anos da cidade. Está programada uma ação às 11h, na pracinha do bairro, onde serão plantadas 11 mudas, em parceria com o Rotary Clube. Segundo Jorge Alves, o Natureza, do horto municipal, o plantio das mudas marcará o início das obras de revitalização da Praça Santo Antônio que será adotada pelo Rotary Clube. A pracinha ganhará serviços de paisagismo a fim de que se torne uma área de lazer para os moradores do seu entorno, anunciou Jorge Natureza.
A iniciativa pretende embelezar ainda mais o bairro Cascatinha, um dos mais tradicionais de Nova Friburgo e localizado a cerca de dez quilômetros do Centro. Com uma população estimada em 2.500 habitantes - de acordo com a prefeitura, o Cascatinha é conhecido por suas riquezas naturais: vasta área verde, incontáveis cachoeiras e uma vista panorâmica pros principais bairros da cidade. Também possui um comércio emergente e, por ser distante do Centro, é considerado um bairro residencial.
Um dos moradores mais antigos é o comerciante Marcelino Pereira Neto, mais conhecido como Seu Neném (foto). Com 93 anos de idade, sendo 65 deles dedicados ao bairro, Seu Neném é a figura mais querida do Cascatinha. Não há um morador que não o conheça e nem que não goste dele. O comerciante chegou ao Cascatinha quando o bairro ainda apresentava aspectos rurais. Com muitas fazendas, estrada de chão e terrenos tomados pelas plantações de verduras, legumes e flores, o bairro há 50 anos respirava ares do campo. “Eu nasci em Laranjais, distrito de Itaocara, cheguei em Friburgo em 1952 e vim direto pro Cascatinha. Comecei com uma lojinha pequena, vendendo arroz, feijão, outras comidas. Já vendi de tudo, aqui”, brinca.
De acordo com Seu Neném, o bairro Cascatinha, na década de 1950, era o maior produtor e exportador de flores do país. De acordo com o comerciante, estrangeiros vinham até o bairro para levar flores para cemitérios europeus. “Aqui tinha de tudo. Dália, lírio, cravo, rosa, margarida, palma holandesa e saudade. Teve uma época em que militares italianos paravam um caminhão, nós dávamos as flores e eles levavam para o cemitério de Pistoia, na Itália”.
Seu Neném conta o famoso caso da queda do avião da Vasp, no alto do Caledônia, em 1964. “Eu vi acontecer. Ouvimos um barulho enorme e a explosão. Fui um dos primeiros a chegar ao local. Até hoje tem uma marca na pedra, no lugar exato do impacto do avião. Morreram 39 pessoas”. Ao lembrar do episódio, Seu Neném revela a tristeza que foi ver as cenas da tragédia. “Algo que eu não me esqueço. Um cenário muito triste. Foi muito difícil chegar até o local, a mata que dá acesso era muito fechada. Eu e outras pessoas ainda tentamos fazer alguma coisa, mas não deu. Até hoje muitos moradores antigos, assim como eu, lembram desse episódio marcante.”
Segundo Seu Neném, no dia seguinte a montanha do Caledônia foi palco de uma outra tragédia. Um paraquedista que fazia um sobrevoo no local perdeu o controle após uma rajada de vento, caiu e morreu. “Com mais essa tragédia, completou-se 40 o número de mortos. Até hoje quando me perguntam sobre esse episódio eu digo que, ao todo, 40 pessoas perderam a vida, 39 no acidente aéreo e a quadragésima vítima foi esse paraquedista”, lembra.
Comércio
O crescimento do bairro passa muito pela questão do comércio, que hoje está bem forte no Cascatinha. A praça central do bairro atende às necessidades básicas: tem farmácia, padaria, dois mercados e uma quitanda. O comerciante Janilton Frossard (foto abaixo) chegou ao Cascatinha em 1999, e hoje, junto com o sobrinho, é dono de um dos mercados mais frequentados do bairro. “Começamos bem humildes apenas com uma quitanda vendendo legumes, verduras e frutas. Conforme o bairro foi crescendo, a demanda foi aumentando, também. Aos poucos fomos expandindo o espaço e ampliando nossa variedade de produtos. Trabalhamos de domingo a domingo. Conheço bastante o bairro e gosto muito das pessoas. Não pretendo mudar o meu comércio para outro lugar. Aqui, nós estabelecemos uma relação de amizade com o cliente. Todo mundo se conhece, o que torna o convívio muito melhor”, conta Frossard.
Outro responsável pelo crescimento do bairro é o comerciante Hélio Wilson Gomes (foto abaixo). Ele abriu um açougue, em 1995, e teve que se adaptar às mudanças no comércio para atender melhor os moradores do Cascatinha. “Muita gente passou a comprar carne em supermercados e a partir daí nós nos expandimos.”. Wilson afirma que os primeiros meses foram complicados, mas apesar da dificuldade, insistir no negócio, no bairro Cascatinha, foi uma decisão correta. “Durante seis meses ficamos sentados esperando clientes, mas tudo fluiu bem. Compramos o terreno de trás e ampliamos o mercado. Hoje vendemos de tudo e temos até serviço de entrega em domicílio”, observa Wilson.
Segundo os comerciantes, o Cascatinha cresceu muito nos últimos seis anos. O motivo: a tragédia de 2011. “Depois que o centro da cidade foi atingido, muitos ficaram com medo e decidiram ir para bairros mais afastados, como o Cascatinha. A partir daí, o comércio teve que se adaptar ao novo fluxo de moradores e demanda”, afirma Wilson. Conhecido pela pluralidade de recursos naturais, o Cascatinha é frequentemente visitado por pessoas que estão em contato com a natureza, fotógrafos, observadores da fauna local, turistas e moradores atrás de uma trilha para caminhar ou apenas observar as vistas panorâmicas do alto das montanhas.
O Parque Municipal Juarez Frotté é um excelente local para a prática de tudo isso. No verão, o local chega a receber a visita de mais de mil pessoas por fiml de semana. Cercado por árvores, nascentes e cachoeiras que formam piscinas naturais de águas claras, o parque possui também possui mirantes e recentemente inaugurou um viveiro para cultivo de árvores nativas da Mata Atlântica.
Seu Neném diz que o Cascatinha, hoje estruturado, é um dos melhores da cidade “Aqui tem farmácia, padaria, mercados, pet shops, escolas, bomboniere, Igreja, bares, restaurantes, Parque Municipal e pousadas. Apesar de termos problemas com ruas mal iluminadas, buracos e falta de capina, daqui eu não saio”, brinca.
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