Por que o dia 2 de janeiro é uma data importante para a Maçonaria em Nova Friburgo?

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
por Jornal A Voz da Serra

O dia 2 de janeiro é uma data importante para a Maçonaria friburguense porque foi nesta data, em 1839, ou seja, há cento e setenta anos, a fundação, na então Villa de Nova Friburgo, da Loja Maçônica Indústria e Caridade.

Trata-se de uma efeméride na história de Nova Friburgo, que foi fundada em 16 de maio de 1818 para uns, pois foi quando Dom João VI assinou o Decreto Real concedendo o estabelecimento de uma colônia de suíços na então Fazenda do Morro Queimado; ou 3 de janeiro de 1820 para outros, com a chegada efetiva dos suíços e a sanção real do decreto de criação da Villa de Nova Friburgo sob os auspícios de São João Batista. Não importando a data, Nova Friburgo ofereceu guarida à criação da Loja de São João Indústria e Caridade, nascida com o apoio das principais autoridades públicas do país, sendo relevante o empenho de João Vieira de Carvalho (barão, conde, visconde e marquês de Lages e que foi diretor e comandante militar da nascente Nova Friburgo, entre 1821 e 1822, além de conselheiro de estado e ministro da Guerra, cargo que exercia no ano em que se fundou a Loja Maçônica em Nova Friburgo). Ela é uma das mais antigas, entre as que permanecem em atividade no Brasil, estando entre as 15 mais antigas entre milhares de Lojas Maçônicas que se espalham pelo país. Em Nova Friburgo, excetuando-se as entidades de caráter religioso ou administrativo, a Loja Maçônica Indústria e Caridade é a mais antiga, fundada apenas 19 anos após a chegada dos suíços às terras do Morro Queimado.

Os maçons brasileiros reconhecem a importância da Loja Maçônica Indústria e Caridade no desenvolvimento da Maçonaria no Brasil. E os não maçons? Muitos sabem desta importância, outros tantos não, pois até os dias de hoje muitos confundem ou mesmo não sabem nem o que é a Maçonaria, quanto mais a importância da Indústria e Caridade. Sendo assim, é de suma importância que seja respondida esta primeira pergunta: afinal, o que é a Maçonaria?

A Maçonaria é uma instituição filosófica e filantrópica, formada por homens livres e de bons costumes, sendo livres não apenas no sentido de ir e vir, mas, principalmente, libertos de todos os tipos de preconceitos, e de bons costumes, no sentido de homens íntegros, éticos e que pugnam pelo bem-estar da humanidade. Também são crentes em Deus, o Grande Arquiteto do Universo. A admissão nos quadros da Maçonaria se dá por meio de uma cerimônia iniciática, sob o compromisso de se prestarem serviços beneficentes às pessoas necessitadas e de se conduzir em conformidade com as práticas altruístas, sempre solidárias com os valores construtivos da ordem social, da educação, da saúde, da segurança comunitária, da cidadania e do civismo responsável.

As origens da Maçonaria se perdem nas brumas do tempo. Mas pode-se afirmar que a Maçonaria, a exemplo das Ordens Militares de Cavalaria e das Ordens Religiosas, típicas da Idade Média européia, resultou de uma longa evolução organizativa do trabalho profissional associativo. Sem se reportar a tempos antigos (Egito, Grécia etc), sabe-se que o rei Numa Pompílio (século VIII a.C.) criou os Collegia fabrorum para regulamentar o exercício das profissões romanas e que muitas centúrias depois, o mundo medieval estava compreendido por corporações de ofícios, estabelecidas em moldes sindicais, estreitamente submetidas à ortodoxia religiosa da Igreja.

A corporação dos maçons era uma das mais conceituadas. Os obreiros maçons estavam compreendidos por pedreiros livres, que eram artífices, construtores de catedrais, castelos, palácios, fortificações, e de toda sorte de edificações monumentais (eles eram muito hábeis nas obras de arquitetura gótica, estilizadas pelos famosos arcos reais, pelas torres pontiagudas e pelas cimeiras em ogivas).

Seus componentes (aprendizes, companheiros e mestres) aceitaram receber templários expatriados, pois a Ordem do Templo havia sido extinta pelo papa Clemente V (século XIII). Aqueles templários possuíam vastos conhecimentos intelectuais adquiridos em memoráveis percursos continentais, pois onde andavam, levavam socorro às vítimas das cruzadas.

Os chamados maçons aceitos (templários) introduziram na cultura dos maçons obreiros (construtores) o cunho filosófico e a postura filantrópica de uma instituição emergente na transformada estrutura corporativa.

Foi nas afastadas paragens acidentadas e frias da distante Escócia, depois de tumultuadas fugas e perseguições, que surgiu o conceito de templo maçônico, no local das adaptadas oficinas dos antigos obreiros. Desde a metade do século XVII, as antigas corporações dos maçons agregaram aos seus costumes reuniões ritualísticas, ilustradas com textos de lendas, alegorias e adaptações de fatos históricos. A essas inovações acrescentaram-se funções específicas destinadas à regulamentação e à uniformização das atividades atribuídas à instituição, logo ramificada em unidades autônomas, denominadas Lojas.

O grande passo para se chegar à estrutura maçônica dos dias atuais se deu quando quatro Lojas existentes em Londres, em 1717, resolveram formar uma Grande Loja, administrada por uma equipe central. A imitação e a vinculação das normas, então instituídas, deram ensejo ao aparecimento de uma unidade processual e comportamental (Maçonaria), expandida por toda a Grã-Bretanha e pela Europa continental, a partir da França, de onde alcançou as colônias inglesas da América, assim como as possessões situadas nos demais espaços terrestres (com tal grandeza, que a Maçonaria se universalizou e hoje está em todos os quadrantes da Terra).

Nos seus primórdios os objetivos dos pedreiros livres se primavam pelas grandes construções. E nos dias de hoje? Quais são os principais objetivos da Maçonaria? De acordo com a Constituição do Grande Oriente do Brasil, poder direcional central de muitos maçons brasileiros, no qual está filiada a Loja Maçônica Indústria e Caridade, são estes os seus principais objetivos:

a) Proclamar a prevalência do espírito sobre a matéria;

b) Pugnar pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da Humanidade por meio do cumprimento inflexível do dever, da prática desinteressada da benemerência e da investigação constante da verdade;

c) Afirmar que os homens são livres e iguais em direito e que a tolerância constitui o dever cardeal nas relações humanas, a fim de que sejam respeitadas as convicções e a dignidade de cada um;

d) Reconhecer o trabalho como dever social e direito inalienável;

e) Defender a liberdade de expressão do pensamento como direito fundamental do ser humano, observada a correlata responsabilidade;

f) Considerar irmãos todos os maçons, quaisquer que sejam suas raças, nacionalidade, convicções e crenças;

g) Determinar que os maçons estendam e liberalizem os laços fraternais, que os unem, a todos os homens esparsos pela superfície da Terra.

Muito se comenta entre os estranhos à Ordem Maçônica que ela é uma entidade fechada, mesmo secreta, e de ajuda mútua entre os seus membros. Quem assim pensa não conhece a importante participação da Maçonaria em importantes feitos. Em conformidade com os seus objetivos, a Maçonaria tem sido um elo de ligação entre os cidadãos do Mundo, na expectativa de dissipar as manifestações que tendem a dificultar a liberdade do pensamento, a confraternização universal, a solidária convivência entre os povos e a prioridade altruísta, que deve prevalecer nos entendimentos entre os seres humanos.

Importantes encontros internacionais e grandiosos procedimentos pessoais têm sido responsáveis por generosos acordos para a trégua no âmbito dos interesses comunitários.

A independência norte-americana e os primeiros tempos do novo país, os EUA, tiveram uma decisiva participação maçônica, notabilizando-se importantes maçons como George Washington, Benjamin Franklin, Marquês de La Fayette, entre outros. Outros nomes, como Thomas Woodrow Wilson, Abraham Lincoln e Franklin Delano Roosevelt foram grandes maçons e grandes presidentes americanos. A revolução francesa, com a sua Liberdade, Igualdade e Fraternidade, teve a forte presença de maçons. A monarquia inglesa moderna e os principais dirigentes da Maçonaria na Grã-Bretanha se confundem. Nomes como Winston Churchill, um ícone dos novos tempos, sentaram-se nos Templos Maçônicos e nos mais importantes assentos de decisões que influenciaram toda a humanidade. Giuseppe Garibaldi, com importante passagem na Revolução Farroupilha, nos pampas brasileiros, se tornou o principal nome da unificação italiana. Na América Espanhola a presença de maçons também foi de extrema importância nos movimentos libertários, sendo Simón Bolívar um dos nomes mais renomados.

Grandes nomes da Maçonaria notabilizaram também em outras searas que não a política, que não a luta pela liberdade. Também nas artes grandes nomes se dividiram entres os Templos Maçônicos e os grandes templos de todas as artes: Wolfgang Amadeus Mozart, Johann Goethe, Voltaire, Edgar Allan Poe e tantos outros.

No Brasil, a história reserva um papel importante para a Maçonaria na Independência do Brasil. José Bonifácio de Andrada e Silva, Gonçalves Ledo e Dom Pedro I são exemplos claros de maçons que se empenharam nesta luta. A libertação dos escravos, a Proclamação da República e os seus primeiros tempos também contaram com a presença de importantes maçons: José Clemente Pereira, Saldanha da Gama, Eusébio de Queiroz, Visconde do Rio Branco, Feijó, Duque de Caxias, Evaristo da Veiga, Benjamin Constant, Rui Barbosa, Campos Sales, Aristides Lobo, Nilo Peçanha, Washington Luís e toda uma plêiade de ilustres homens que fizeram o 1º e 2º reinados e início republicano.

Mas, voltando à então Villa de Nova Friburgo, como é que a Maçonaria chegou às terras do Morro Queimado? Ela chegou nos primeiros anos do povoamento com os suíços, os alemães e com os outros grupos de imigrantes que forjaram a etnia desta terra. A fundação da Loja Maçônica Indústria e Caridade começou com reuniões de maçons procedentes da então cidade do Rio de Janeiro, capital imperial; de Niterói, capital da província; e de Vassouras, então importante centro cafeeiro do país. Entre estes maçons estava Maurício José Guerra Gomes D’Aguiar, maçon grau 30 do Rito Escocês Antigo e Aceito, que foi comissionado para presidir a instalação da Loja. Após a instalação, ele foi eleito o primeiro Venerável Mestre (presidente), ficando no cargo por apenas quatro meses, pois faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 2 de maio de 1839. Enfim, em 2 de janeiro de 1839 era fundada a Loja Maçônica Indústria e Caridade, isto é, apenas 19 anos após a criação da Villa de Nova Friburgo.

Muito se perguntam das razões para se fundar uma Loja Maçônica numa localidade ainda com tão poucos habitantes. As informações contidas em documentos da época sinalizam que as principais razões foram de interesse político, pois as maiores autoridades imperiais eram maçons e assim se abririam as portas para, entre outras ações, naturalização dos colonos estrangeiros, repressão ao trabalho escravo, desenvolvimento de pequenas indústrias artesanais (que aproveitassem as habilidades e os costumes dos imigrantes europeus), incentivo à iniciativa particular (represada no período colonial), estímulo à instrução cultural (educandários escolares, leitura, imprensa etc), desbravamento do vale do Rio Macacu e de outros, que eram recobertos pela densa Mata Atlântica e que serviam de refúgio a malfeitores que pilhavam tropeiros e mercadores da região.

Não existe confirmação de que houvesse maçons no conjunto dos imigrantes suíços, mas é certo que José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, na condição de Grão-Mestre do Oriente do Brasil, entidade que congregava os maçons brasileiros à época, e amigo do então Conde de Lages (conselheiro de estado e ministro da Guerra, muito ligado às origens de Nova Friburgo), tenha contribuído para a formação do grupo responsável pelas reuniões e pelos entendimentos que culminaram com a fundação da Augusta e Respeitável Loja Maçônica Indústria e Caridade (entre os quais estava Gonçalves Ledo, um dos principais artífices da independência do Brasil, natural de Cachoeiras de Macacu, também proprietário rural na localidade denominada Santo Antônio de Sá, onde findou os seus dias, aos 19 de maio de 1847). Estes nomes foram os prováveis fiadores da comissão designada ao maçon Maurício José Guerra Gomes D’Aguiar para presidir a instalação inauguradora da renomada Oficina, em 2 de janeiro de 1839.

A índole que motivou a criação da Augusta e Respeitável Loja Indústria e Caridade, por si só, explica a indelével memória das atividades com que sua contribuição está vinculada ao desenvolvimento sociocultural da cidade de Nova Friburgo.

Isto posto, basta citar o compromisso assumido por seus obreiros, desde a época da sua fundação até o ato da Princesa Dona Isabel, firmado em 13 de maio de 1888 (Abolição da Escravatura), segundo o qual seus obreiros indenizaram senhores de escravos para que estes lhes concedessem a alforria (principalmente crianças do sexo feminino) e se recusaram a admitir candidatos que mantivessem profissão envolvida com o comércio de escravos ou que explorassem quaisquer atividades ilícitas.

À parte o grande número de atitudes assistenciais em prol de pessoas desvalidas, quer quanto à privação de recursos para a própria sobrevivência, quer quanto ao precário estado da saúde em que se encontravam, a Loja sempre prestou ajuda a várias instituições benemerentes e a programas de incentivo à educação, inclusive em parcerias com outras entidades idôneas, bem como a promoção de campanhas de estímulo aos nobres ideais de cidadania e do civismo, sempre em busca da formação de uma juventude inserida nos contextos morais e éticos defendidos para Maçonaria. Estes trabalhos desenvolvidos ao longo dos seus profícuos cento e setenta anos continuam nos dias de hoje. O profundo combate à poluição moral, à violência coletiva, à contaminação ambiental. O apoio a empreendimentos que visem à beneficência altruísta em prol de criaturas humanas carentes da solidariedade fraternal. Sem se importar em aparecer perante a opinião pública, preferindo agir discretamente, a Loja Maçônica Indústria e Caridade é parceira de outras entidades na promoção do bem-estar humano, além de priorizar a ajuda desinteressada, não só a inúmeras famílias carentes, mas também a entidades que prestam relevantes serviços ao povo friburguense. Enfim, os atuais obreiros da Loja Maçônica Indústria e Caridade continuam se empenhando em manter todos os ideais que incentivaram os 12 ilustres homens que em 2 de janeiro de 1839 plantaram em Nova Friburgo as sementes que germinaram e se tornou uma robusta árvore na floresta maçônica universal.

A comemoração de tão importante data para os maçons friburguenses, o aniversário de cento e setenta anos da Loja Maçônica Indústria e Caridade, constará de sessão solene, com início marcado para as 18 horas deste dia 20 de dezembro, no seu Templo, situado na Rua Sete de Setembro n.º 12, no centro da cidade de Nova Friburgo. A comemoração se dará nesta data por ser 2 de janeiro uma data imprópria, pois sucede imediata e contiguamente ao dia 1º de janeiro, Ano-Novo, consagrado à confraternização universal, motivo para muitas famílias se encontrarem ausentes da cidade.

A sessão iniciará com recepção aos visitantes e convidados que honrarem com as suas presenças, seguida por momentos protocolares e culturais, alusivos às conseqüentes homenagens a membros fundadores como Jacob Joye, Maurício José Guerra Gomes D’Aguiar, Joaquim Antonio Teixeira e que continuaram honrando-a com relevantes serviços, como João Gaspar Meyer, entre outros.

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