Por que ler Fernando Pessoa?

Por Alessandro Lo-Bianco
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
por Jornal A Voz da Serra
Por que ler Fernando Pessoa?
Por que ler Fernando Pessoa?

Fernando Antônio Nogueira Pessoa, poeta português, nascido em Lisboa, no Largo de São Carlos, em 1888, e falecido na mesma cidade de Portugal, em 30 de novembro de 1935. Sua morte foi precoce, com apenas 47 anos de idade. Na opinião de muitos, morria o maior poeta do Século XX. Sua obra, por incrível que pareça, só começou a ser divulgada depois de sua morte, posto que, em vida, só uma delas foi publicada: Mensagem. Escreveu muito em jornais e revistas de Portugal e da Inglaterra.

Após sua morte, porém, começaram a ser editados seus poemas. Aflorou, então, para o mundo sua genialidade. Na década de 80, o seu livro Desassossego foi considerado best-seller na Alemanha. Hoje sua obra é conhecida em quase todo o mundo. No Brasil, pelo que se observa, é mais conhecida nos meios literários, entre professores e estudantes universitários.

Sua obra não é facilmente assimilável, dado que exige do leitor uma capacidade maior para compreender sua natureza filosófica e transcendental. O professor de Letras Clássicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ - Manuel Avalaneza, afirma que, em análise subjetiva, o leitor pode ser induzido a considerar Pessoa, essencialmente, um filósofo que se expressava em poesia. Contudo, o próprio poeta, contestando esta assertiva declarou: “Eu era um poeta impulsionado pela filosofia, não um filósofo dotado de faculdades poéticas.”  

O que perturba o leitor desprevenido é que a interpretação da sua obra, dada por ele mesmo, em Poesias íntimas e de Auto Interpretação, pode ser contestada por um dos seus heterônimos quando se revela um filósofo na poesia que produz. Só o fato de criar personalidades diversas com pensamentos diferenciados um dos outros, e com características próprias, faz desse gênio português um conhecedor profundo da alma humana. Vê-se, por exemplo, um deles, Alberto Caeiro, que assenta sua poesia no bucolismo e na filosofia; outro, Ricardo Reis, que traduz um paganismo; um outro, Álvaro Campos, que revela-se um neurótico, impulsivo e angustiado, que morreu no mesmo dia e ano da morte de Pessoa. Cabe, ainda, citar Bernardo Soares, o lírico e metafísico e Antônio Mora, mestre do neopaganismo português.

Acontece que essas características dos heterônimos podem ser encontradas no próprio Pessoa quando ele afirma em carta dirigida a Adolfo Casais Monteiro: “A origem dos meus heterônimos é o fundo traço de histeria que existe em mim.” Outra característica que identifica bem Pessoa com um dos seus heterônimos, no caso Álvaro Campos, é o histérico desencantamento do que está impregnada a poesia de um e de outro. O que se pode concluir, ao fim de tudo, é que Pessoa e seus heterônimos constituem uma obra considerada pelos entendidos como uma das mais importantes da literatura portuguesa e, talvez, em análise mais profunda, a melhor do século XX.

Cabe aqui um conselho: Fernando Pessoa, dada a sua multifacetada personalidade espalhada nos seus heterônimos, perturba o leitor desavisado ao tentar assimilar sua obra. Isso se o leitor não ordenar a leitura no sentido de encontrar um caminho de acesso ao entendimento quase perfeito desse genial escritor e poeta. Mas é óbvio que o conselho é dirigido aos que sentirem dificuldade, como eu senti, para entender Fernando Pessoa. Os letrados, os afeitos à boa leitura, jamais necessitariam dessa espécie de vestibular para ascensão à obra.

O que recomendo mesmo é que, depois dessa leitura, ou seja, após os meus acacianos conselhos, o paciente amigo leitor poderá entrar em uma livraria e pedir qualquer livro de Fernando Pessoa, consciente de que não estará imitando certas pessoas mal orientadas que leram e não gostaram porque não entenderam, mas vivem citando Pessoa como sendo o poeta de sua preferência. 

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