Por que a busca pela alimentação saudável aumentou?

“Alterações radicais na alimentação, sem acompanhamento profissional, podem colocar a saúde em risco”, alerta nutricionista
sexta-feira, 31 de março de 2017
por Dayane Emrich
(Foto: Pixabay)
(Foto: Pixabay)

Gabriella Marques, de 26 anos, acorda todos os dias pontualmente às 5h30. Levanta da cama, troca a roupa e segue para a cozinha, onde prepara o desjejum — crepioca recheada com queijo branco e um copo de leite desnatado com café — e todas as outras refeições do dia que terá pela frente. No filme plástico ela enrola três fatias de pão integral com ricota; há ainda duas porções de fruta; uma garrafa de suco e o almoço, que ela garante conter todos os nutrientes. “Tem proteína, carboidrato, vitaminas, tudo bem colorido e conforme indicado pela minha nutricionista”, exclama.

Assim é também a rotina da psicóloga Nicoli de Paula Cosendey, de 25 anos, que, até então, a presente repórter “conhecia” apenas pelo instagram. Foi procurando uma personagem que me lembrei dela e suas “stories” no aplicativo, onde conta sua rotina de treinos de musculação e a dieta regrada. “A vida toda tentei fazer dietas, mas nunca conseguia dar continuidade a elas. Via dietas da fruta, sopa, disso e daquilo. Somente em setembro de 2013, depois de uma viagem e de estar mais gordinha do que de costume, procurei um profissional de nutrição e um educador físico que pudessem me orientar.  Foi quando comecei a levar mais a sério os treinos e a ter uma alimentação mais regrada, dando prioridade aos alimentos orgânicos”, conta.

Nicoli explica que organização e a determinação são fundamentais na hora de optar por uma alimentação mais saudável. “A gente sempre reclama da falta de tempo. Como saio de casa muito cedo e chego bem tarde, preparo minha comida aos finais de semana; deixo frango e omeletes prontos, por exemplo, e ao decorrer da semana vou montando as refeições”, explica ela, acrescentando que com a mudança dos hábitos alimentícios viu sua estética, disposição e saúde melhorarem.

Mas, Gabriella e Nicoli não estão sozinhas. Cada vez mais brasileiros estão preocupados com o que levam para a mesa. Em 2016, de acordo com um levantamento da Euromonitor, o Brasil chegou a posição de 5º maior mercado de produtos saudáveis, isto é, alimentos orgânicos e aqueles sem lactose, glúten, gorduras e açúcares. A velocidade de crescimento desse setor é ainda mais surpreendente: de 20%, em média, desde 2012, contra 8% no resto do mundo.

João Hélio Marchon é feirante há mais de 25 anos. Além de frutas, ele vende legumes e verduras e conta que, nos últimos anos, as vendas têm crescido. “Sou de uma geração que cresceu na roça e vivendo do cultivo. Teve um tempo que as pessoas só queriam saber de enlatados e produtos industrializados. Agora não, estão voltando a consumir alimentos mais saudáveis”, afirma, explicando que os lucros triplicaram nos últimos cinco anos.

Dono de um estabelecimento comercial em Conselheiro Paulino, onde o carro-chefe são os sanduíches naturais, salgados integrais, saladas de fruta e sucos, por exemplo, Rogério André viu no mundo fitness um mercado promissor. “Malho em uma academia aqui perto e sempre ouvia as pessoas reclamarem da falta de opção de lanches saudáveis antes e após os treinos e, por isso, resolvi montar o negócio, há três anos. O movimento é muito bom e vejo que cada vez mais pessoas estão associando alimentação e atividades físicas na busca por melhor qualidade de vida”.

Para a nutricionista Débora Fernandes, graduada pela Universidade Gama Filho, com formação em Nutrição Clínica na Santa Casa de Misericórdia e Nutrição esportiva na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), a difusão de informações nutricionais, cadernos de saúde e relacionamento direto entre alimentação e bem-estar fizeram crescer a busca pela alimentação saudável. “As pessoas têm se preocupado cada vez mais com seu bem-estar. E têm buscado informação, orientação para prevenir doenças que podem diminuir a expectativa de vida. Além disso, os chamados "males do século", como estresse e depressão, por exemplo, podem ser combatidos com um estilo de vida que inclui a prática regular de atividade física e, principalmente, uma alimentação equilibrada”.     

Redes sociais

Além de proporcionar um maior acesso e disseminação da informação, a internet trouxe um mundo de possibilidades e comodidade para as pessoas. Através dela é possível comprar uma infinidade de produtos, aprender uma nova língua, pagar contas, tudo em poucos cliques. E quando se trata de alimentação o que não falta na rede são opções e dicas sobre alimentos e dietas.

Por conta disso, as páginas na internet e as redes sociais apontam o crescimento vertiginoso do universo da alimentação saudável. Além de inúmeros blogs com dicas de pratos com baixo teor calórico, pouco açúcar e mais nutritivos, há milhares de perfis no aplicativo Instagram, por exemplo, para dividir e trocar informações sobre refeições, saúde, beleza, esportes e atividades físicas. Entre os mais famosos estão o do professor de educação física Marcio Atalla; e as blogueiras Gabriela Pugliesi, Marina Iris e Carol Buffara.

Por outro lado, embora a disseminação de uma vida saudável seja algo positivo, Débora explica que é fundamental procurar um nutricionista habilitado para a prescrição de dietas, cardápios e para a elaboração de um plano alimentar; destacando o caráter individual deles. “Qualquer outro profissional, da área de saúde ou não, que insistir em atuar nessa área, estará desrespeitando a ética profissional e estará pondo em risco a saúde de quem o procurar”, conta ela explicando que: “As dietas devem respeitar e atender as necessidades do indivíduo, o que não acontece na informação crua da internet, que acaba colocando num mesmo grupo pessoas com necessidades muito distintas. Tem dietas da sopa, da proteína, sem glúten, que eliminam o consumo de determinados alimentos e exageram na ingestão de outros. Essas alterações radicais na alimentação, sem o acompanhamento nutricional, podem colocar a saúde em risco e agravar doenças”, pontua Débora ao alertar sobre os perigos de consultar e seguir conteúdos da internet.

Nutrição em números

De acordo com a Associação Brasileira de Nutrição, a área é uma das  que mais cresceram nos últimos anos no país, principalmente porque com o aumento da expectativa de vida, a demanda por profissões da área de Saúde também expandiu-se.

Segundo a instituição, atualmente, há 81.745 nutricionistas e 11.427 técnicos em nutrição no país. Já o número de Instituições de Ensino totalizam 363, sendo 55 instituições públicas; 298 privadas e 10 instituições especiais. Em relação aos cursos de nutrição, são 431 autorizados: 73 em instituições públicas; 346 em privadas; e 12 em instituições especiais.

31 de março: Dia da Nutrição

Todo dia é dia de cuidar da saúde e da alimentação. Mas, como o assunto é de extrema importância, há uma data dedicada a debater e avaliar a relevância das práticas nutricionais e as políticas públicas voltadas a elas; no caso, hoje.

O Dia Nacional de Saúde e Nutrição é celebrado no Brasil nesta sexta-feira, 31, e faz parte do calendário do Ministério da Saúde. A data, entre tantos outros pontos, incentiva a redução do consumo de alimentos processados e, consequentemente, o aumento da ingestão de frutas e verduras.

Desta forma, para tornar esse dia ainda mais especial e, como diz o ditado, “não deixar para amanhã o que você pode fazer hoje”, por que não dar início a boa alimentação? Montar um calendário de refeições saudáveis; fazer atividades físicas; participar de palestras sobre alimentação saudável; e criar receitas com produtos naturais e frescos são algumas opções de atividades para a serem iniciadas.

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