Henrique Amorim
Não há clima para festividades. Esta é a afirmação da maioria da população friburguense, que aprova a decisão do prefeito em exercício, Dermeval Barboza Moreira Neto, que cancelou os desfiles das escolas de samba e blocos no centro da cidade no próximo fim de semana de carnaval. Para os entrevistados pela equipe de reportagem de A VOZ DA SERRA, realizar a festa seria um desrespeito aos mais de 420 mortos na tragédia das chuvas de janeiro e às centenas de moradores que ficaram desabrigados, desalojados ou perderam familiares e amigos na maior catástrofe climática da história do país. Além do mais, diversas agremiações não teriam condições de preparar os desfiles, já que muitas alegorias e fantasias foram destruídas nas enchentes.
O clima de luto por conta das chuvas também se percebe no mundo do samba friburguense. O presidente do conselho deliberativo da escola de samba Imperatriz de Olaria, Rogério Veloso, diz que mesmo se prefeitura resolvesse ainda no início de fevereiro realizar o carnaval, as agremiações não teriam condições de preparar os desfiles em tempo recorde, mobilizando mais de 1,5 mil pessoas. O presidente da escola Alunos do Samba, Carlos Henrique dos Santos, também concorda com o cancelamento, embora acredite que a realização do carnaval pudesse atrair turistas e fomentar a economia.
“Mas é inegável que Nova Friburgo sofreu muito com toda essa tragédia e até mesmo os foliões não teriam condições de desfilar. Em Conselheiro Paulino, berço de nossa escola, muita gente ligada ao Alunão morreu com as chuvas ou teve perdas na família”, observou. O presidente da escola Unidos da Saudade, Luiz Carlos Teixeira, acredita que toda a cidade ainda está sentida e ferida pela tragédia. Contudo, em sua opinião, o cancelamento dos desfiles foi uma decisão antecipada, pois a realização do carnaval a partir da próxima sexta-feira, 4, seria uma oportunidade de “melhorar o astral da cidade”.
Para Teixeira, Nova Friburgo precisa se reerguer, “tanto é que já aconteceram eventos pré-carnavalescos nos últimos dias e estão previstos outros para os próximos dias”, destacou, lembrando ainda que preparar o carnaval em última hora também não seria uma boa saída, pois os desfiles da cidade estão cada vez mais profissionais e as compras de materiais para fantasias e alegorias começam geralmente um mês após o desfile do ano anterior. “Mesmo assim, teremos gritos de carnaval na quadra da Saudade”, avisa o presidente.
“Realizar o carnaval após essa catástrofes que atingiu a todos nós seria um desrespeito às vítimas e às famílias que sofreram perdas. Não temos clima para festa agora, ainda mais do porte do carnaval. A decisão da prefeitura foi acertada e acredito que o povo inteiro concorda com isso”.
Francisco Amêndola, 49 anos, comerciante, Centro
“Sinceramente não tem clima para se divertir no carnaval em Nova Friburgo. Muitas pessoas perderam familiares e amigos nessa tragédia das chuvas. Até mesmo o pessoal que prepara o carnaval e os que iriam desfilar não teriam empolgação. Acho que poderia ter alguma programação alternativa, um baile, pelo menos para as crianças, mas o carnaval para valer não dá.”
Tatiane França, empresária, Cônego
“Carnaval este ano nem pensar. Seria um desrespeito com os mortos e com os familiares que estão enlutados com essa desgraça toda que se abateu sobre a nossa cidade. O dinheiro que seria gasto com a realização do carnaval deve ser totalmente revertido para ajudar as vítimas das chuvas e construir casas para quem perdeu tudo. Se insistirem em fazer o carnaval, virei para a rua protestar”.
Karla Geminiani, do lar, Duas Pedras
“Realizar o carnaval diante de uma situação de calamidade pública que vive hoje Nova Friburgo seria uma afronta às famílias que perderam seus entes queridos ou suas casas e bens. Infelizmente não há clima para festa agora. Quem sabe depois. As marcas da tragédia ainda estão muito presentes em todos nós”.
Reginaldo de Oliveira, 35 anos, garçom, Jardim Califórnia
“Não temos clima para nos divertir neste carnaval. Foram muitas as perdas com essa tragédia. Famílias inteiras foram soterradas. É uma situação muito triste e temos que ter solidariedade com quem mais sofre neste momento pós-tragédia. Esquecer tudo isso e nos divertir numa festa como o carnaval seria um abuso. A prefeitura acertou com essa decisão”.
Rosane Lima, esteticista, Santa Eliza
“Sou comerciante e o carnaval é uma boa opção para ganhar um dinheiro a mais, mas concordo que este ano não há condições de realizar essa festa. Muita gente ainda está de luto e a cidade vive um clima de muita tristeza. Acho que foi uma decisão acertada. Como irmos para as ruas nos divertir sabendo que parentes, amigos e vizinhos morreram soterrados?”
Manoel Vicente da Silva, 60 anos, ambulante, Duas Pedras
“Nova Friburgo, infelizmente, está ainda com muitas feridas expostas diante de toda essa tragédia, e sua população precisa se recuperar. A decisão de não se realizar o carnaval este ano pode ser vista como uma forma de respeito às vítimas e de encarar a dificuldade também dos sambistas em se reerguerem e conseguirem patrocínios para seus desfiles. Os empresários também foram afetados. Quem sabe nossa população, já ciente de que é preciso dar a volta por cima, resgate este ano o genuíno carnaval de rua, organizando pequenos blocos e se divertindo, cada um do seu jeito, já que os desfiles com toda a infraestrutura e logística não acontecerão”.
Landri Schettinni, radialista, Centro
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