Ponto de Vista - 25/05/2013

segunda-feira, 27 de maio de 2013
por Jornal A Voz da Serra

Jornalista veterano com vasta experiência em diferentes meios de comunicação, autor de 14 livros sobre suas paixões — futebol, cinema e MPB —, o friburguense João Máximo é quem assina o nosso segundo Ponto de Vista, sobre a próxima Copa do Mundo, CBF, corrupção na política e no esporte, os mandos e desmandos do poder. Referência no jornalismo esportivo, João Máximo colaborou com praticamente todos os veículos do Rio de Janeiro e de São Paulo. Atualmente, é colaborador de O Globo e da ESPN Brasil. Este PONTO DE VISTA certamente suscitará polêmicas, o que nós, aqui do jornal, achamos ótimo. Afinal, é exatamente este o espírito da coluna.

 

 

O sorriso de Dona Dilma

 

João Máximo

 Vendo a presidenta Dilma, toda sorridente, chutando bola no gramado de estádios recém-construídos, fica a impressão de que tudo vai bem. Com ela, com o futebol, com o país. Sua aparente alegria sugere que foi uma formidável decisão trazer para o Brasil, a Copa do Mundo de 2014. Não foi.

Fui, entre os jornalistas que cobrem esporte, quase uma exceção na resistência à ideia de fazermos aqui a Copa do Mundo. Admito certo pessimismo quando ouço dizer que nós, brasileiros, estamos envolvidos em grandes projetos. Mas este, da Copa aqui, era pule de dez, barbada, fácil de prever que seria o que é: um escândalo em grandes proporções.

Primeiro, é preciso lembrar que a Copa do Mundo não é do país que a sedia. É, sim, da Fifa. Que acabou encontrando entre nós o tipo de dirigente, político ou esportivo, que poderia colaborar com sua ânsia de ganhar dinheiro. Para ficarmos no âmbito esportivo, Ricardo Teixeira era um. Ao cair, ficou em seu lugar José Maria Marín, outro. A corrupção ronda esses cavalheiros, assim como é parte do currículo de nove entre dez políticos brasileiros. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, pode não se incluir nesta estatística, mas decerto peca pela incompetência. Ou pela impotência que o impede de moralizar a CBF e, por tabela, o COI, duas entidades que usam e abusam do dinheiro público.

Marín, que começou seu mandato roubando medalha, descobriu-se em tempo, ter sido homem da ditadura, inclusive com participação no episódio da morte do jornalista Vladimir Herzog. Pois bem, é ele o presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa. É ele quem vai se sentar ao lado da presidenta na festa de abertura, ambos sorridentes. Marín, certo de que o ministro não o perturba. Dilma, fingindo esquecer que ela e gente de sua família foram torturadas pelos aliados de Marín.

Estou misturando estações? Provavelmente. Estádios superfaturados, elefantes brancos a rodo, dirigentes esportivos e políticos enriquecendo, cartolas falando em "legado” e a Copa do Mundo trazendo mais problemas do que soluções para o brasileiro. Sinceramente, até agora não sei por que a presidenta Dilma anda tão sorridente.

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