A friburguense Marieta de Moraes Ferreira, doutora em História pela Universidade Federal Fluminense e com pós-doutorado na École des Hautes Etudes em Sciences Sociales de Paris, autora de diversos livros, é quem assina nosso Ponto de Vista de hoje. O tema escolhido por ela não poderia ser mais interessante e atual: o futuro dos livros. Como dirige a editora da Fundação Getúlio Vargas, Marieta participa de incontáveis debates sobre o mercado de livros digitais e reconhece que o futuro certamente pertence a eles. No entanto, não tem dúvidas de que a mudança no mercado editorial, apesar de inexorável, não acontecerá tão rapidamente como alguns imaginam.
O futuro dos livros
Marieta de Moraes Ferreira
No último ano tem sido crescente o debate sobre a difusão dos livros digitais. Esse fato tem gerado várias perguntas: o livro físico vai acabar? As bibliotecas do futuro não terão mais livros? Os computadores e leitores digitais são as novas formas de leitura nas bibliotecas?
Muitas vezes essas perguntas são respondidas de maneira simplista, como se o mercado de livros pudesse mudar de maneira radical, num passe de mágica. Uma avaliação mais criteriosa das perspectivas dos livros nos indica que, de fato, o futuro pertence aos digitais, mas isso não quer dizer que as publicações em papel vão acabar. Esse processo de mudança acontece de maneira gradual, mas sem dúvida de forma irreversível.
De acordo com os últimos dados publicados no relatório anual referente a 2012, da Associação dos Editores Americanos, os livros digitais nos EUA responderam por 20% do faturamento das editoras e tiveram um crescimento de 45% em relação a 2011. Ainda assim, os livros tradicionais continuam a ocupar lugar destacado.
No Brasil, o mercado de livros digitais ainda está bastante incipiente e segundo dados pouco precisos corresponde a apenas 5% do mercado, mas com expectativa de vir a conquistar 30% em cinco anos.
Essas avaliações, no entanto, possuem uma dose significativa de imprevisibilidade. Em primeiro lugar, a oferta de livros digitais em língua portuguesa ainda é pequena. E aí é preciso explicitar o que é considerado livro digital: essa denominação tornou-se bastante vaga e abarca obras em arquivo PDF e os Epubs, que possuem mais recursos e apresentam uma leitura mais confortável. No entanto, a produção de Epubs em português ainda é cara, trabalhosa e lenta.
Outro aspecto importante que incide sobre o mercado de publicações digitais é a aquisição dos leitores de livros eletrônicos, seja o Kindle de Amazon, o iPad da Apple, o Kobo ou o Samsung, que ainda têm, todos eles, preços elevados para o mercado de estudantes e consumidores brasileiros.
Finalmente, merece ser destacado que a cultura do livro de papel ainda está muito enraizada nas gerações de leitores que estão no mercado consumidor. Mesmo os mais jovens dão preferência e tem mais satisfação em folhear as páginas, ir para frente e para trás e sentir o cheio do papel.
No entanto, não devemos esquecer que esse quadro é temporário e as perspectivas são de ampliação do mercado de livros digitais, o que sem dúvida trará perdas, mas também benefícios, como barateamento e maior acesso dos consumidores a leitura e aos livros.
Hoje, somente 27,5% das escolas públicas do país têm bibliotecas. Assinada em 24 de maio de 2010, a Lei da Biblioteca Escolar estipula que todas as escolas do país tenham acervos, sejam estas escolas públicas ou privadas. No entanto, ainda estamos distantes da realidade almejada para nossas escolas. Os smartphones e tablets poderão ser um caminho para a superação desse desafio.
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