Costuma-se dizer do pole dance: ‘treine como um atleta, se apresente como um artista
É o que conta a psicóloga e professora de pole dance, Helena Ventura Wambier. “É uma atividade completa. No nível básico, destinado a iniciantes e pessoas com pouco tempo de prática, há um intenso trabalho de fortalecimento da musculatura, especialmente dos membros superiores e do abdômen. A partir do nível intermediário, quando começam as inversões, que são os movimentos em que o praticante fica de cabeça para baixo, os membros inferiores também são muito exigidos. Além disso, a atividade possui um gasto calórico considerável, ajuda a desenvolver a noção de esquema corporal e lateralidade, desenvolve auto-eficácia a cada vez que a pessoa supera um desafio, ajuda a desenvolver a sensualidade e promove autoestima e consequente aceitação do próprio corpo”, afirma ela.
Há apenas um mês praticando pole dance, a servidora pública Raquel Puga, de 38 anos, conta que já notou diferenças no corpo. “Eu comecei a praticar o pole dance porque é uma forma divertida de me exercitar, trabalhando a flexibilidade, a musculatura e o cardiovascular. Em pouco tempo pude notar o ganho de força e de flexibilidade e acho interessante que as aulas passam muito rápido. Você fica se exercitando e quando vê já acabou”, disse.
Para Raquel, um dos grandes diferenciais do pole dance em relação a outras atividades esportivas é o prazer. “Eu acho importante me identificar com o esporte, o exercício escolhido. Ele precisa ser divertido porque a vida já é cheia de compromissos que nem sempre a gente faz com prazer, então que pelo menos a atividade física seja prazerosa, como é o pole para mim. Estou muito feliz e animada e acredito que meu relacionamento com esta atividade vai durar bastante tempo”, disse.
Esportivo, artístico e exótico: as várias facetas do pole dance
O pole dance pode ser divido em algumas vertentes: o esportivo, que é considerado esporte semi olímpico e consiste em fazer movimentos em torno de duas barras verticais; o pole artístico, que usa elementos de outras modalidades como o ballet clássico, contemporâneo, jazz, etc; e o pole exotic, que é a versão mais sensual. “Infelizmente as pessoas não conhecem o pole dance e, por preconceito, reduzem a apenas dança de boate, sem conhecer a verdadeira essência da modalidade, que é ser uma dança acrobática”, exclama.
Segundo a professora Helena, há um movimento para que o pole dance se torne esporte olímpico, mas por enquanto a modalidade é área do saber da Dança, e não da Educação Física. “Uma aula de pole dance não é nada sexy, como as pessoas pensam. Costuma-se dizer do pole dance: ‘treine como um atleta, se apresente como um artista’”, pontua ela.
“Os movimentos são muito complexos para que você domine apenas com teoria. Um bom instrutor precisa executar o movimento para mostrar pro aluno. Não tem como você dar aula se você não sabe fazer os movimentos. E não se aprende em alguns dias numa capacitação! É fundamental que a pessoa pratique, pratique e pratique”, explica Helena.
À primeira vista
Proprietária do primeiro estúdio de pole dance de Nova Friburgo, Helena conta ainda como começou a praticar a atividade. “Sempre gostei de dançar. Já fiz stiletto, ballet clássico, dança do ventre e há cerca de dois anos me encantei pelo pole dance. Um verdadeiro caso de amor à primeira vista”, brinca ela, explicando que fez as primeiras aulas em Macaé, cidade onde morava e, depois de um ano de prática, tempo mínimo exigido para a especialização, deu início à capacitação.
Assim como o boca a boca é eficiente no quesito publicidade, os posts das redes sociais não ficam atrás quando o assunto é divulgação. Pole dancer formada, Helena viu suas fotos e vídeos na web bombarem e dezenas de amigos se interessarem pela atividade. “Foi então que eu resolvi voltar a morar em Friburgo e montar aqui um estúdio, o primeiro de pole dance da cidade”.
Inaugurado há pouco mais de um mês, o estúdio já conta com mais de 30 alunos. “A aula começa com aquecimento, depois fazemos os movimentos no pole e encerramos com alongamento. É importante frisar que cada aluno tem uma ficha onde estão listados todos os movimentos do nível dele (básico, intermediário ou avançado). A cada aula vamos executando os movimentos da ficha, tudo de uma forma planejada e anotando as datas que os movimentos foram feitos. Fazemos este procedimento várias vezes, até que eles saiam limpos e fluídos”.
No pole dance são realizados movimentos com giros, travas (posições paradas na barra, que podem ser no chão ou no alto) e os chamados movimentos de transição (caminhadas, body wave, floorwork, etc), que combinados formam uma coreografia. “O que acho mais incrível do pole dance é que ele é uma atividade desafiadora. Com a evolução na prática vemos que nosso corpo é capaz de coisas que nem imaginávamos!”, exclama Helena.
Além da barra, são utilizados em algumas aulas a lira (um arco), que é um instrumento de circo, o tecido acrobático e o mastro chinês. Estes são alguns dos elementos que formam o aerial dance, isto é, as danças aéreas, onde perde-se o contato com o chão em grande parte da apresentação.
Homens no pedaço
Como se não bastasse a conotação sexual, o pole dance é comumente associado exclusivamente ao universo feminino. Outra falácia. Há muitos homens aderindo à prática dessa atividade, como é o caso do jornalista Fabrício Rocha, de 29 anos, que garante: apesar do preconceito, não deixará de praticar o esporte.
“Sempre que conto que estou fazendo pole dance as pessoas ficam surpresas e comentam que deve ser no meio de um monte de mulheres. E eu respondo: qual o problema? O feminino é sempre subjugado, sexualizado, mas estamos assistindo à revolução desse conceito e para mim é uma honra testemunhar de perto essa dinâmica”, exclama ele.
Fabrício faz parte do primeiro grupo de alunos de pole de Nova Friburgo e vê a participação dos homens na atividade como uma quebra de paradigmas. “Não aprendo só a dança e os movimentos acrobáticos, mas acabo conhecendo melhor o universo feminino, as aflições, e os super poderes das mulheres. Estou apaixonado pelas aulas, me dedicando ao máximo, desenvolvendo a sensualidade e aprendendo muito sobre o meu corpo. A gente ganha força, aprende a ter determinação e, além de resistência física, desenvolve autoestima. Estou animado”, exclama.
Minha primeira aula de pole dance
Cheguei pontualmente às 15h no Estúdio da Helena Ventura, no Espaço Arp. Troquei de roupa e fui para a minha primeira experiência com o pole dance. Começamos com um alongamento e, apesar de ser frequentadora assídua de academia, pude sentir cada nó do meu corpo se desfazer. Foi como se meus músculos, somente acostumados com os pesos dos halteres e das placas de ferro dos equipamentos, estivessem sendo esticados. E realmente estavam.
Demos início à parte técnica da aula e eu garanto: não há nada de sensual e fácil como parece na televisão ou vídeos da web. A professora Helena me explicou a forma como deveria me posicionar junto a barra, onde deveria colocar mãos e pernas. Depois de aprender alguns dos movimentos, como as passadas, o pivô, o giro fireman e o giro front hook, fizemos as travas crucifixo (foto), que exige muita força nas pernas, equilíbrio e concentração. Fui me habituando com o espaço, aos poucos adquirindo intimidade com a barra e entendendo como fazer o pole girar mais rápido ou devagar, conforme a aproximação com a barra. A aula durou pouco mais de uma hora e ao final fizemos mais um alongamento.
Desde a infância, eu, Dayane, a repórter, coleciono diferentes experiências esportivas. Fiz handebol, natação, vôlei, basquete, futsal, funcional e, atualmente, musculação. Mas, apesar de ser apaixonada por todas, nenhuma delas foi tão desafiadora quanto o pole dance. Fui para a aula imaginando que seria uma coisa e, lá, me deparei com outra.
O que achei mais interessante é que a atividade trabalha todas as partes de corpo e ajuda a desenvolver os nossos dois lados. Todos os movimentos são feitos para a direita e a esquerda, diferente do handebol e do volêi, em que normalmente se ataca com apenas umas das mãos, por exemplo; e do futebol, em que o atleta é destro ou canhoto para chutar (salve raras exceções).
Outra coisa que me chamou muito a atenção é a questão da flexibilidade e da força. A barra escorrega muito e é preciso persistência para conseguir realizar os movimentos. Além disso, você começa a aula um pouco travada e no alongamento final, consegue ficar em posições que no início não conseguia. Ou seja, em uma única hora você já começa a ganhar maleabilidade e sentir o corpo mais leve.
Não menos importante, preciso ser sincera, não se assuste se após as primeiras tentativas você encontrar uns hematomas pelo corpo. A professora Helena me garantiu que com o tempo a pele vai acostumando com o atrito com a barra e os vestígios da atividade vão desaparecendo (risos). E por falar na professora, Helena me deixou super à vontade e em nenhum momento me senti inibida de realizar algum movimento. Respeitar os limites do meu corpo foi uma das primeiras lições da aula.
Bom, por fim, como leiga, o que posso dizer é que passei a admirar muito as mulheres e homens que conseguem fazer acrobacias (verdadeiro espetáculo) com o pole. Não é fácil! Enfatizar nunca é demais! Por outro lado, embora seja difícil, o pole tem algo que nos estimula a querer continuar, a tentar outra, outra e mais outras vezes até realizar o movimento. É um exercício árduo, e ao mesmo tempo, instigante.
Para quem ainda está na dúvida sobre realizar ou não essa atividade, eu sugiro uma aula experimental. Cada pessoa se adapta melhor a um exercício, e talvez para você, que acha chato levantar pesos na academia, não curte funcional, artes marciais ou outras atividades aeróbicas, o pole pode ser sim uma excelente opção. Além de queimar as gordurinhas, fortalecer e tornear os músculos, ele eleva a autoestima. Tudo de bom, não é mesmo?!
Sobre o estúdio
O Estúdio Helena Ventura fica situado na Avenida Conselheiro Julius Arp, no Espaço Arp, número 80, bloco 10. Informações sobre horários das aulas e valores podem ser obtidas pelo telefone e WhatsApp (22) 99823-0767.
Helena Ventura
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