Poema para aquele que ficará - 27 de junho

sexta-feira, 26 de junho de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Quem foi rei nunca perde a majestade.”

(Dito popular)

Dentro do teatro de olhos azuis de vidro ficam

os bancos como a assistir a uma ópera fantasma

executada pelos ninguéns entre as cortinas

o vermelho delas tem vontade de fechar-se

por vergonha do ato daqueles que baniram

o paraibano, vítima de xenofobia cultural

Mas em outra parte brilha a pedra do reino

em outros burgos nunca encastelados

por montanhas de um vale que se crê europeu

suassunamente as peças ganham corpos

o santo e a porca mais uma vez dialogam

duas escolas de samba reconhecem sua arte

Compadecida, compadece-te dos ignorantes

incapazes de enxergar além do próprio umbigo

amesquinhados pela efemeridade de uma glória

que o olhar quintano viu como um chocalho

cheio de guizos e fitinhas – por isso, irrisório

(esquecem eles que quatro anos não são a Vida)

Creem-se mais arianos que o grande nordestino

daí a ânsia de removerem a presença do poeta

agindo rápido, não mais à sombra e em silêncio

o apagador trabalhando com pouco alarde

apenas alguns notando seu deslize sobre o nome

que daria orgulho em qualquer lugar onde há leitura

Não incomode ao escritor a “no mínimo descortesia”

não pense que Friburgo inteira aprova o acinte

e que de novo o irmão poeta quintaneie em versos:

eles passarão; só Ariano Suassuna passarinhará

deixando no ar o eco do seu canto construído

de tez brasileira, amor ao povo e eternidade

[Sérgio Bernardo]

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