A onda a onda a onda lambeu a areia catou os cocos levou pro mar e adoçou o horizonte enquanto o casal ia à distância aos olhos do perdido que porventura ralhou de lhe contar mais essa. Quede o herói desta trama que inda não deu as caras? nem mesmo pra dizer a que veio, pr’ondé que pretende ir nesta soleira de porta (onde é que dá?), que nem se assusta mais com os olhos que não se viram com as feridas se apresentam no couro cabeludo de tanto coçar o amor que foi embora, de tanto ralhar com a Criação e qu’nem mesmo serve pra endireitar os ombros porque nesse estágio do amor abandonado não há massagens que bastem, não existem limites para o choro que não deságua, que só afoga, que se contém de um lado pro outro explodindo no peito, assistindo como quem não pode participar – um personagem que se contenta com seu papel de coadjuvante condenado pelo autor a querer ser parte da audiência, jamais do palco, jamais como quem cantarola palavras ensaiadas, mas como quem se joga num destino desconhecido onde não bastam páginas onde não se vira da primeira a última folha e se obtém a verdade ou o fim ou o destino ou as fatalidades e tristezas típicas dos pobres autores que ainda assim teimam em cacarejar no palco uma jornada picaresca de dois bobos que só tem com o destino as tristes verdades que se fazem engraçada porque é a forma como todos gostam – e se rompe a fórmula, condena-se ao anonimato, o que ainda é melhor que os festejos da fama, por isto que te amiúdo este momento, em que o casal parte, destino incerto, sozinhos, observados pelo destratado, o desamado, o infeliz a quem só resta dúvidas e, se ainda for capaz, um cadinho de esperança (outras dessas coisas qu’nem servem de nada – só ocupa espaço, só se coça, só faz ferida, só arranca cabelos chorando em silêncio, sabendo que ninguém se importa e que sua dor, só sua, é tola e feia e amarga). E nem mesmo tem o delírio de se empanturrar de sorvete, porque não cabe mais esse tipo de afinação, porque não há mais tom para esta ordem de acontecimentos que começa na praia, com o casal indo embora, deixando pegadas na areia, abraçados, ele mexendo no cabelo dela e o outro, sozinho, distante, perdido como grama que se arranca deixando a raiz na terra, engole o choro e se sente mais uma vez sofrido.
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