Dalva Ventura
Uma iniciativa a ser imitada. Aliás, se outros comerciantes mais antigos da cidade fizessem o mesmo estariam contribuindo, e muito, para divulgar e preservar a memória de nossa cidade. A ideia foi do proprietário da antiga Pharmacia Esperança e começou com a vontade de homenagear os antigos donos e funcionários do estabelecimento.
Wellington Mello, o Tom, começou revirando os livros de registro em busca de nomes e fotografias. Revirando antigos arquivos e gavetas, o projeto inicial foi crescendo e hoje, além das fotos, diversos instrumentos estão expostos nas duas vitrines da farmácia. O espaço, aliás, já se tornou pequeno para tanta história. Tom já quase não encontra mais lugar para colocar os guardados de quase um século de memória.
À frente do negócio há 40 anos e apesar de ter investido em reformas para acompanhar as mudanças do mercado farmacêutico, Tom guardou com carinho e cuidado não apenas as fotos, mas também objetos usados antigamente: frascos contendo substâncias que curavam as doenças da época, balanças de precisão, livros contendo formulações ou caixinhas de metal com seringas, agulhas de injeção que eram esterilizadas em água fervendo, vidros de Água Inglesa Granado, enfim, memórias de um tempo que não volta mais, quando as farmácias eram boticas e os farmacêuticos eram os médicos da época.
Situada na esquina da Rua Francisco Mieli com a Sete de Setembro, a centenária farmácia foi fundada em 1924 por Antônio Maria Vieira e seu filho, José Vieira, com o nome de Farmácia Vieira. Dezoito anos depois, um farmacêutico chamado Aristóteles Bastos de Souza, o Seu Pitote, a comprou e ela passou a se chamar Pharmacia Esperança. Todos, porém, conheciam-na pelo apelido do proprietário. Ela era a Farmácia do Pitote.
Em 1954, Odilei Alves de Mello adquiriu o estabelecimento e ali empreendeu várias reformas, inclusive passando o ponto para uma empreiteira construir o prédio onde se encontra a farmácia até hoje. Com seu falecimento, coube ao filho Tom, também ele, farmacêutico, cuidar do patrimônio do pai.
“História, a gente tem que registrar. Chegou uma hora em que pensei: não vou deixar isso morrer.”
À medida que se embrenha nos guardados do pai, Tom se apaixona cada vez mais pela história do negócio que, de certa forma, se confunde com a própria história do município. Quem passa pelo local sem pressa e gosta de história invariavelmente dá uma paradinha para apreciar as relíquias que ali estão expostas. Um alento para esta pobre cidade que perde cada vez mais suas antigas feições para se assemelhar cada vez mais com outra qualquer.
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