Salão do Petit Trianon da Academia Brasileira de Letras ficou lotado, na noite da última quinta-feira, num evento que reverenciou Nova Friburgo. A pesquisadora Janaína Botelho, professora da Universidade Candido Mendes, recebeu, das mãos do imortal Sergio Rouanet, a Menção Honrosa do Prêmio Ensaio ABL 2009, pelo livro O Cotidiano de Nova Friburgo no Final do Século XIX: Práticas e Representação Social, lançado ano passado. Além de contar com a presença da grande maioria dos imortais, o evento – considerado o mais importante do país para a literatura - reuniu acadêmicos, políticos, personalidades do meio artístico.
O escritor e romancista catarinense Salim Miguel recebeu o Prêmio Machado de Assis , no valor de R$ 100 mil. Sete outros prêmios para a Literatura Brasileira, no valor de R$ 50 mil cada, também foram entregues. Anualmente, a Academia contempla escritores de diferentes gêneros literários, concedendo prêmios que objetivam estimular as diferentes manifestações culturais nos seus mais variados aspectos. Os acadêmicos Marcos Vilaça, Lêdo Ivo, Nélida Piñon, Alberto da Costa e Silva e Moacyr Scliar integraram a Comissão Julgadora responsável pela escolha dos escritores laureados.
O presidente da ABL, Cícero Sandroni, ressaltou o alto nível dos trabalhos apresentados este ano às diversas comissões julgadoras e fez questão de salientar que a Academia não tem medido esforços para dar cumprimento às suas atribuições de promoção da Literatura nacional. “Trata-se de um investimento de cerca de meio milhão de reais, o que representa um dos mais expressivos conjuntos de prêmios literários distribuídos no Brasil”, explicou.
A entrega dos prêmios literários deste ano, no dia em que a Academia comemora os 112 anos de sua fundação, foi uma noite memorável para o município serrano. A homenageada Janaína Botelho destacou que, na verdade, a premiação é para Nova Friburgo. “É um prêmio para Friburgo, até porque o livro destaca um tipo de representação social que a cidade tinha na época (última década do Século XIX) que era da saúde, voltada para a questão da natureza, de seu clima, suas águas puras. E isso é um resgate que a cidade pode fazer nos dias atuais, em que pode redescobrir seu potencial turístico”, afirmou.
O também imortal, educador, sociólogo e cientista político Candido Mendes afirmou que o trabalho desenvolvido por Janaína Botelho foi considerado pioneiro. Foi a única categoria a receber a Menção Honrosa. “Trata-se de trabalho realmente pioneiro de cultura regional, abordando a organização da subjetividade coletiva daquele município, e a originalidade da integração suíça das montanhas fluminenses nas suas políticas de memória”, explicou.
O cuidado com que a pesquisadora apresentou a História de Nova Friburgo na virada do Século XIX para o Século XX chamou a atenção da Academia. Seu relato preciso do cotidiano do município, numa época de grande efervescência cultural e influência europeia, revelou que o município também viveu sua “Belle Époque”, atraindo turistas da então capital Rio de Janeiro, durante meses e meses, ávidos por cultura, lazer e diversão num ambiente saudável, livre de epidemias e condições insalubres.
A homenageada Janaína Botelho reiterou, mais uma vez, que a premiação concedida pela Academia Brasileira de Letras é, na verdade, uma homenagem ao povo de Nova Friburgo, à história do município e um incentivo à pesquisa. “Agradeço a todos os amigos que me incentivaram. Em especial, ao professor Candido Mendes, que leu o livro e achou que deveria ser indicado. A menção honrosa da Academia Brasileira de Letras representa a maior honraria que um escritor pode receber. Mas quem ganhou este prêmio foi a cidade de Nova Friburgo. É um livro da cidade, é um prêmio para a cidade, para a história de Friburgo”, insistiu.
O pró-reitor de Coordenação e Expansão da Universidade Candido Mendes, professor Alexandre Gazé, destacou a importância do trabalho desenvolvido por Janaína Botelho e sua premiação. “Esta menção honrosa concedida pela Academia Brasileira de Letras vem coroar um trabalho já reconhecido no meio acadêmico e serve como exemplo e estímulo para que nossos alunos invistam cada vez mais em pesquisa. E a rica história de Nova Friburgo é resgatada através das páginas tão bem escritas por Janaína, pois o livro estabelece um período histórico de riquezas e valorização do município”, revelou.
O pró-reitor lembrou ainda que, com a premiação de tamanha importância para o mundo literário, acadêmico, o município de Nova Friburgo vive um momento especial, destacado em todo o país, em que pode mostrar seus valores, suas riquezas, seus atrativos e, principalmente, uma história que orgulha sua população e reverencia seus fundadores e imigrantes responsáveis por seu desenvolvimento. Vários amigos e companheiros do meio acadêmico prestigiaram a noite em homenagem a Janaina Botelho. Professores, diretores e funcionários da Universidade Candido Mendes prestigiaram a pesquisadora.
“O Cotidiano de Nova Friburgo no Final do Século XIX – Práticas e Representações Sociais”
A obra, fruto inicial de um trabalho para dissertação de mestrado, é um resgate histórico da cidade serrana e sua formação e desenvolvimento, a partir da análise do cotidiano de sua sociedade através de páginas dos jornais. Professora da Universidade Candido Mendes, Janaína Botelho revela as fortes influências de imigrantes portugueses e italianos na virada do século XIX, afirma que os suíços pouco contribuíram para o desenvolvimento da cidade e mostra que Friburgo viveu sua Belle Époque, considerada a cidade salubre, para onde milhares de pessoas viajavam anualmente, em busca de um clima saudável, longe das epidemias da capital.
Para a pesquisadora, o livro faz um claro alerta de que o setor turístico precisa voltar a ser estimulado em Nova Friburgo o mais rápido possível. Segundo Janaína, as representações que se fazem sobre o município são referenciais. No final do século XIX, era a cidade da saúde, com uma vocação para o turismo que foi a grande responsável pelo desenvolvimento local. Janaína lembra que as características naturais de Friburgo fazem dela um polo turístico fantástico e que precisa ser tratado com seriedade, de forma profissional e sem amadorismo.
Professora da Universidade Candido Mendes na cadeira de história do direito, Maria Janaína Botelho Corrêa é bacharel em ciências jurídicas, especialista e mestre em história, tendo exercido o cargo de diretora de Cultura em Nova Friburgo. Atualmente, está trabalhando em nova pesquisa sobre a história local, desta vez no período do Império, desde a formação da cidade, buscando as raízes da representação de Nova Friburgo como sendo a cidade da saúde. Sua meta é fazer uma grande síntese sobre toda a história de Friburgo, desde seu surgimento até a década de 60 do Século XX.
A PREMIAÇÃO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
Com mais de 30 volumes publicados, Salim Miguel (nascido no Líbano) é reconhecido como um dos mais destacados ficcionistas brasileiros, além de contista, cronista e ensaísta. Ele recebeu o Prêmio Machado de Assis na noite da última quinta-feira. Os demais Prêmios foram:
Prêmio ABL 2009 – História e Ciências Sociais: concedido à obra de Gisele Sanglard, Entre os salões e o laboratório: Guilherme Guinle, a saúde e a ciência no Rio de Janeiro, 1920-1940, pela originalidade, relevância do tema e qualidade da pesquisa.
Prêmio ABL 2009 – Ensaio: José Maurício Gomes de Almeida foi laureado pela obra Machado, Rosa e Cia: ensaios sobre literatura e cultura.
A Comissão Julgadora propôs ainda Menção Honrosa para a categoria Ensaio à obra de Maria Janaína Botelho Correia O Cotidiano de Nova Friburgo no Final do Século XIX, Práticas e Representação Social.
Prêmio de Literatura Infantil 2009: O autor premiado foi Francisco de Salles Araújo, pela obra Cordelinho, que reúne as histórias: O Barato da Barata e O Tigre que virou doutor.
Prêmio Roteiros de Cinema 2009: foi concedido a Rafael Conde, pelo roteiro do filme Fronteira, baseado no romance homônimo de Cornélio Penna.
Prêmio ABL de Ficção: Heranças, romance de Silviano Santiago, foi o livro laureado. Silviano Santiago, ensaísta, poeta e contista, que por três vezes foi o ganhador do prêmio Jabuti, novamente destaca-se agora no terreno da ficção.
Prêmio ABL de Traduções: Paulo Bezerra, foi o laureado pela tradução de Os Irmãos Karamázov, de Fiódor Dostoiévski, da Editora 34 Letras.
Prêmio ABL de Poesia: Denise Emmer foi a ganhadora do prêmio de poesia, com seu livro Lampadário, que reúne poesias com temas universais como o amor, a morte, o tempo o sonho e a fugacidade da vida.
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