Personalidades opinam sobre decreto que tombou 154 imóveis na cidade

segunda-feira, 04 de fevereiro de 2013
por Dalva Ventura

No sábado, 26, A VOZ DA SERRA publicou reportagem especial sobre o tombamento de mais de cem imóveis no município. O tema gerou grande debate e polêmicas pela cidade. Ouvimos algumas personalidades representativas da cidade que dão sua opinião a respeito deste assunto tão importante para o futuro de Nova Friburgo.  

“O assunto ‘tombamento do patrimônio histórico’ é exaustivo e conflitante, pois representa a manifestação de vários interesses e segmentos da sociedade. De um lado os proprietários, que de certa forma perdem a gerência sobre o que é seu. De outro os especuladores imobiliários, que forçados por uma legislação desatenta a vários aspectos mercadológicos esgotam as possibilidades de investimentos imobiliários decentes. E de outro o poder público, que, desarticulado no assunto, adota a legislação vigente, seja federal, estadual e até municipal, como meio de proteção política que garante tomadas de decisões nem sempre justificáveis.

A falta de diálogo e de uma política clara de valorização imobiliária é que gera estes conflitos e antagoniza as partes em questão. No meu entender, uma política de intervenção urbana, definindo áreas de vocação comercial nas regiões onde mais estão concentrados este imóveis—por exemplo, as ruas Fernando Bizzotto, Oliveira Botelho, Ernesto Brasílio, Avenida Alberto Braune e outras—deveriam receber investimentos reais em iluminação, calçadas, arborização e sinalização, de forma a valorizar os pontos comerciais, promovendo a migração de restaurantes, bares e lojas para estes locais. 

A médio e longo prazos isso daria uma compensação aos proprietários, no que diz respeito a aluguéis e tudo mais. Estas áreas serão, num futuro próximo, pontos turísticos naturais. E a concentração de turistas elevará não só o valor comercial do imóvel, como o desenvolvimento da mentalidade de que o que é antigo tem valor histórico e também econômico.

Cabe ao poder público identificar ou criar áreas de expansão de uso residencial, com gabaritos e taxas de ocupação ajustadas a vocação destas áreas, incrementando o crescimento imobiliário e sua valorização. Isso iria despressurizar o interesse sobre o centro da cidade, onde se encontra a maior parte do nosso patrimônio histórico.

É preciso uma visão ampla, um diálogo aberto, capaz de encontrar soluções criativas adequadas à nossa realidade física, econômica e política. Soluções já experimentadas em outros lugares no Brasil e no mundo. Não precisamos reinventar a roda e sim nos antenarmos ao que estão fazendo. Quando for possível entender que preservando é possível agregar valor e ter lucro esta discussão deixará de ter lados e todos estarão juntos na formação de uma cidade que se orgulha de sua história de seu patrimônio.” Giovanni Cariello, arquiteto

“O tombamento dos próprios municipais de grande valor histórico é, na minha visão, um dos momentos mais ricos da vida plena da sociedade friburguense. Como diz José Saramago, um povo que não conhece a sua história e não luta pela perpetuação de sua memória não existe. Lastimável que cidadãos como Lilian Barreto e Luiz Fernando Folly, com o apoio do prefeito da época, Sérgio Xavier, aqui não estivessem há mais tempo para não termos perdido tantas referências marcantes para Nova Friburgo, como o Teatro Leal, a Casa de Rui Barbosa, da Madame Santana, os dois maravilhosos coretos da praça, sem falar na destruição da máquina da Leopoldina Railway.Precisamos estar atentos para a interface deste momento tão importante, respeitando e cooperando para que os donos dos prédios tombados tenham um respaldo de nossas autoridades e dos nossos empresários.”   Júlio César Seabra Cavalcanti (Jaburu), fundador do Gama

 “Entendo que existe uma diferença muito grande entre tombamento e preservação. Será que para preservar um patrimônio físico de uma cidade é necessário tombá-lo? A preservação vai muito além do simples tombamento. 

No momento em que este assunto importantíssimo vem à tona através da reportagem desta semana, recorro aos eucaliptos de nossa Praça Getúlio Vargas, que foram submetidos ao equívoco do tombamento e hoje são motivo de grande preocupação e transtorno.

Em minha opinião, preservar vai muito além do tombamento em si. Preservar é um processo que envolve um conjunto de ações que vão desde intervenções físicas até políticas públicas, com o objetivo de promover a manutenção do patrimônio cultural para as futuras gerações. 

Será que nossa cidade precisa de leis para que um imóvel não seja demolido para preservarmos nossa memória? Hoje passei pelo antigo Fórum e percebi que sua manutenção é precária. As paredes estão sujas e mal conservadas. Será que uma vez tombado ele será preservado? Na realidade, nossa cidade vem sendo submetida a várias intervenções que resultam em destruição e morte. Nosso rio Bengalas foi vítima desse processo nos anos 90. Somos vítimas de nossos próprios erros de um passado recente que resultou em feridas profundas em nossa geografia e também em nossa alma.  

E nosso patrimônio cultural? Cadê a banda ‘Ramisereseu’ do Teleco? Cadê o Carlito Marchon? Quem foi ‘Lulu Carne Seca’? E os jogos da Fundação no Ginásio Celso Peçanha? E o Atlantic? E o Copa 70? Onde se localizava a Lux? E o Galeria Bar? E a Majórica? E o chafariz da praça? Por falar em praça, cadê a neblina que tomava conta de nossa cidade nas manhãs de inverno? Este assunto trouxe saudades de uma Nova Friburgo que não existe mais e que nem os tombamentos podem resgatar.” Marcio Ventura Lugon, médico

“O povo de Nova Friburgo sempre se orgulhou de sua história. Vaidosamente citava o seu município como premiado com um Decreto Real que a tornou nobre e diferente, cercada de verdes montanhas, com grandes recursos hídricos e clima inigualável. Seu desenvolvimento agrícola, industrial, comercial e cultural está representado pelas bandeiras de vários países nas panóplias existentes em suas praças e que representam as raízes que fortaleceram a colonização suíça pioneira.

Sob os olhares de imigrantes, religiosos e administradores, Nova Friburgo comemorou seu centenário, seu sesquicentenário e agora se prepara para os festejos dos seus 200 anos quando esperamos que, suas banda Euterpe e Campesina, também centenárias, desfilem com a elegância, alegria e imponência de sempre, enaltecendo todas as ações culturais e administrativas que venceram a batalha da preservação de prédios, equipamentos turísticos, locais encantadores, praças, monumentos etc com o firme propósito de nunca mais deixarem que a bela cidade de Nova Friburgo seja cerca por falhas históricas e falta de cidadania.

O que ficou para trás muitas vezes se recupera, mas o que precisamos mesmo é adquirir o hábito da preservação dos bens que têm ou tiveram suas paredes revestidas de fatos pitorescos, pincéis de artistas onde se armazenam memórias que nos fazem voltar no tempo e trabalhos assinados pelo idealismo e fotografados pelas lembranças.

Ao lermos o jornal A Voz da Serra do sábado passado, dia 26, nos chamou atenção a informação de alguns tombamentos. Sentimos que cada palavra escrita tinha a sonoridade da esperança. Terminamos a leitura respirando o ar que vinha do fim do túnel da realização e diante da vontade de chorar, respiramos fundo e falamos baixinho: Que bom. Nossa cidade vai se erguer, produzir mais, participar, criar, compartilhar, se engalanar e preservar seu patrimônio.” Dilva Moraes

 “Acho que devemos procurar preservar o patrimônio histórico da cidade, sem prejudicar os proprietários, é claro. Não adianta tombar um prédio só porque ele é antigo. Afinal, ele pode não ter nenhuma importância histórica ou arquitetônica. Tem que haver um estudo prévio. Alguns imóveis podem ser aproveitados totalmente; outros, basta preservar a fachada. Tudo vai depender da importância histórica e arquitetônica do prédio. Lá no Rio de Janeiro temos exemplos de fábricas que deram lugar a shoppings, como o Nova América e o Boulevard. Mantiveram as fachadas e aproveitaram o interior. Em algumas cidades históricas de Minas Gerais casas foram adquiridas pela municipalidade e se tornaram secretarias da prefeitura ou autarquias municipais. Em suma, deve haver aqui uma análise conjunta entre a Aeanf, os órgãos de preservação histórica e os proprietários.” Nelson Alvarez, engenheiro

“Como leiga, acho ótimo que tombem tudo que for possível. É a nossa única esperança de não virar uma cidade sem história, sem marca, sem charme. Seria muito bom também se junto com os ‘tombamentos’ a Energisa retirasse da praça todos os fios e postes. E a prefeitura retirasse todas as placas, anúncios, propagandas. Aí a arquitetura do local teria outra visibilidade... Quem sabe?” Regina Lo Bianco, fotógrafa

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TAGS: patrimônio público | tombamento | Opiniões
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