Odair J. Comin*
Salvo em alguns casos biológicos e/ou genéticos, a obesidade é uma questão cultural. Aumentar o peso é uma consequência, o que nos faz pensar que precisamos buscar as causas. Sendo a obesidade algo cultural, podemos aferir que aprendemos a ser gordos, assim como a ser magros. Tal aprendizagem ocorre de forma sutil, a começar pela infância. O alimento deveria se prestar apenas para a manutenção saudável do corpo, contudo, o que vemos é que ele extrapola sua função básica, e invade outras searas. Tais como convívio, amor, afeto, suprir a falta, aplacar ansiedade, angústia, recompensa. Por estar triste, por estar alegre, para comemorar. Aprende-se a comer por inúmeros motivos, e isso permanece e se cristaliza com o tempo.
No decorrer da existência, tais costumes ganham vida própria em nosso inconsciente, tornam-se nossas verdades. Na medida em que aceitamos essas verdades, elas agem sobre nós, mesmo sem nossa vontade ou consciência. Para a mente, essa escolha fora tomada em algum momento do passado, e o que ela faz no presente, é simplesmente reproduzir de forma automática. Toda vez que você se encontra em frente a um buffet ou de uma mesa posta, esse padrão se manifesta, toma o controle, age de forma autônoma. O indivíduo até percebe que está exagerando, mas não consegue parar, não é páreo frente à força do padrão. É provável que venha o arrependimento, mas aí já é tarde. Sente-se culpado, se mortifica, o que não passa de uma punição psicológica, pois isso não faz com que mude seu comportamento. Na próxima oportunidade o padrão se repetirá, como um ciclo vicioso.
Na medida em que associamos a comida a diferentes ocasiões, aprendemos a dar valor e a desfrutar tais alimentos, ao prazer do próprio evento. Todos sabem o que é servido na maioria das festas de aniversário, por exemplo. Qual é o padrão que estamos criando desde criança? Aprendemos a gostar do que gostamos, e após aprendermos, isso se torna um padrão e por consequência uma escolha inconsciente. Escolhemos frituras, chocolates, doces, alimentos calóricos e achamos isso natural, fácil de fazer. Enquanto os alimentos saudáveis, não são considerados gostosos, dão trabalho preparar, o que acaba por ficar de fora de nossas escolhas. Isso porque, não aprendemos a gostar, não associamos ao prazer, ao que é gostoso. E nossa mente busca todo tipo de razão para não fazer tal escolha, pois prima pelo padrão já estabelecido, a famigerada zona de conforto.
Para tanto, faz-se necessário a criação de novos padrões, novas formas de se relacionar com o alimento. Ter a clareza de qual é a função do alimento para o corpo. Todo hábito é construído, seja ele saudável ou não. A solução, portanto, é estabelecer padrões saudáveis, que com o tempo se tornarão escolhas inconscientes, automáticas. Uma das melhores formas de viabilizar o estabelecimento de novos hábitos é a hipnose clínica. Por meio da hipnoterapia, e suas diferentes estratégias, chega-se à gênese local onde as aprendizagens são estabelecidas, os padrões são gerados, e as verdades se consolidam. Com tais técnicas, é possível direcionar o pensamento para que faça escolhas saudáveis, condizentes com seus objetivos.
* Psicólogo clínico especialista em hipnose e escritor.
Autor do livro “Mestre das Emoções”.
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