Christian Costa sempre gostou dos filmes antigos e dos mais atuais de surfe, e “pirava nas imagens contemplativas”, nos ângulos diferentes que os cineastas usavam, paisagens, transições de uma tomada para a outra. “Os caras filmavam tudo em super8 ou 16mm, o que me deixava mais curioso, porque a película do filme é diferente do digital. As imperfeições dessa impressão davam todo o charme que sempre me atraiu e me fez estudar sobre o processo e correr atrás de fazer algo parecido. Então, antes de me tornar fotógrafo, eu me sentia um filmmaker analógico, o que, no final das contas, me levava a ser um fotógrafo, levando em consideração que cada frame (fotograma) de um filme é de fato uma foto”.
Desde 1839, quando surgiu o processo fotográfico, criado por Louis Daguerre, passaram-se 177 anos de existência da fotografia, com milhões de profissionais espalhados pelo mundo. Um deles é o nosso entrevistado. É o carioca Christian Costa, morador de Lumiar, distrito de Nova Friburgo, desde novembro de 2002, quando a mãe abriu ali uma pousada. Para esse profissional da arte de eternizar momentos, “o conceito vem antes da qualidade, e essa por sua vez, segue a câmera, lente, filtro etc. As ferramentas que usamos são o que vão dar a qualidade que uma imagem vai ter, mas se a sensibilidade do fotógrafo estiver apurada para registrar, o que foi usado é o que menos importa”. Essa palinha aí foi só um aperitivo da entrevista que vem a seguir. Confira.
Como e quando começou o seu interesse pela fotografia? Você se lembra da sua primeira câmera?
Artes visuais sempre me chamaram atenção. Desde criança eu desenhava e pintava, incentivado pela minha avó, que pintava muito bem. A fotografia veio de maneira natural, mas em forma de filmes de surfe. Sempre gostei muito dos filmes antigos e mais atuais de surfe, pirava nas imagens contemplativas, os ângulos diferentes que os filmmakers usavam, paisagens, transições de um take para o outro. E os caras filmavam tudo em super8 ou 16mm, o que me deixava mais curioso, porque a película do filme é diferente do digital. As imperfeições dessa impressão davam todo o charme que sempre me atraiu e me fez estudar sobre o processo e correr atrás de fazer algo parecido. Então, antes de me tornar fotógrafo, eu me sentia um filmmaker analógico, o que, no final das contas, me levava a ser um fotógrafo, levando em consideração que cada frame de um filme é de fato uma foto. Não lembro da minha primeira câmera. Sei que foi de filme, analógica. Mais velho, já morando em Lumiar, tive uma Zenit 2XL 35mm que ganhei de um amigo meu e cheguei a fazer boas fotos com ela.
E das primeiras fotos, eram paisagens, pessoas, coisas?
Assim como não lembro da primeira câmera, difícil lembrar de quais eram os assuntos, mas acho que paisagens e pessoas deviam me atrair mais. Como disse antes, devido ao gosto pelos filmes antigos de surfe, sempre busquei recriar esses aspectos, e reproduzir a imagem que me tocasse, baseado nas referências que eu tive. Como qualquer artista de qualquer outro segmento, seja na pintura, na música, no artesanato etc.
Qual a diferença entre ver a olho nu e através de lentes?
Ver através das lentes significa apenas ter a ferramenta certa para o registro daquele momento. O “ver” através dos olhos é a verdadeira foto, clicamos com a nossa retina e a impressão fica guardada na gaveta da nossa mente. Essa é mais complicada de mostrar para os amigos ou postar no Instagram. Pensando assim, somos todos um pouco fotógrafos.
O que lhe importa mais, conceito e qualidade, ou câmera e filtro? Ou tudo junto, aproveitando as novas possibilidades que surgem?
Creio que o conceito vem antes da qualidade, e essa por sua vez, segue a câmera, lente, filtro etc. As ferramentas que usamos são o que vão dar a qualidade que uma imagem vai ter, mas se a sensibilidade do fotógrafo estiver apurada para registrar, o que foi usado é o que menos importa. Vejo muitas fotos boas por aí que foram tiradas com câmeras de celular de 5 megapixels. E tem muita gente usando câmeras de última geração pra gerar imagens que não me tocam.
O que você pensa sobre todas as facilidades que as novas ferramentas tecnológicas trouxeram para o exercício da atividade, seja profissional ou amador? Hoje, qualquer um de nós pode ser fotógrafo, ainda que apenas do cotidiano, em casa, nas ruas...
A facilidade que temos nas mãos hoje em dia transformaram qualquer um em possíveis fotógrafos. Tenho amigos de profissão que descobriram seus talentos devido ao simples fato de ter um celular fotografando como pontapé inicial. Antigamente, os recursos eram mais restritos e acredito que muitos bons possíveis fotógrafos deixaram de existir pela dificuldade do acesso a um equipamento de registro e impressão. Claro que eu, por exemplo, quando criança, não tinha uma câmera nas mãos e minha vontade de mostrar imagens seguia o fluxo do desenho... Pra minha sorte, sempre tive a facilidade de desenhar, mas e quanto a quem não tinha?
Pois é, essa multidão de “eu-repórter”, de selfies etc, interfere no mercado de trabalho dos profissionais?
Por toda essa facilidade na descoberta de talentos fotográficos, hoje em dia temos muitos fotógrafos atuando no mercado. Mas o número de “apertadores de botão” é ainda maior. “Apertadores de botão”, eu gosto de chamar assim os empolgados, os modistas, aquele que está trabalhando simplesmente porque um dia fez uma foto bonitinha com o celular e achou que levava jeito. É o que falei aí antes: talentos fotográficos se descobrem mais facilmente hoje em dia graças às câmeras de celular, mas só com talento não se ganha o pão... A curiosidade, o estudo aprofundado das técnicas existentes, conhecer o seu equipamento e os que estão disponíveis por aí, o aperfeiçoamento, sair e praticar... Essas coisas definem as diferenças entre um fotógrafo e um apertador de botão.
Você se considera um fotógrafo mais técnico, mais intuitivo, mais pesquisador, mais captador de “almas”, enfim, mais... o quê?
Acho que sou mais intuitivo. Gosto de clicar quando sinto. Não costumo sair com a câmera no pescoço todos os dias pra registrar tudo que vejo... tem coisas que prefiro fotografar com os olhos e guardar pra mim. São meus momentos.
Estão aí, disponíveis, Instagram, cópias, bancos de imagens, uma infinidade de imagens. Até que ponto essas vitrines promovem o trabalho dos fotógrafos, ajudam na divulgação de seus nomes?
Junto com toda a facilidade de se fotografar hoje em dia, era de se esperar que tais vitrines surgissem. É natural. Um rio só existe por que lá em cima a nascente está jorrando água. Não fosse por esse caminho de escoar essa água, tudo em volta dessa nascente se afogaria. Imagina um mundo onde só se constroem automóveis, mas não existem ruas ou estradas para esses veículos andarem. É mais ou menos isso que acontece, hoje, com a fotografia. As pessoas fotografam para mostrar, seja por gosto ou por vaidade, e as vitrines estão aí para suprir esses desejos de exposição.
Você se inspira ou admira algum fotógrafo em particular?
Alguns vários artistas me inspiram, mas muito do meu trabalho vem de referências dos filmes de surfe que me fizeram começar a registrar. “Sprout”, de Thomas Campbell, por exemplo, é a minha maior referência. Um belo filme. Recomendo.
O que mais lhe gratifica nessa profissão?
Acho que o mais gratificante é poder registrar um momento que gerou em mim a vontade de clicar, e poder apreciar esse momento por mais tempo, compartilhar com as pessoas que eu gosto, porque, não fosse pelo registro da câmera, ele só existiria pra mim.
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