Eloir Perdigão
Por ocasião da palestra que proferiu na noite de terça-feira, 28, no Nova Friburgo Country Clube, promovida pelo Rotary Clube Imperador, o ex-prefeito de Gramado-RS, Pedro Bertolucci, concedeu entrevista a este jornal, quando abordou questões do desenvolvimento turístico de sua cidade, a conjugação de esforços da sociedade que apostou nesse setor e o sucesso alcançado, fazendo 90% da economia de Gramado girar em torno do turismo. A cidade da Serra Gaúcha é atualmente o terceiro destino turístico mais desejado do Brasil. Cauteloso, não apontou caminhos para Nova Friburgo, porém, frisou o grande mercado emissor existente bem próximo, a cidade do Rio de Janeiro, que deve ser levado em conta quando o assunto é turismo.
A VOZ DA SERRA – Como foi para o senhor ser prefeito e depois sair falando de Gramado Brasil afora?
Bertolucci – Na verdade, são quatro momentos bem diferentes um do outro. Eu fui prefeito quatro vezes, durante 18 anos. O primeiro período foi completamente diferente do último. Porque numa Prefeitura temos que estar pelo menos correndo do lado, não podemos ficar atrás, buscando informação, atualizando, mecanizando e trazendo informações novas para dentro da prefeitura. E eu fiz exatamente isso. Na primeira administração eu fiz o foco, arrumamos, fiquei seis anos, depois saí, continuei aquele trabalho que já tinha deixado os resquícios fortes lá atrás, e depois peguei os últimos oito anos que foram realmente a complementação de tudo aquilo que havia começado. É um trabalho árduo, que começa na raiz da sociedade. Se não tiver a sociedade consigo, não existe prefeito que dê certo. Na minha concepção, pelo menos.
AVS – Como o senhor fez: foi para a rua ou chamou o povo para dentro da Prefeitura?
Bertolucci – Eu diria que isto está um pouco no DNA da nossa sociedade. O gramadense tem um pouco desse espírito participativo, comunitário, e isto indiscutivelmente ajudou nesse trabalho que se fez. Nós invertemos um processo: trabalhávamos muito o verão, na época, por causa da hortênsia, que floresce no verão, evidentemente, e nós passamos a trabalhar o inverno, o frio. Este passou a ser e é o nosso grande negócio. Hoje o frio é sinônimo de Gramado, criamos associações importantes do frio com Gramado, artesanato com Gramado, criamos grifes em cima desse assunto para promover um produto chamado Gramado.
AVS – A alta temporada passou a ser o frio?
Bertolucci – O frio. E nós tínhamos uma temporada muito ruim, muito baixa, que era o mês de dezembro, e criamos um evento chamado Natal Luz, hoje disparado o maior evento que temos, que põe um milhão de pessoas todo ano lá, e já não é mais um dia, como foi a primeira versão, mas acontece durante 60 dias. É um evento que mexe muito com as comunidades, é a época do espírito natalino, em que estamos mais sensíveis e o Brasil inteiro tem acompanhado. É uma cidade pequena, somos 33 mil habitantes, mas recebemos um milhão de turistas por ano. Nossa economia vive e depende disso.
AVS – E o senhor acha que uma cidade como Nova Friburgo, que o senhor conheceu um pouquinho, tem condições de seguir mais ou menos esse trabalho que o senhor desenvolveu em Gramado?
Bertolucci – Eu tive dois grandes anfitriões aqui: o Henrique e o Ângelo. Foram bons parceiros, me mostraram a cidade, claro, que em pouco tempo para eu ter uma ideia. Mas percebi algumas coisas. Você tem um centro emissor muito grande aqui do lado, que é o Rio de Janeiro. Isso só já é um ponto positivo. Nós não temos um Rio de Janeiro do lado.
AVS - Trabalhar o Rio de Janeiro vale a pena?
Bertolucci – Com certeza. Aqui vocês têm o frio, um apelo muito forte. É preciso criar condições para isso. Ninguém vai a lugar nenhum se não tiver uma razão para ir para lá. Tem que se criar essa razão.
AVS – Foi divulgado que o senhor criou 300 projetos. Qual foi o primeiro ou o mais importante?
Bertolucci – Eu acho que foi o conjunto. Nós fizemos trabalhos muito interessantes. Grandes e pequenos. O Natal Luz é muito grande, mas que começou com uma procissão. Como em tantos lugares, começou com uma caminhada com lanternas. E transformamos nesse grande evento. O importante de tudo isso é você não ficar na zona de conforto. Muitas cidades fizeram e fazem até hoje a sua caminhada de lanternas. Mas nós fomos buscar coisa melhor, buscamos um evento de corais e mais tarde passamos a ter um evento que reúne um milhão de pessoas. Levamos o Joãozinho Trinta daqui para fazer um desfile para nós. A inovação, a procura pelo melhor é sempre uma conquista.
AVS – Procurar sempre mais deve ser permanente?
Bertolucci – Este é o ponto determinante para o sucesso. Começamos lá com o clima, por causa da vegetação forte, mas não nos acomodamos naquele clima bom que tínhamos lá em cima. Buscamos, dentro da área da saúde, a terapia natural, o banho de lodo e hoje temos o quinto melhor SPA do mundo. É uma evolução que está se buscando. O empresário e a sociedade não ficaram em berço esplêndido, esperando que as coisas acontecessem. Não adianta ter uma cascata muito bonita se não houver o complemento para que essa cascata seja melhor. Ela não vai sair dali, mas o entorno não vai funcionar.
AVS – Se o senhor fosse prefeito de Nova Friburgo, por onde começaria?
Bertolucci – Vai ser difícil dar um palpite e eu nem gosto de fazer isto. É verdade que eu conheço tão pouco a cidade e eu seria assim até desrespeitoso com o prefeito. Até porque, não sei quais são os problemas da cidade, mas eu certamente — uma coisa que dá resultado em qualquer lugar — é criar a autoestima do povo. Se ele tiver autoestima, o resto todo vai atrás.
AVS – Nós já estamos trabalhando um pouco o frio, já temos o Festival de Inverno, já é um começo?
Bertolucci – Eu acho que sim. O frio é um bom apelo. Como eu disse antes, vocês têm aqui um centro emissor bom, o Rio de Janeiro, que é quente, e vocês aqui em cima são a parte mais fria. E pensar sempre na região, ninguém vai para uma cidade sozinha, vai procurando uma região. Eu acho que vocês têm um conjunto na região bem interessante, que vale a pena trabalhar junto.
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