Seguidas vezes A VOZ DA SERRA tem abordado a questão das bicicletas nas calçadas, mas parece que não há solução. Os ciclistas continuam pedalando nas calçadas e os pedestres continuam reclamando. As matérias a respeito se sucedem – a última foi no dia 22 de abril – sem que se vislumbre um final feliz.
Não têm sido poucas as queixas contra ciclistas nas calçadas, devido ao risco de acidentes, em função da velocidade, às vezes excessiva. Mas também há de se destacar a situação bastante adversa dos ciclistas em Nova Friburgo. Se já não é boa para os motoristas, com o número crescente de veículos circulando pelas mesmas ruas da cidade, imagine-se então a situação dos ciclistas, que têm que fazer milagre para não virar sanduíche no catastrófico trânsito friburguense.
Através do Fale Conosco do site de A VOZ DA SERRA, Willian Inoue Rodrigues enviou e-mail concordando com os ciclistas que circulam pelas calçadas. E pergunta: “Cadê a ciclovia? Por que a Prefeitura não constrói ciclovias para os ciclistas. Vocês querem que os ciclistas andem junto com os carros?”. Willian termina solicitando atenção especial para os ciclistas, “que podem ser um de seus filhos ou parente e que correm riscos de atropelamento”.
Há 40 anos era bem diferente
Em plena Praça Getúlio Vargas um antigo ciclista da cidade estava sentado num banco, descansando, numa dessas belas tardes de sol. E a bicicleta estacionada, no descanso. Era Jamil Abbud, que anda de bicicleta há mais de 40 anos em Nova Friburgo. Num papo bem-humorado, Jamil, de 62 anos, operador cinematográfico aposentado e residente na Vila Nova, disse que o maior problema não está no centro da cidade, mas no eixo rodoviário urbano, com muitos caminhões e carretas.
Jamil não esconde que de vez em quando anda pelas calçadas, mas só se não houver outro jeito. “Ciclista tem mesmo é que andar na rua”, enfatiza. Porém, ele conta que lá uma vez ou outra se sente “arrochado e apertado pelo trânsito” e só resta a ele subir na calçada, principalmente nas avenidas do eixo rodoviário urbano, que integra a RJ-116.
O veterano ciclista usa sempre a ciclovia da Avenida Galdino do Valle Filho, aquela faixa vermelha (já meio desbotada) na calçada à beira do rio. Ainda bem que tem essa ciclovia, porque, segundo Jamil, “aquela avenida é terrível”. Outra calçada que ele usa é a da Avenida Presidente Costa e Silva, em frente ao Sesc. Isto porque, além do trânsito intenso e de veículos pesados, é pouca utilizada por pedestres. Assim, ele vai pedalando devagar, com cuidado, por aquela calçada praticamente deserta. E quando aparecem pedestres, ele desce e vai empurrando a bicicleta. “De qualquer forma estou me exercitando”, comenta, bem-humorado.
Já no centro da cidade Jamil pedala sua bicicleta sem problemas nas praças Getúlio Vargas e Dermeval Barbosa Moreira e Avenida Alberto Braune. Quando se sente cansado, senta no banco da praça e estaciona a bicicleta. Enquanto descansa, repara e fica analisando como Nova Friburgo está à beira do colapso no trânsito. “Vão vendendo carros e as ruas são as mesmas. Já está havendo filas dupla e tripla e só piora. Vai chegar um ponto que vai parar tudo de vez. Ou o pessoal passa a andar a pé ou volta a andar de bicicleta” (risos).
‘Prudência e canja de galinha não
fazem mal a ninguém’
E já que muitas vezes fica impossível ao ciclista circular pela rua, o jeito é andar na calçada, mas com muita prudência, cuidado, devagar, para que não deixe de ser atropelado na pista e se torne um atropelador na calçada. Esta é a opinião de três ciclistas que admitem andar na calçada, não por vontade própria, mas, muitas vezes, para salvar a própria pele.
Sebastião Cardoso Severiano, 55 anos, residente em Cachoeiras de Macacu, é ciclista de competição, patrocinado por uma loja de bicicletas em Nova Friburgo, onde está três ou quatro vezes por semana. Detalhe: cruza a serra de bicicleta sem problemas. Mas garante que é só chegar à cidade e ser prejudicado pelos veículos.
“Tem hora que tem que pular fora”, afirma Sebastião, alegando que muitas vezes não dá para competir com os veículos nas ruas, pois é um grande risco andar sobre duas rodas no trânsito intenso de Nova Friburgo.
Porém, quando Sebastião é forçado a andar nas calçadas se sente constrangido. “Para a gente que é atleta, que dá um bom exemplo para os jovens, não deixa de ser um contra-senso, mas temos que pular fora porque não dá, senão morre”. Mas ele garante que desce e empurra a bicicleta na calçada para evitar acidentes, principalmente com crianças e idosos. “Nós, na rua, somos ameaçados, e na calçada, ameaçamos os pedestres. Por isso é melhor descer e empurrar a bicicleta do que agredir um ser humano na calçada, porque seremos prejudicados, pois lugar de ciclista é mesmo na rua. Mas na rua seremos atropelados... É... Nova Friburgo está mesmo um caos”, declara.
Valcirnei Coelho do Couto, 34, jardineiro, Bela Vista, também salienta que é difícil enfrentar o trânsito complicado de Nova Friburgo e se vê obrigado a andar na calçada muitas vezes. Mas quando Valcirnei circula pelas calçadas sabe que não é um procedimento correto. Por isso anda devagar, com cautela, respeitando as pessoas e dando-lhes preferência para não atropelar ninguém. Ele diz que um grave problema são ciclistas na calçada que passam correndo.
Opinião semelhante tem Alvarino Francisco Combat, 61, carpinteiro, também do Bairro Bela Vista. Ele admite que anda na calçada, mas bem devagar, com cuidado. Muitas vezes pára, deixa as pessoas passarem, diferente de garotos que passam correndo.
Alvarino tem consciência de que andar de bicicleta na calçada não é correto, mas, devido ao trânsito intenso, assim faz, porém, bem devagar, olhando bem para não atingir ninguém, que são cuidados importantes. Desde que o ciclista ande devagar, ele não vê problemas. “Eu sou uma pessoa de responsabilidade, sei o que estou fazendo. Andando devagar, com cuidado, evita-se que outra pessoa sofra um acidente”, atesta.
Alvarino garante que quando se depara com muita gente na calçada, desce e empurra a bicicleta. E não fica calado quando encara alguém de bicicleta correndo na calçada e os repreende. Afinal, todos devem colaborar para não prejudicar quem anda devagar.
Deixe o seu comentário