Paulo Langer é mais conhecido em Nova Friburgo por seu trabalho como psicólogo público há mais de 20 anos. Mas para os aficionados por quadrinhos no Brasil ele é o Paulo Langer dos Quadrinhólatras — um grupo do Facebook e que se tornou um dos movimentos mais consistentes do meio, unindo fãs, artistas, editores e curiosos. E que teve início em Nova Friburgo, na banca de jornal de seu amigo Halph Jandre, conquistando rapidamente a simpatia de muitos.
Paulo revela que sua paixão por quadrinhos começou ainda na infância. Antes mesmo de aprender a ler, ele já gostava de ter os gibis por perto. “Meus pais sempre incentivaram os filhos nas artes e na leitura, especialmente de quadrinhos. Lá em casa, todos ficaram encantados, e sonhavam em fazer seus próprios gibis. Infelizmente não pude ainda realizar esse sonho, mas acabei me tornando um leitor compulsivo”, disse, acrescentando que a coleção que possui é apenas uma consequência desse hábito.
“Mas entendo que isso [a coleção] não foi a única coisa boa que aconteceu — a inserção de valores, o aumento da capacidade cognitiva, as amizades... Tudo isso nos melhora como seres humanos, e as histórias em quadrinhos também possibilitam esse crescimento. Isso justifica essa ideia que tenho em disseminar essa paixão das pessoas pelos quadrinhos. Quando um povo lê mais, as transformações ocorrem mais rapidamente”, pondera ele.
De acordo com Paulo, hoje em dia não dá para precisar qual é a coleção mais valiosa, pois nem sempre a mais numerosa contém os itens mais raros. Mas existem muitas coleções numerosas no Brasil. A de Paulo é uma delas, ocupando quase um cômodo da casa. “Grandes colecionadores optam por determinadas publicações, e suas coleções parecem extraídas de sonhos. E por conta da amizade que fiz com a maioria desses colecionadores, pude conhecer alguns desses tesouros”, diz Paulo.
E ele continua: “Uma coisa legal que acontece muito comigo é que estou sempre ganhando muitos quadrinhos — os que não tenho ficam pra mim, os outros presenteio a algumas pessoas carentes que atendo ou acompanho e também aos meus amigos. O importante é fazer essa paixão girar”, vibra. E foi com esse objetivo, motivado pelas animadas discussões que aconteciam na banca de jornal do Halph Jandre, na Praça Getúlio Vargas, que Paulo criou em 2012 no Facebook a página “Os Quadrinhólatras”.
“Pensamos em levar isso para a rede social, e rapidamente fomos conquistando integrantes de todo o mundo, fãs, artistas e editores que interagem o tempo todo”, contou, acrescentando que a coisa cresceu tanto que hoje “Os Quadrinhólatras” já conta com mais de dez mil integrantes, distribuídos em dois grupos e duas fanpages. “Tudo isso sob a premissa do amor pela nona arte, e num clima de cordialidade e respeito mútuos, o que é um diferencial nosso em relação a outras páginas que abordam o tema”.
Seu conhecimento, envolvimento e fascínio pelas histórias em quadrinhos renderam ao Paulo o convite para participar recentemente da primeira edição da Flinf – Festa Literária de Nova Friburgo, numa mesa redonda sobre o assunto. Com o tema “A Linguagem dos Quadrinhos”, o encontro também teve a participação dos jornalistas Paulo Henrique Ferreira e Diego Aguiar Vieira, que é ainda escritor e roteirista. Paulo gostou do evento e da experiência.
“Pra começar, a Flinf mostrou uma vez mais o potencial de nossa região para pensar grande e realizar grandes sonhos. Achei tudo muito bem organizado, e com a presença de pessoas realmente promissoras para nosso meio, e no incremento cultural, especialmente de nossa cidade. Algo em torno dos quadrinhos é perfeitamente possível de ser realizado por aqui. E se depender de minha ajuda, em tudo vou colaborar para um evento tão bom quanto este”, comentou.
Embora grande parte dos quadrinhos pareçam ter sido escritos e desenhados para adultos, esta é uma arte muito associada à literatura infanto-juvenil. Por isso, não é raro quem gosta de gibis passar por algum tipo de preconceito. Mas Paulo não se importa. “Leio em todo lugar — no banco, na fila, no ônibus... Vez ou outra escuto algum gracejo ou percebo alguém me olhando, mas acho graça. Espanto não me causa, já que vivemos em um país em que a maioria das pessoas não gosta de ler nem outdoor...”, observou.
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