Parque Maria Tereza: a longa espera pela contenção de encostas

quarta-feira, 31 de dezembro de 1969
por Jornal A Voz da Serra
Parque Maria Tereza: a longa espera pela contenção de encostas
Parque Maria Tereza: a longa espera pela contenção de encostas

Henrique Amorim

Localizado a cerca de dez quilômetros do Centro, o Loteamento Parque Maria Tereza, no distrito de Conselheiro Paulino, bem se assemelha a um condomínio residencial. Tinha até um pórtico em seu acesso pela RJ-148 (Nova Friburgo-Carmo), que já não existe desde a tragédia das chuvas de 2011. Aliás, aquele triste episódio deixou fortes sequelas no aprazível recanto onde residem pouco mais de duas mil pessoas em cerca de 700 imóveis: pelo menos seis casas foram atingidas por deslizamentos de encostas. Duas moradoras morreram, nas ruas Luiz Carestiato e P-Y. Alguns desses imóveis foram totalmente soterrados e nos locais devastados pelas avalanches as cicatrizes já começam a se apagar camufladas pelo crescimento da vegetação. Mas na memória dos vizinhos o episódio de 12 de janeiro de 2011 parece ter acontecido ontem. 

"A cada verão, toda vez que chove forte todo mundo aqui naturalmente fica apreensivo. Não sabemos se novos deslizamentos poderão ocorrer, atingindo mais casas. O mato já encobriu muitas encostas afetadas”, observa Jorge José Camilo, atual presidente da Associação de Moradores do Parque Maria Tereza e um ferrenho defensor do loteamento. No cargo, ele admite já ter feito o dever de casa: protocolou diversos pedidos de obras de contenção na Prefeitura e até no Ministério Público. Ciente da burocracia que envolve este tipo de serviço, dependente ainda de recursos federais ou estaduais, Camilo tem esperança de que as obras tornem-se realidade algum dia. Ele cita também a necessidade de desobstrução de algumas canaletas que captam águas de nascentes, auxiliando o processo natural de drenagem do loteamento, que é bastante íngreme. 

Muitas das tais canaletas foram construídas por conta da fundação do loteamento nos idos dos anos 1970 ainda com a intenção de criar um condomínio no local e acabaram sufocadas com a terra trazida pelas avalanches em 2011, principalmente as existentes nas ruas Luiz Carestiato e Zuleika Ramos de Valença. A necessidade de um novo recapeamento asfáltico é outra solicitação recorrente dos moradores do Parque Maria Tereza. "O asfaltamento das ruas ocorreu em 2002 e de lá para cá nem sequer houve recapeamentos. O resultado é esse. A capa de asfalto sobre o calçamento de paralelepípedos está desaparecendo e surgindo buracos”, destaca um dos mais antigos moradores dali, Jabes Monteiro, que se diz orgulhoso do lugar que escolheu para morar há 34 anos. 

A tranquilidade é, sem dúvida, uma característica do loteamento, que é bem cuidado pelo encarregado da Secretaria Municipal de Obras, Oséas Gonçalves da Rosa. Ele comanda dois funcionários fixos que cuidam com carinho da limpeza e capina das ruas. A pracinha do loteamento — em frente à capela de Santa Luzia — e até hoje ainda sem um nome, encanta pelo capricho. Até os canteiros são bem tratados e a turma do Oséas se preocupa até em abastecê-los com terra para o melhor crescimento das folhagens. Um ecoponto instalado na pracinha estimula os moradores à coleta seletiva do lixo. 

Apaixonado pelo lugar, Oséas nos conta até mesmo quem é a tal dona Maria Tereza que dá nome ao loteamento: "Era uma austríaca, mulher de um militar chamado Castelo Branco, que era o dono destas terras onde havia uma granja e depois a exploração de eucaliptos. Só depois de muito tempo, o lugar começou a ser loteado e foi batizado com o nome dela”.  

 

 

O morador Jabes e o presidente da associação de

moradores, Jorge Camilo: boa estrutura para o lazer e

a confraternização entre moradores e amigos do Maria Tereza 


Loteamento conta até com um complexo de lazer da associação de moradores, mas quadra requer reparos 


Os moradores do Parque Maria Tereza podem se orgulhar por possuírem opções de lazer no próprio loteamento. E como a comunidade é pequena, todos se conhecem e periodicamente se confraternizam com churrasco e até uma famosa costela na brasa, que reúne moradores e convidados na sede da associação de moradores. O local dispõe de um complexo de lazer com sauna, espaço para jogos, bar, cantina e sala para eventos. Ao lado, uma quadra poliesportiva atrai crianças e jovens para torneios, mas o local, construído com recursos federais, carece de investimentos. Os refletores estão sempre queimando, o piso de concreto precisa ser refeito e os gradis bastante enferrujados expõem os frequentadores ao perigo. 

O presidente da associação de moradores, Jorge José Camilo, conta ainda já ter oferecido à Prefeitura a cessão de um terreno para construção de uma nova creche mais ampla no loteamento em substituição a já existente, a Edith dos Santos, que funciona numa casa da associação junto à quadra de esportes. Muito próximo a uma encosta, o imóvel tem umidade e o mofo prejudica alguns alunos. A ampliação da Escola Municipal Pastor Schlupp, que atende crianças do 1º ao 5º anos do ensino fundamental, é outro desejo da comunidade já também manifestado à Secretaria Municipal de Educação. 

Os ônibus que ligam o Parque Maria Tereza ao Centro são outra queixa recorrente dos moradores. Os intervalos de 35 minutos entre as saídas quase sempre não são respeitados e a justificativa da Faol é o congestionamento no trânsito no eixo Conselheiro Paulino-Centro. Para tentar minimizar o problema, a associação de moradores tem reunião agendada com a concessionária no próximo dia 25. 

 

Na Rua P-Y, casas atingidas por deslizamentos dão mau aspecto logo no

acesso ao loteamento. Obras de contenção já foram solicitadas até à Justiça

 

O loteamento teve seis casas atingidas na tragédia de 2011. Esta, na Rua

Luiz Carestiato, foi reduzida a escombros e o cenário é de abandono total 


As ruas e jardins do loteamento são muito bem cuidados por um encarregado 

da Secretaria de Obras. O Maria Tereza pode se orgulhar de possuir

dois funcionários fixos, que garantem a manutenção urbana

   

Estimulando a coleta seletiva, um dos ecopontos do Maria Tereza fica

bem em frente à Capela Santa Luzia, que tem missas todos os sábados  

 

Canaletas completamente assoreadas por terra trazida por deslizamentos

e hoje já encobertas pelo mato impedem que a captação das águas de

nascentes seja feita. Quando chove, o risco de deslizamentos aumenta 





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