Parque Imperial: até quando um ‘parque’?

quarta-feira, 31 de dezembro de 1969
por Jornal A Voz da Serra
Parque Imperial: até quando um ‘parque’?
Parque Imperial: até quando um ‘parque’?

Fotos: Lúcio Cesar Pereira


Parque:

[Do fr. parc] s.m. jardim público arborizado.

(Dicionário Aurélio)

(s.m) terreno amplo e arborizado, destinado ao lazer e à recreação; região natural posta pelo governo sob sua proteção legal afim de preservar sua fisiografia, fauna e flora.

(Aulete)

(s.m) jardim extenso; área verde de uso particular ou público

(Silveira Bueno)


O Parque Imperial fica localizado no acesso ao bairro Varginha. Suas principais características são a quase onipresente vegetação, a tranquilidade — poucas pessoas são vistas transitando pelas ruas — e as ótimas casas. Praticamente não existem edifícios no bairro. Mas nem tudo são flores. Além de conviverem com o péssimo estado do asfaltamento e a falta de calçadas, os moradores estão preocupados com um problema muito grave: o constante desmatamento, seja através de queimadas criminosas ou a derrubada de grande parte da mata nativa. E lógico, a inevitável especulação imobiliária. 

Pouco afetado pela tragédia de 2011, o bairro aumentou a sua fama de "bom lugar para se morar”. Muito procurado pelos chamados "veranistas” — geralmente cariocas que ali construíram suas casas de fim de semana entre as décadas de 1950 a 1970 —, o Parque Imperial se tornou um bairro nobre e, consequentemente, um lugar de imóveis com valores mais altos. Isso, é claro, acaba por despertar interesses. 


RESERVA CHICO MENDES

Localizada em um dos pontos altos do bairro, a Reserva Chico Mendes mostra hoje possuir uma situação complicada. Apesar de carregar o nome do seringueiro que lutou pela preservação do meio ambiente na segunda metade do século passado, a área passa hoje por problemas como desmatamento e queimadas, o que é claramente visível para aqueles que vão ao local. Algumas casas já começam a aparecer, materiais de construção já fazem "parte da paisagem” e lotes já estão sendo vendidos: "pago IPTU do meu terreno”, garante um dos proprietários que pôs à venda o bem de 500 m².

Vale registrar que, durante a realização desta reportagem, foi possível ouvir o barulho de serras ao longe. 

 

 

Moradores temem que a Reserva Chico Mendes não sobreviva ao desmatamento

Moradias também estão sendo construídas no local


RUA DOM PEDRO I

Apesar da falta de um calçamento adequado, a Rua Dom Pedro I é uma via que possui belíssimas casas e moradores bastante unidos. André Oliveira — que mora na localidade há mais de dez anos — diz que o único problema de morar ali está relacionado à infraestrutura. "Eu adoro morar nessa rua, aqui todo mundo se conhece e é muito tranquilo, não tem perigo nenhum. Mas essa questão da falta de calçamento é um grande problema ainda, já deveria ter sido resolvido”.

Mas, atualmente, há um problema mais grave, que anda ameaçando a paz de alguns moradores da via. Acima da Dom Pedro I existe uma mata onde, em seu topo, encontra-se a Travessa João Alexandre de Moura — logradouro que já faz parte do bairro vizinho,  Varginha —, local onde está sendo realizado um desmatamento — e, aparentemente, uma terraplanagem. A terra que sobra está sendo jogada morro abaixo, colocando em risco diversas casas do Parque Imperial. 

Segundo Cláudia Coelho, moradora da Rua Dom Pedro I há 13 anos, tudo começou há aproximadamente duas semanas. "A gente aqui na rua estava ouvindo uns barulhos de máquinas, caminhões, vindos lá de cima. Um morador foi até a Travessa João Alexandre de Moura para constatar o que era e deparou-se com uma obra, na qual os trabalhadores estavam jogando caminhões de terra nessa mata que existe em cima da minha casa. Além disso, essa obra está irregular, o morador pediu os documentos e eles disseram não ter.”

A situação é realmente preocupante. Com a ação das chuvas, é provável que a quantidade de terra jogada dentro do pequeno bosque desça e atinja as casas da Rua Dom Pedro I. Os moradores da via já tentaram tomar providências, segundo conta Cláudia. "Já foi feita uma denúncia pelo morador, que notificou a Defesa Civil e a Secretaria de Meio Ambiente, que já está ciente da situação.” Apesar de as autoridades terem sido avisadas, ainda não se sabe o nome dos responsáveis por depositar a enorme quantidade de lama no local.

A ação das duas últimas chuvas — uma na tarde do último domingo, 2, e na última quarta, 5 — preocupou os moradores que, inclusive, já esperavam um deslocamento, segundo Cláudia. "As chuvas também trazem muito medo para a gente. Eu moro aqui com minha filha recém-nascida e fiquei em pânico no domingo. A gente já até esperava que isso fosse acontecer, mas não tão rápido. A lama invadiu nosso terreno e depois ainda deixou a rua totalmente inacessível.”

Ainda sobre a situação, a habitante que teve sua casa invadida comentou: "Essa situação afeta todo mundo que mora na rua, nós temos a preocupação de que esse barranco se desprenda e invada as casas. Queremos ter a tranquilidade que a nossa rua sempre teve, a gente não quer precisar ter que sair daqui”.

A nossa reportagem enviou, quarta-feira, 5, um e-mail para a Secretaria de Comunicação, pedindo informações sobre o caso descrito pelos moradores da Rua Dom Pedro I. No mesmo dia recebemos a seguinte resposta: "A Defesa Civil informou que esteve nos dois locais atendendo às solicitações de vistoria. Em ambos os casos não haviam Placas de Responsável Técnico. Com isso, não foi possível emitir notificação, nem solicitar documentação que comprovasse autorização dos serviços por parte dos órgãos públicos, pois não havia responsáveis nos locais. A Defesa Civil alertou os moradores dos imóveis vizinhos sobre o risco, mas ainda não há necessidade de interdição. As ocorrências foram encaminhadas para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Inea, para providências cabíveis com a urgência que o caso requer.”

Ainda no mesmo dia, voltamos a entrar em contato com a Secom, solicitando, então, que a Secretaria de Meio Ambiente fosse questionada sobre o problema e perguntando quais as providências o órgão havia tomado, uma vez que a Defesa Civil havia afirmado já ter encaminhado as ocorrências a essa secretaria. Até o fechamento desta edição, não obtivemos resposta.  

 

   

A terra jogada na Rua Dom Pedro I veio do corte deste barranco na Travessa João Alexandre de Moura


OS MORADORES FALAM

Os moradores do Parque Imperial entrevistados pela reportagem de A VOZ DA SERRA fizeram diversas reclamações sobre as condições em que o bairro se encontra atualmente. Serviços como abastecimento de água, iluminação pública e coleta de lixo não foram alvos de queixa. Segundo os moradores, a comunidade é bem atendida nesses setores. Porém, eles acreditam que ainda há muito a ser melhorado.

A aposentada Maria de Fátima — que mora há mais de dez anos no Parque Imperial — disse que os maiores problemas do bairro são os horários de ônibus, o estado das ruas e também a falta de comércio. "As maiores dificuldades de se morar aqui pra mim são essas. O ônibus tem dia que atrasa mais de quarenta minutos, a gente fica mais de uma hora no ponto esperando. Sem contar que as calçadas do bairro são muito ruins, são estreitas e difíceis para andar. Outra coisa muito complicada é a falta de comércio, é preciso ir a Varginha para poder fazer compras”, reclama ela. 

Residente da Alameda do Lago, Janete Carriello foi criada no bairro, onde mora há mais de 40 anos, e reclama de vários pontos que dificultam a vida de quem vive no  Parque Imperial. "O que vejo de mais grave aqui é a falta das calçadas. Tem muitos carros que passam aqui em alta velocidade, e os pedestres ficam em uma situação muito difícil. Às vezes a gente tem que andar no próprio asfalto. Fora isso, a gente passa um sufoco para poder fazer compras, pois o bairro não tem nenhum comércio”, comenta a moradora, que também aponta os atrasos do ônibus, a falta de capina, fazendo com que o mato invada as ruas de todo o bairro. 

Outro morador, Joacir Loyola, reclamou também do péssimo asfaltamento, da falta de um posto de saúde e do atendimento do serviço de transporte público. Como vantagens de morar no Parque Imperial, Joacir falou da tranquilidade, pois raramente ocorrem assaltos, roubos ou demais ocorrências no bairro. 

 

A falta de calçamento é o principal problema apontado pelos moradores

André Oliveira diz que o único problema do bairro é de infraestrutura, como a falta de calçamento

 

A falta de calçadas no Parque Imperial põe em rico a vida dos moradores, que são obrigados a andar no asfalto



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